Orkut se tornou a nova mania nacional

No início de abril, o Orkut ganhou sua primeira versão em língua estrangeira, no caso, o português. Nada mais fácil de entender uma escolha como essa, uma vez que os brasileiros representam dois terços dos usuários do sistema mantido pelo Google. Na sua página de internet, a equipe do Orkut informa que a decisão foi tomada a pedido de usuários brasileiros e espera prover acesso em outros idiomas futuramente.

Outro anúncio feito pela equipe foi que a central de ajuda do Orkut (http://help.orkut.com/support) está disponível totalmente em português. Mas é particularmente curiosa a forma com que a notícia foi apresentada. O texto da notícia começa assim: ?Você gostaria de saber mais sobre como enviar cantadas, mas quer os passos em português??. Pode-se dizer que é uma mensagem bastante indicativa de uma das principais vocações que o Orkut possui – uma ferramenta para relacionamentos.

Por meio do sistema, amigos que não se viam há anos se reencontram e pessoas que não se conheciam começam a namorar. Outros tornam-se amigos. Aliás, cerca de 90% das pessoas que utilizam o Orkut o fazem com o intuito de amizades.

Como usuária do Orkut, a mestre em informática e professora do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR) Ana Cristina Barreiras Kochem, afirma que o sistema tem a vantagem de poder conectá-la com pessoas que não via há muito tempo. ?O Orkut possibilitou que eu falasse novamente com amigos antigos, dos tempos de colégio?, afirma.

Interesses

Pessoas que buscam contatos profissionais no Orkut são atualmente 30% do total de usuários, segundo as estatísticas do próprio sistema. Explicitamente, os que procuram namoro ou relacionamentos são cerca de 16%, mas esse índice não corresponde à realidade, pois muita gente que indica em seu perfil que tem interesse em buscar laços de amizade, também acaba por tecer relacionamentos.

A grande maioria das pessoas de 18 a 30 anos que acessa o sistema, que correspondem a 70% do total dos usuários, conhece alguém ou mesmo teve um relacionamento amoroso através do sistema.

A curitibana M. T. S. está estudando em Paris e, graças ao Orkut, conseguiu uma casa para ficar em Barcelona em seu período de férias. ?Eu mandei uma mensagem via Orkut para os meus amigos, perguntando quem tinha contatos em Barcelona e uma garota com quem trabalhei aqui me indicou um amigo dela. E agora estou aqui. Uma semana na faixa?, diz ela.

Através do Orkut, M. T. S. virtualmente conheceu um ex-consultor que trabalhava na Bolsa de Valores de São Paulo e que agora percorre o mundo de barco. ?Ele me viu no Orkut e disse que ficava me observando. Agora estamos nos correspondendo?, conta.

Mas o sistema também tem suas desvantagens, como aponta Ana Cristina, pois demora muito para carregar. Por uma questão técnica, é freqüente que o usuário veja na tela a mensagem ?Bad, bad server. No donuts for you?. A tela em que aparece essa mensagem, felizmente ainda não foi traduzida.

Uma ferramenta de organização

O Orkut pode ser visto como uma ferramenta para organizar espaços virtuais de interação humana, podendo ser por comunidades virtuais dos mais diversos tipos. Um tipo especial que vem ganhando interesse de pesquisadores e organizações é o de Comunidades de Prática (CoPs), caracterizadas por um empreendimento comum aos seus membros – normalmente aprender algo relacionado a uma prática – um repertório compartilhado e o engajamento dos seus membros.

Nesse contexto, segundo o pesquisador do Cefet, Hilton Azevedo, o Orkut, ou qualquer outro canal de interação social na internet, pode assumir o papel de uma CoP. Para Hilton, um outro atrativo para participar de CoPs virtuais é a velocidade de acesso a informações que são significativas para os membros da comunidade. ?Se você participa de uma comunidade virtual em que um dos seus membros descobriu ontem como resolver um problema que é importante para todos da comunidade, você já pode aplicar a solução hoje, sem precisar esperar a divulgação.?

