O grande potencial da biomassa no Brasil

Com o advento do petróleo no mundo, a biomassa foi abandonada. Toda a energia passou a ser retirada do petróleo e parecia bom! As conseqüências deste processo, porém, hoje têm preocupado todas as nações e a busca por alternativas tem sido frustrante, com exceção do álcool, no Brasil.

Além do álcool, outra fonte alternativa de energia abundante no Brasil é o carvão vegetal. Embora sua produção seja significativa, 6,8 milhões de toneladas em 2003, quase não se fala nela. As poucas notícias focam o envolvimento do trabalho escravo e infantil e deixam, em segundo plano, as considerações sobre a importância desse recurso que pode ser uma alternativa viável na substituição de combustíveis fósseis.

O carvão tem grande potencial para se destacar como substituto dos combustíveis fósseis, pois, mesmo usando tecnologias que surgiram no século XIX, tem participação significativa na siderurgia e outros usos.

Valerá a pena investir no uso da biomassa? Qual é o seu potencial? Quando se pensa em energia produzida a partir de capim-elefante ou eucalipto extraído de florestas homogêneas percebemos como é grande o seu potencial.

O eucalipto pode produzir até 75 esteares de lenha por hectare/ano, o que corresponde a 12 toneladas de carvão vegetal/ha/ano e subprodutos como metanol (0,43 tonelada/ha/ano), ácido acético (1,3 tonelada/ha/ano), alcatrão vegetal (1,4 tonelada/ha/ano), este, sendo rico em resinas fenólicas.

O capim-elefante produz duas vezes mais biomassa que o eucalipto por ano e, com o aperfeiçoamento de processos de carvoejamento, tem condições de produzir carvão e seus subprodutos.

A produção de carvão, capaz de atender a necessidade da indústria siderúrgica atual de 35 milhões toneladas/ano, demandaria uma área de três milhões de hectares, o que corresponde a menos de 1 % da superfície agriculturável no Brasil, já desmatada.

Não há necessidade de usar as terras aráveis, pois a cultura de eucalipto pode ser feita em terras montanhosas, inadequadas para grãos ou pastagem. Hoje temos 106 milhões de hectares ociosos; 5 milhões de hectares plantados de eucaliptos; 40 milhões de hectares usados para grãos e 220 milhões de hectares usados para pastagens.

Sob o ponto de vista ecológico, a cultura de florestas homogêneas é muito adequada, pois a produção de oxigênio e absorção de gás carbônico da atmosfera só se dá com o crescimento das árvores.

A produção de carvão vegetal lança na atmosfera uma impressionante massa de poluentes. Calcula-se que esse processo gere diariamente, no Brasil, uma quantidade de fumaça que, em kilocalorias, equivaleria a 200 mil barris de petróleo.

Novos processos, já testados em laboratório, se mostraram técnica e economicamente viáveis para a eliminação total da geração de poluentes; além disso pode contribuir para a interiorização da indústria, com a criação de usinas e empregos, pois cada usina em condições de produzir 100 toneladas de carvão por dia empregará 300 funcionários.

Essa seria uma das possíveis soluções para o assentamento dos grupos de sem terra: com oferta de uma atividade planificada e lucrativa, esses trabalhadores poderiam ser organizados em cooperativas e em pequenas propriedades fomentadas por usuários do carvão.

Todo o carvão mineral usado na siderurgia pode ser substituído pelo ?aço verde? (carvão sem enxofre e fósforo) e assim melhorar a qualidade do aço. A substituição pode reduzir as importações de carvão mineral, que, para atender a expansão prevista até 2010, calcula-se um investimento na ordem de US$ 4,5 bilhões.

Outra vantagem é o aproveitamento dos subprodutos do carvão vegetal, que tornaria viável no País a criação da indústria da química fina, produzindo resinas fenólicas, desinfetantes e medicamentos.

A instalação de fazendas de plantação de eucaliptos para a produção de carvão vegetal irá abrir campo de investimentos lucrativos, com faturamento diário sem o risco comum na agricultura, que é a falta de chuvas eventuais e, ainda, sendo o carvão uma commodity, pode ser exportado, gerando divisas.

Uma fazenda planejada para a produção de biomassa pode conter no seu conjunto de benefícios à preservação da diversidade biológica, na flora e na fauna, entremeando na floresta homogênea áreas de florestas nativas com espécies de frutíferas silvestres, de forma a manter o equilíbrio ecológico e a absorção do gás carbônico.

Por fim, a substituição de combustíveis fósseis – carvão mineral e petróleo – é uma missão que o Brasil mais uma vez pode assumir em defesa da humanidade.

Nilton Nunes Toledo é engenheiro de produção, mestre em Engenharia Mecânica, professor doutor do Departamento de Engenharia de Produção da POLI-USP (www.prd.usp.br) e em Administração da Produção da FEA-USP, é especialista em bioenergia.

Voltar ao topo