Pesquisa revela importância de reciclar celulares

Você sabia que é possível reciclar o seu telefone celular? Pois pouca gente sabe. E ainda menos pessoas reciclam. Uma pesquisa realizada em 13 países, promovida pela empresa finlandesa Nokia e divulgada este mês, concluiu que apenas 3% das pessoas destinam seus aparelhos para reciclagem. No Brasil, a média é ainda mais baixa: 2%.

O costume da maioria das pessoas é mesmo guardar em casa os telefones que não usam mais. Ainda: de cada quatro pesquisados, três nem pensam em reciclar os aparelhos, e metade nem sabe que isso é possível.

A pesquisa foi feita com base em entrevistas com 6,5 mil pessoas, no Brasil, Estados Unidos, Finlândia, Alemanha, Itália, Rússia, Suécia, Reino Unido, Nigéria, Emirados Árabes Unidos, Índia, China e Indonésia.

O objetivo era ajudar a empresa a saber mais sobre o comportamento do consumidor quando o assunto é reciclagem. Com base nos resultados, a empresa pretende intensificar seus programas de reciclagem de aparelhos usados.

Em comunicado divulgado no site da empresa, o diretor de Assuntos Ambientais da Nokia, Markus Terho, disse que “se cada um dos 3 bilhões de proprietários de celulares devolvessem pelo menos um aparelho usado, poderíamos economizar 240 mil toneladas de matérias-primas e reduzir a emissão de gases poluentes na mesma proporção que se tirássemos 4 milhões de carros das ruas”.

Divulgação
Terho, da Nokia: redução da emissão de gases com devolução.

De acordo com a pesquisa, cada pessoa em média teve cinco aparelhos diferentes. Apenas 4% desses aparelhos são jogados fora. A maioria, 44%, está guardada nas casas dos pesquisados, sem uso algum. O que sobra teve outras finalidades: 25% foram repassados a amigos ou familiares, e 16% são vendidos a terceiros.

Uma ironia descoberta pela pesquisa foi de que, apesar de 74% das pessoas terem respondido que não pensam em reciclar seus aparelhos, um número quase igual, de 72%, concordaram que a reciclagem faz a diferença no meio ambiente.

No Brasil, a média de pessoas que não pretendem reciclar os celulares foi ainda maior: 78%. Taxa igual foi apontada na Alemanha, Suécia e Finlândia. Na Indonésia, o número chegou a 88%, e na Índia, a 84%.

Mas uma das conclusões mais importantes do trabalho foi referente aos motivos pelos quais as pessoas não consideram a possibilidade de reciclar telefones celulares: metade delas nem sabe que isso pode ser feito.

Na Indonésia, por exemplo, apenas 29% das pessoas sabiam disso. Na Índia, o número ficou em apenas 17%. Os países mais conscientes foram o Reino Unido, com 80%, e 66%, na Finlândia e Suécia. A Nokia não divulgou o resultado do Brasil neste ponto.

Outro problema apontado foi que muitas das pessoas (cerca de dois terços dos entrevistados), apesar de saberem que os aparelhos podem ser reciclados, não sabem como fazê-lo, e 71% não sabem onde isso pode ser feito.

Tal possibilidade é realmente pouco divulgada. No Paraná, não existem programas públicos específicos para celulares. Apenas as baterias são recolhidas, o que é pouco, considerando que em cada quilo de aparelhos coletados são reciclados cerca de 650g de metal e 200g de plásticos. E que entre 65% e 80% dos materiais de um único celular podem ser reaproveitados, retornando à cadeia produtiva para a confecção de outros produtos.

Recolhimento e consciência

O fato de haver muito pouca divulgação de programas de reciclagem de celulares não significa que os aparelhinhos que deixaram de ser usados têm que ter como destino a gaveta.

Vários fabricantes e operadoras têm, sim, programas desse tipo no Brasil. A maioria das operadoras, inclusive, promovem não só o recolhimento de baterias, mas também de pe&cce,dil;as que, de alguma forma, acabam sendo reaproveitadas.

A Vivo possui um programa que diz ser pioneiro de reciclagem de celulares, de
seus acessórios e de baterias. A empresa informa que, desde o lançamento, “mais de 500 mil itens foram recolhidos e encaminhados para um descarte apropriado”.

Só em 2008, de acordo com a operadora, esse número já ultrapassou 200 mil itens. Segundo a Vivo, cerca de 80% dos aparelhos coletados são reciclados e 20% são reaproveitados e revendidos em outros países, fora da América Latina.(HM)

Empresas têm coleta no Brasil

A operadora Claro informou que “tem um projeto em que monitora todo o fluxo de reciclagem de aparelhos, baterias, chips e acessórios que não estão em
uso – desde o recolhimento até a destinação final dos mesmos.

E incentiva seus clientes a aderirem à prática”. Mais de 140 lojas próprias recebem aparelhos de qualquer marca. Até o final do ano, a empresa promete instalar urnas coletoras em todos os pontos-de-venda do País. Já a TIM tem o programa Papa-Pilhas, em parceria com o Banco Real.

Apesar do nome, o programa recolhe e encaminha para reciclagem nem só baterias e pilhas, mas também laptops, telefones sem fio, celulares e acessórios. O objetivo, segundo a empresa, é “criar uma ação sustentável, conscientizando a população sobre a importância da destinação adequada desses materiais”.

O programa funciona apenas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. Até o final do ano, a TIM pretende ampliá-lo para todo o Brasil. A Brasil Telecom, por sua vez, também recolhe, desde 2005, baterias e celulares para reciclagem.

A empresa trabalha com o programa de coleta em todos os estados que opera, e diz que o usuário pode deixar, em caixas de coleta nas lojas, celulares e baterias de qualquer marca ou operadora. Os itens são encaminhados aos fabricantes para reciclagem.

Alguns fabricantes também têm seus programas. A Nokia, por exemplo, tem pontos de coleta em 85 países. Como lojas próprias de fabricantes não são comuns  no Brasil, a empresa diz que os aparelhos podem ser deixados nas assistências técnicas autorizadas.

A empresa também diz que, com os resultados da pesquisa que promoveu, vai desenvolver campanhas para informar sobre como e onde reciclar aparelhos e acessórios antigos. Os pontos de coleta podem ser vistos em www.nokia.com.br/A4524104.

Mau exemplo

A situação pela qual a publicitária paulista Ana Lúcia Guedes passou, ao tentar devolver um telefone celular sem uso, é um exemplo de que, por mais que existam programas de reciclagem de aparelhos, as empresas ainda têm muito a fazer se quiserem ampliar seu alcance. Ela trocou, recentemente, o celular de sua mãe, em São Bernardo do Campo (SP), e teve que voltar para casa com o aparelho antigo também.

“Divulgam que não devemos jogar no lixo comum, mas as operadoras e fabricantes não estimulam nem facilitam esta prática”, reclama. Ela diz, ainda, que não troca de celular com freqüência, e que um dos motivos é justamente pela questão da reciclagem. Até por trabalhar na área de publicidade, Guedes diz que sente muito, “por as empresas muitas vezes se esquecerem de conectar-se ao seu consumidor das maneiras mais óbvias”.

A publicitária lembra que os lançamentos constantes da indústria contrastam com a falta de consciência em relação à reciclagem. “Hoje todos falam em sustentabilidade. Seria melhor que agissem mais ao invés de só propagar um discurso. Nosso mercado precisa de mais ação e menos ‘blábláblá’”.

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