Premiados jovens cientistas do Paraná

Uma cadeira-de-rodas adaptada para os obstáculos urbanos, a influência da televisão no comportamento dos jovens, a psicopatia como resultado do meio ou da hereditariedade. Os temas parecem complexos, de “gente grande”, mas não são.

Tratam-se de projetos desenvolvidos por quatro jovens “aspirantes a cientistas”, estudantes do Colégio Positivo, de Curitiba, que foram premiados na 61.ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em julho deste ano, em Manaus.

São eles: Bruno Abdala Cândido Lopes, de 16 anos, Gabriel Tadeu Sanson, 15, Rhayssam Poubel Arraes, 15, e Susan Amaral Jaigobind, 16. Os trabalhos foram desenvolvidos para serem apresentados na feira de ciências do colégio.

Porém, eles ficaram tão bem feitos que foram escolhidos para fazer parte do evento de Manaus. Em outubro, eles estarão novamente expostos no colégio, na Mostra de Soluções para uma Vida Melhor.

Agora, o que os estudantes e também o professor coordenador da mostra, Celso Maurício Hartmann, querem é que os trabalhos que foram inclusive documentados em monografias não caiam no esquecimento e possam ser úteis à sociedade.

Para eles que estão no 2.º ano do Ensino Médio – muito mais do que participar de uma feira do colégio ou de uma mostra fora de sua cidade, a atividade valeu mesmo pelo aprendizado e pela contribuição que pode dar a quem mais precisa.

“Além de aprender como fazer uma monografia, pudemos ter contato com as pessoas que realmente precisam de uma cadeira-de-rodas. Pegamos uma cadeira e saímos andando e vimos como é sofrido”, disse Bruno que, juntamente com Gabriel, desenvolveu a cadeira adaptada.

Ciciro Back
Susan Jaigobind: “psicopatia é fruto do meio e de hereditariedade”.

Gabriel contou que se emocionou e sentiu que valeu a pena o trabalho na SBPC. “Crianças que usam cadeiras-de-rodas ficaram interessadas na nossa ideia, foi bem legal”, disse.

Na pesquisa que fizeram, os meninos concluíram que o maior problema de Curitiba para os portadores de deficiências físicas é a falta de guias rebaixadas. Para isso desenvolveram uma cadeira diferente, com materiais de baixo custo, na maioria recicláveis.

“Sabemos que existem cadeiras automatizadas, mas elas não são acessíveis à população de baixa renda. Nós inventamos um sistema que pode ser implantado na cadeira já utilizada pelo portador de deficiência”, explicou Gabriel.

Susan, que fez a indagação sobre a psicopatia influência do meio ou hereditária? chegou à conclusão de que esta doença é um resultado dos dois fatores. Para a estudante da 2.ª série do Ensino Médio, o trabalho poderá servir de auxílio aos médicos em um futuro muito próximo, e até para ela mesma quando estiver na faculdade.

“Eu sempre gostei da área científica, principalmente de tudo que é ligado ao cérebro humano. Por isso quero fazer Medicina e quem sabe usar o trabalho na faculdade”, disse.

Susan comentou que os prêmios ganhos por ela e seus colegas podem servir de incentivo aos outros alunos. “Eu via que meus amigos não se interessavam muito em investir nesses trabalhos, mas eles não entendiam o quanto isso vale para a gente e para a sociedade”, lembrou.

Prêmio pode revelar os futuros talentos do País

Ciciro Back
Hartmann (centro), com Gabriel Sanson e Bruno Lopes e a cadeira adaptada.

Mais do que trabalhos desenvolvidos em sala de aula, estes prêmios podem despontar jovens extremamente talentosos e, quem sabe, futuros cientistas no Brasil. Rhayssan Poubel Arraes, de 15, anos – cujo trabalho também ganhou o primeiro lugar na Feira de Ciências e Engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), a Febrace, neste ano -surpreende pela sua maneira de expressar as opiniões com clareza e conhecimento, e pela sua dedicação ao trabalho que fez sobre a influência da televisão nos jovens.

“Na convivência com meus colegas comecei a perceber que alguns comportamentos, como a luxúria e a vaidade, eram provenientes da influência da televisão. Não de programas específicos, mas da TV em geral. Nessa corrida para ter o corpo perfeito, os jovens acabam tendo até doenças, como a anorexia. Meu objetivo não foi criticar a TV, mas sim analisar a influência dela nos jovens”, explicou.

Para ele, não é necessário censura na mídia, mas sim uma maior conscientização e educação das pessoas. “O correto é criar formas para que os jovens tenham discernimento, pois a grande maioria não tem consciência disso”, analisou.

Para Rhayssan, o trabalho da escola não é valioso apenas pelo prêmio que inclui certificados e medalha que ele e seus colegas ganharam. Mas sim pelo enriquecimento pessoal e a iniciação no meio acadêmico com a monografia. “A vivência, a experiência que adquirimos será para o nosso conhecimento por toda a vida. O prêmio é apenas uma recompensa”, disse.

Os meninos que desenvolveram a cadeira-de-rodas também adquiriram essa vivência da pesquisa, pois tiveram que analisar as normas da ABNT para desenvolver a cadeira, e não somente adaptá-la de qualquer maneira.

“Fizemos também uma pesquisa com cadeirantes para conhecer os problemas que eles enfrentam todos os dias”, contou Bruno. Os quatro trabalhos dos estudantes do Positivo foram os únicos a representar o Paraná na SBPC. (MA)

Falta incentivo à ciência, diz professor

Os jovens ganharam os prêmios, podem contribuir com a sociedade e, sobretudo, aprenderam muito com isso. Mas e agora? Na opinião do professor e coordenador da Mostra de Soluções para uma Vida Melhor do Colégio Positivo, Celso Maurício Hartmann, falta incentivo à ciência no Brasil.

“Os cientistas que trabalham e têm boas ideias não conseguem as patentes. Sem falar que tudo é muito fragmentado, não há continuidade nos estudos. Por isso que acho importante que os nossos jovens cientistas tenham a oportunidade de retomar os projetos e dar continuidade a eles, mesmo que seja lá na frente”, observou o professor.

Segundo ele, ganhar prêmios não é tudo, mas apenas um estímulo. “Nós temos o objetivo de fazer com que nossos alunos sejam observadores, e jovens observadores é que são importantes para a sociedade. Pegar um pequeno problema e dar um grande resultado”, disse.

Para Rhayssan Arraes um dos “jovens cientistas – é o incentivo que vai mudar o País. “O incentivo que temos hoje é o que transforma cidadãos mais aptos para viver em sociedade e poderá fazer com que o nosso país se torne uma grande potência científica”, analisou.

Susan Jaigobind, outra vencedora, acredita que participar desses prêmios faz com que o aluno veja que a escola vai muito além da sala de aula. “Vemos que precisamos dessas coisas para decidir o que queremos ser no futuro, pois aprendemos a pesquisar”, comentou.