Os chineses estão invadindo o espaço

A China é uma potência em foguetes desde os tempos mais remotos. Com efeito, os chineses inventaram a ?pólvora negra? no ano 2000 a.C. Doze séculos mais tarde, os chineses realizaram os primeiros foguetes – as célebres flechas de fogo -, e no ano de 1045, foguetes ofensivos foram usados pelo exército chinês.

No fim da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética, ou URSS, instalou o regime comunista na Europa do Leste, o que provocou uma inquietação nos Estados Unidos (EUA). Um clima tenso que já existia entre os dois vencedores se agravou, o que deu origem à Guerra Fria.

Durante longo tempo, a China absorvia a ciência e a tecnologia ocidentais, deixando que as suas invenções fossem usadas sem tirar benefícios. Com a instalação de um regime comunista na República Popular Chinesa em 1949, o receio dos ocidentais provocou um embargo econômico e tecnológico. Em conseqüência, a China voltou-se para a atual Rússia, ex-URSS.

Um tratado de 1950 permitiu fazer da China uma cópia da Rússia. Desde então o país passou a ser o seu irmão mais velho, copiando-o em todos os domínios: sociais e econômicos. Durante os primeiros anos, o desenvolvimento da China foi muito rápido. Em 1959, as duas nações amigas se separaram. Os sábios e técnicos soviéticos retornaram à Rússia e os projetos de colaboração militar visando à elaboração de uma bomba nuclear foram cancelados.

O primeiro ruído sobre uma primeira satelitização começou a correr desde 1955. Nessa época a cooperação com a União Soviética era total, o que tornou possível o rápido desenvolvimento de engenhos espaciais com fins militares. No entanto, o programa espacial chinês começou realmente em 1968.

Dois anos mais tarde, em 24 de abril de 1970, a China tornou-se uma potência espacial, lançando o primeiro satélite com foguetes chineses. Logo em seguida, mostrou sua presença no mercado comercial de transporte espacial, com os seus foguetes Longa Marcha.

Em 15 de outubro de 2003, a China tornou-se o terceiro país a colocar em órbita um homem pelos seus próprios meios, depois da União Soviética em 1961 e dos Estados Unidos em 1962.

O sucesso do vôo tripulado Shenzhou 5 veio reforçar sua oferta junto a seus concorrentes ocidentais no comércio de transporte espacial. O primeiro vôo tripulado constituiu um motivo que aumentou a auto-estima do seu povo.

O lado militar não deve ser esquecido. Além do desenvolvimento de um grande programa de estação orbital com objetivo militar, como as outras nações, a China procura desenvolver um programa civil e militar da observação da Terra e de satélite de comunicação.

A chegada da China no fechado clube de vôos tripulados deixou a velha Europa na gaveta. Na verdade, a França e a Alemanha, os dois países líderes da Europa Espacial, fracassaram no fim dos anos 80s e início dos anos 90s com o programa Hermes.

Hoje, a China, segunda nação do mundo em superfície, possui regiões pouco conhecidas, e poderá utilizar os seus próprios satélites para observá-las melhor. A China entrou para o clube espacial na quinta posição, depois da Rússia, EUA, França e Japão; se tivesse lançado os seus satélites alguns dias antes, sem dúvida, teria sido a quarta potência.

A China é uma potência espacial em vias de ultrapassar toda a Europa. Sem dúvida, os lançadores chineses não têm tido o sucesso e a carreira comercial dos foguetes Ariane, mas, no entanto, o envio de espaçonaves tripuladas, que a Europa sempre questionou, transformou-a em uma das lideranças do espaço.

Como os EUA, os russos e os europeus, além de ter dominado a propulsão criogênica, mantêm uma taxa de fracassos muito reduzida (onze fracassos, dos quais três parciais, em 88 lançamentos).

Shenzhou 5

A nave Shenzhou 5 foi a primeira missão espacial tripulada da República Popular da China, em 15 de outubro de 2003, lançada por um foguete Longa Marcha 2F. O lançamento ocorreu, às 9h local, no Centro Espacial Jiuquan, no Deserto de Gobi, na província de Gansu. Às 9h10 horário local, a nave com o piloto e tenente-coronel do Exército de Liberação do Povo, taikonauta Yang Liwei, de 38 anos, entrou numa órbita de 343 quilômetros acima da Terra. Com esse lançamento a China tornou-se o terceiro país a colocar um homem no espaço, depois da URSS e EUA. O lançamento do Shenzhou foi o resultado de um programa espacial de vôos tripulados que começou em 1992.

Nem o lançamento e nem a reentrada foram televisionados, pois o governo tinha receio que um acidente pudesse criar uma situação embaraçosa, apesar de todo o procedimento ter sido bastante anunciado pela televisão central da China. Após descrever 14 órbitas em 21 horas no espaço, a nave reentrou na atmosfera às 6h04 do dia 16 de outubro de 2003. O taikonauta desceu em seu pára-quedas, que abriu-se normalmente. A aterrissagem da espaçonave ocorreu às 6h28 do horário local, em um ponto situado cerca de 4,8 quilômetros do local planejado para aterrissar, na Mongólia Interior, segundo as informações do governo chinês. O módulo orbital da espaçonave permaneceu em órbita, acreditando-se que ele continuará a realizar experimentos durante os próximos seis meses.

Shenzhou 6

Em 4 de outubro de 2003, foi anunciado que a segunda missão espacial tripulada seria lançada no mês de outubro de 2005. Com efeito, em 12 de outubro de 2005 um foguete Longa Marcha 2F colocou em órbita dois taikonautas, Fei Junlong (40 anos) e o co-piloto Nie Haisheng (41 anos), que permaneceram cinco dias ao redor da Terra. A tripulação usou uma roupa espacial superior à anterior e um novo toilet. Após deixar o módulo de serviço para entrar na cápsula ou módulo orbital, os taikonautas realizaram uma série de experimentos científicos. Antes da descida, reentraram no módulo orbital, que ficou no espaço. Este último módulo será um dos componentes da futura estação espacial chinesa que será colocada em órbita antes do fim deste decênio.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo e fundador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, autor de mais de 75 livros, entre outros ?Anuário de Astronomia 2005?. Consulte a homepage: www.ronaldomourao.com

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