O também pesquisador do Cefet, Marcelo Stein, concorda que a aparente necessidade do ser humano trabalhar em comunidades acontece para melhorar seu desempenho, aprender e construir socialmente sua identidade. Isso, ressalta, pode acontecer em vários níveis. No modelo das comunidades de prática as pessoas se empenham nas atividades na medida que as práticas as aproximam de seus objetivos. ?Podem ter uma participação periférica, observando, se assim quiserem, mas podem ter também uma participação mais central na comunidade?, afirma ele.

Segundo Marcelo, a partir de seus interesses, as pessoas decidem o nível em que querem se envolver nas comunidades. Ele afirma que, quando a intenção é estar no núcleo da comunidade, o reconhecimento pode ser importante. Ambientes virtuais como o Orkut podem ter recursos para explicitar mais ou menos esse reconhecimento. O ?rankeamento? dos participantes é um exemplo. Entretanto, Marcelo diz que é importante observar como esses recursos são absorvidos culturalmente: os americanos parecem apreciar sistemas que pontuam numericamente a reputação dos participantes, ao passo que os brasileiros parecem procurar angariar reputação através do uso dos seus relacionamentos e da linguagem. (RD)

Contatos em busca de novos negócios

Se o Orkut é usado principalmente por uma população jovem, e com a finalidade de se relacionar socialmente, marcar encontros, fazer e reencontrar amigos ou até mesmo iniciar um projeto de trabalho, há ambientes virtuais como o LinkedIn (https://www.linkedin.com) e o Plaxo (http://www.plaxo.com), que possuem a finalidade de construir redes de relacionamento voltadas exclusivamente para negócios e afins.

O Plaxo, fundado em 2001, teve um crescimento exponencial no número de usuários muito grande e em pouco tempo, chegando a mais de 3,5 milhões no ano passado. Por sua vez, o LinkedIn possui 2,4 milhões de usuários correntes em todo o mundo.

Esses serviços permitem a procura de emprego, descoberta de eventuais parceiros de trabalho, recrutamento de pessoal e estabelecimento de relações e contatos profissionais, abrindo um novo campo dentro dos já tradicionais ambientes virtuais.

Empregadores e profissionais de todas as áreas participam, buscando oportunidades de negócios e de trabalho. (RD)

Características distintas

Ambientes virtuais como o Orkut têm como objetivo implementar espaços de socialização. Para o professor do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), Hilton Azevedo, que estuda o papel das tecnologias nos processos de aprendizagem humana e organizacional, esses espaços possuem características distintas do mundo real. ?Quando alguém está na rede, é potencialmente igual a qualquer outra pessoa, desde que domine os canais de comunicação da mesma forma. Respeitadas as normas sociais e próprias do grupo, pode se expressar da maneira que quiser. Talvez esse seja um dos fatores que fazem com que os brasileiros sejam grandes usuários?, afirma ele.

Esse interesse – conforme o professor do Cefet-PR Marcelo Stein, um estudioso de Comunidades de Prática – pode surgir, em parte, por causa das transformações sociais que repercutem no uso que se faz dos espaços físicos de socialização. Em outros tempos, as ruas dos bairros e as praças eram espaços bastante usados para o convívio social. ?Ambientes como o Orkut podem caracterizar uma busca, por um segmento da sociedade, de espaços de socialização que se tornam raros no cotidiano concreto?, afirma.

Segundo Marcelo, em comunidades virtuais existe muitas vezes a possibilidade de se ?reconstruir? inclusive a identidade dos participantes. Para ele, a concepção de que todo o mundo ?entra? para enganar os outros é errada. A esse respeito, Hilton também pondera que a questão torna-se bastante subjetiva. ?O fato de alguém construir um perfil virtual que não é exatamente igual àquele que apresenta no mundo real não significa que não faça parte da sua identidade.? Para ele, a construção que alguém faz de seu perfil virtual pode ser, em alguns casos, mais próxima da sua individualidade do que o perfil que ostenta nas relações sociais do mudo concreto. (RD)

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