Regiões favoráveis à vida

A recente descoberta do exoplaneta Gliese 581 c, o terceiro planeta da estrela anã vermelha Gliese 581, situada a cerca de 20 anos-luz da Terra, parece ser o primeiro exemplo de planeta extrassolar em uma zona habitável.

Em astronomia, uma zona habitável, também denominada zona da vida ou faixa verde, é uma região do espaço onde as condições são favoráveis ao aparecimento da vida. Existem dois tipos de regiões que podem ser favoráveis à vida: uma se refere à sua posição no sistema planetário e a outra, à sua localização na galáxia. Os planetas e satélites situados nestas regiões são candidatos em potencial a desenvolver uma civilização extraterrestre. No nosso sistema solar, a zona habitável se estende de uma distância de 0,95 a 1,37 unidade astronômica.

Os astrônomos acreditam que a vida é possível numa zona habitável circunstelar situada no interior do sistema planetário e de uma outra zona habitável galáctica situada no interior de uma galáxia.

Zona habitável circunstelar

A zona habitável circunstelar (ou ecosfera) é uma esfera teórica que envolve uma estrela e onde a temperatura da superfície dos planetas ou satélites que orbitam no interior desta zona permite a presença de água líquida. Todos os astrônomos acreditam que a água em estado líquido é vital ao desenvolvimento da vida, em virtude do seu papel nas reações bioquímicas.

Em 1959, os físicos Philip Morrison (1915-2005) e Giuseppe Cocconi (1914- ) descreveram uma zona na qual seria possível existirem seres extraterrestres. Em 1961, o astrônomo norte-americano Frank Drake (1930- ) desenvolveu uma equação que permitia estabelecer a possibilidade de vida no planeta.

A distância da zona de habitabilidade à estrela principal vai depender do brilho da intensidade luminosa da estrela; quanto mais brilhante a estrela, mais afastada estará a zona habitável. Este fato é uma conseqüência da lei do inverso do quadrado da intensidade luminosa. O centro da zona habitável é definido por uma distância que o exoplaneta deverá ter em sua estrela para possuir uma temperatura média comparável àquela da Terra, supondo que ela tenha uma atmosfera idêntica em composição e densidade. Como ao longo de sua evolução as estrelas se tornam mais brilhantes e mais quentes, a zona habitável se afasta logicamente da estrela. Para que o potencial de desenvolvimento da vida atinja um nível satisfatório, um planeta deverá estar situado em uma órbita que permaneça o maior tempo possível na zona habitável.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 85 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com

Zona habitável galáctica

Foto: Nasa

Zona habitável galáctica está a 25 mil anos-luz do centro.

Para abrigar a vida, um sistema planetário deve se situar suficientemente próximo do centro da galáxia, a fim de possuir quantidade suficiente de elementos pesados que favoreçam a formação de planetas terrestres e de átomos necessários à vida, tais como o ferro, na hemoglobina, no iodo das glândulas tireóides. No entanto, esse sistema deverá estar situado suficientemente longe do centro galáctico para evitar os perigos tais como: o choque com estrelas que provoquem a instabilidade orbital ou chuvas de cometas e asteróides; as radiações das supernovas; os grandes buracos negros do centro galáctico.

Vários estudos têm mostrado igualmente que as regiões onde os elementos pesados são mais abundantes apresentam maior possibilidade de possuir planetas gigantes orbitando muito próximo da sua estrela; o que poderá destruir ou lançar para fora do sistema planetas do tipo terrestre. Por todas essas razões, é muito difícil determinar a zona habitável de uma galáxia.

Na nossa galáxia – a Via Láctea – a zona habitável galáctica está situada a 25 mil anos- luz (8 kiloparsec) do centro galáctico, onde existem estrelas velhas de 4 a 8 bilhões de anos. Como as galáxias têm composições diferentes, a zona habitável galáctica pode ser maior ou menor, ou até mesmo não existir.

Essa concepção foi criticada por dois ingleses, o matemático Ian Stewart e o astrobiólogo Jack Cohen, ambos professores da University of Warwick, na Inglaterra, no livro Evolving the Alien: The Science of Extraterrestrial Life (2002, Evolução dos extraterrestres: A ciência da vida extraterrestre), cuja segunda edição foi publicada com o título: What Does a Martian Look Like? The Science of Extraterrestrial Life (2004, Com que se parece um marciano? A ciência da vida extraterrestre).

Em primeiro lugar essa hipótese supõe que a vida extraterrestre tem as mesmas necessidades e desenvolvimento que a vida terrestre, o que é uma limitação de acordo com o seu ponto de vista; o segundo é que, mesmo aceitando esse primeiro ponto de vista, certas circunstâncias tornam factível o aparecimento da vida em planetas situados fora da zona habitável, como por exemplo nos satélites de Júpiter – Europa, no qual se supõe que deve existir um oceano sob uma cobertura de gelo.

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