Lições do eclipse lunar

A lua eclipsada é mil vezes menos brilhante que a Lua cheia. O escurecimento é, no entanto, muito variável. Tudo depende da poluição da atmosfera pelas partículas em suspensão. Os micrometeoritos vaporizados pelo atrito na atmosfera contribuem para esta poluição em altitudes elevadas, entre 40 a 100 km. Nas camadas inferiores da atmosfera, entre o solo e 30 km de altitude, as minúsculas cinzas provenientes das erupções vulcânicas, assim como o smog das atividades humanas, desempenha um papel muito importante.

No eclipse de 16 de junho de 1816, a Lua ficou totalmente invisível em Londres e em Dresden, em conseqüência da erupção do Tambora, na Indonésia, que na primavera do ano anterior havia projetado na atmosfera quase 150 km cúbicos de cinzas. Em conseqüência, 1816 foi um ?ano sem verão?, pois as cinzas provocaram alterações climáticas em todo o planeta.

O eclipse de 4 de outubro de 1884 foi igualmente muito escuro, em virtude da erupção do Krakatoa, ocorrida em agosto de 1883, e durante o qual 1.800 km cúbicos de cinzas foram projetados na alta atmosfera. As erupções do Katmai, no Alasca; Agung, na lha de Bali, Sudonésia; e, Pinatubo, nas Filipinas, provocaram uma Lua muito escura nos eclipses de 1913, 1963 e 1992, respectivamente.

A correlação entre as grandes erupções e os eclipses particularmente escuros constitui um demonstrativo do estado de transparência das altas camadas da atmosfera terrestre; no caso do eclipse de 3 de março de 2007, como havia uma ausência de cinzas, o eclipse foi claro. Em conseqüência, o inverno foi menos rigoroso e o verão mais quente, ao contrário do que ocorreu em 1816.

Esta grande transparência não filtra as radiações solares, intensificando o aquecimento da Terra, que vem sendo agravado pela atividade poluidora do homem. Daí a situação que está sendo sentida pelos ursos nos pólos e a humanidade nas grandes metrópoles. Aliás, a crise vai se agravar ainda mais, pois a máxima atividade que ocorre a cada onze anos no sol anuncia-se muito mais intensa.

Convém assinalar que a situação climática não depende unicamente da atividade humana, mas principalmente da do sol. Atualmente estamos vivendo num período de mínima atividade do Sol sui-generis, uma mínima com grande atividade, sugerindo que o próximo ciclo solar será mais intenso que o anterior. É necessário que os ecologistas se preocupem mais com o meio interplanetário; daí minha defesa da ecologia cósmica, que se preocupa com o tempo, com a previsão do tempo cósmico ou da atividade solar que é feita periodicamente desde o lançamento do satélite SOHO, em 22 de novembro de 1995. Portanto, alguns anos depois da minha palestra sobre ?A importância da meteorologia espacial?, durante a ECO-92.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 85 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com

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