Pneumonia ainda mantém alto índice de mortalidade

A pneumonia é uma doença dos pulmões e do sistema respiratório na qual os alvéolos (sacos microscópicos do pulmão responsáveis pela absorção do oxigênio atmosférico) se tornam inflamados e infiltrados de fluido. A pneumonia deriva da infecção por bactérias (Streptococcus pnenumoniae, Staphylococcus aureus, Haemophilus influenzae, Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Moraxella catarrhalis, Chlamydophila pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae e  Legionella pneumophila), vírus (influenza, vírus sincicial respiratório, adenovírus e metapneumovírus), fungos (Histoplasma capsulatum, Cryptococcus neoformans, Pneumocystis jiroveci e Coccidioides immitis) ou parasitas (Toxoplasma gondii, Strongyloides stercoralis e Ascariasis) mas também pode ser causada por injúria química ou física dos pulmões ou mesmo indiretamente como conseqüência de outras doenças como o câncer pulmonar ou abuso de álcool. Os sintomas típicos associados com a pneumonia incluem tosse, dor no peito, febre e dificuldade respiratória. Pode ocorrer emissão sanguinolenta acompanhando a tosse. A pneumonia causada por Legionella provoca dor abdominal e diarréia enquanto aquela causada por Pneumocystis pode acarretar perda de peso e intensa sudorese noturna. As ferramentas diagnósticas incluem a radiografia (Raios X) e exame microbiológico do catarro (amarelo até esverdeado). A varredura por tomografia computadorizada é de utilidade para diferenciar a pneumonia de outras doenças respiratórias. A pneumonia de origem bacteriana é tratada com antibióticos e há vacinas para a prevenção de alguns tipos de pneumonia.

Tendo em conta que a identificação segura do agente causal de uma pneumonia ocorre apenas em 50% dos casos e que a gravidade da doença não admite postergação no tratamento, a antibioticoterapia se impõe mesmo nos casos de pneumonia de origem viral para prevenir o agravamento da doença, num segundo estágio, por bactérias. Nos Estados Unidos, o antibiótico de escolha é a amoxicilina, às vezes associada a claritromicina. No caso de pacientes alérgicos à penicilina e seus derivados (caso da amoxicilina) se opta por eritromicina (um macrolídio). Mais recentemente, a amoxicilina tem sido deslocada por azitromicina, claritromicina (dois macrolídios) e fluoroquinolona. Para os casos de pneumonia oriunda de ambiente hospitalar administra-se vancomicina, cefalosporinas de 3.ª e 4.ª gerações, carbepenem, fluoroquinolona e aminoglicosídios. Não é incomum o uso de antibióticos em combinação para melhor atingir um elenco maior de microrganismos causadores de pneumonia. No caso de penumonia viral por influenza A o tratamento envolve rimantadina ou amantadina enquanto que a pneumonia causada por influenza B é tratada com oseltamivir ou zanamivir, mas o tratamento só pode ser bem sucedido se iniciado até 48 h depois dos primeiros sintomas. Não existe tratamento eficiente para pneumonias causadas pelo coronavírus Sars, adenovírus, hantavírus e parainfluenza-vírus. Em paralelo, a infecção respiratória (gripe aviária) causada pela cepa H5N1 do influenza A é resistente a rimantadina e amantadina.

A pneumonia, enquanto agravantes, pode levar a complicações paralelas como falha respiratória e circulatória, efusão pleural (em que o volume útil do pulmão se reduz por infiltração de fluido em torno do órgão) e sepsia (derrame de microrganismos patogênicos para a corrente circulatória).

Mais do que 150 milhões de episódios de pneumonia infantil ocorrem no mundo subdesenvolvido e em desenvolvimento a cada ano. Isto requer a hospitalização de 11 a 20 milhões de crianças. A pneumonia acarreta a cada ano a morte de 2 milhões de crianças. A maior taxa de óbito ocorre nos países do sub-Saara africano e sul asiático. Três quartos das mortes ocorrem em apenas 15 países (180 países estão congregados na ONU). Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenza B (que também causa uma forma de meningite) são os mais freqüentes agentes causadores de pneumonia {Wardlaw, T. et al., (UNICEF / WHO), Sept 2006}. ?Esses números são, ao mesmo tempo, um fracasso assustador e uma imensa oportunidade de mudarmos as coisas?, disse o editor da revista científica The Lancet, Richard Horton, em entrevista à agência de notícias Associated Press.

Uma investigação levada a cabo pelo Dr. R.G. Wunderink et al. {Arch Intern Med. (2001)161:1837-1842} com 225 pacientes hospitalizados com formas severas de pneumonia bacteriana indicou que a mono-antibioticoterapia (MA) com uma quinolona ou cefalosportina de 3.ª geração ou macrolídio comparativamente a antibioticoterapia mista (AM; cefalosporina de 3.ª geração + macrolídio ou quinolona) resultou numa taxa de mortalidade de 18% para o grupo MA quando comparada com os 7% no grupo AM.

José Domingos Fontana  (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR junto ao Depto. de Farmácia, pesquisador do CNPq e prêmio paranaense em C&T. 

Voltar ao topo