Lesão por esforço repetitivo continua preocupando

Não se pode falar sobre danos causados à saúde devido a tecnologias sem se falar das lesões por esforços repetitivos, a LER. Segundo o ortopedista e professor da Universidade Federal do Paraná, Gabriel Paulo Skroch, a relação das pessoas com o computador, que se tornou ferramenta indispensável para muitas das atividades profissionais atuais, faz com que a sala de espera do seu consultório sempre tenha ao menos um paciente à espera de alívio para os sintomas desse tipo de lesão. ?Os móveis que a maioria das pessoas utiliza nos escritórios não foram projetados adequadamente para computadores. Não houve adequação da evolução tecnológica e mesmo biológica com a mobília que se utiliza?, explica o médico, acrescentando que o biótipo do brasileiro mudou, e as pessoas estão mais altas, o que também contribui para posturas erradas perante móveis inadequados.

Skroch ressalta também a quantidade de tempo que se passa diante do computador. ?Ficar digitando é considerada uma atividade intelectual e as pessoas não se preocupam com o a condição física para isso. Então há um desgaste grande dos músculos, que não estão preparados para a quantidade de esforço?. Segundo o médico, a pessoa que fica à frente do computador precisa de descansos freqüentes e um condicionamento físico compatível com o trabalho que realiza. ?É a mesma coisa que um atleta que precisa treinar para o que faz. Para digitar, é preciso preparar os músculos?.

Usando a tecnologia sem prejudicar a saúde

Não é de hoje que médicos e especialistas advertem que muitas tecnologias que deveriam melhorar a qualidade de vida, quando mal utilizadas, podem provocar problemas de saúde. Até pouco tempo, a maior preocupação das pessoas era com lesões por esforços repetitivos, a LER. Mas agora o temor é que a popularização de dispositivos portáteis de games e de tocadores de MP3 possam criar uma futura geração de surdos. Desde a chegada ao mercado do walkman, da Sony, nos anos 80s, os especialistas já advertiam sobre os riscos desses aparelhos para a saúde auditiva.

Uma recente pesquisa americana sobre o uso de dispositivos musicais eletrônicos com fones de ouvido revelou que mais da metade dos estudantes do ensino médio do País que usam esses aparelhos apresentam algum sintoma de perda de audição. A pesquisa, divulgada no mês passado pela Associação Americana para Fala, Linguagem e Audição (Asha) ouviu 301 adolescentes e mil adultos que utilizam aparelhos musicais com fones de ouvido, como os iPods.

O estudo alarga uma discussão iniciada no ano passado, quando o americano John Kiel Patterson entrou com um processo no Tribunal de São Francisco contra a gigante Apple, fabricante dos iPods, alegando que os aparelhinhos podem causar perda de audição. Na França, outra ação judicial comprovou que os iPods poderiam alcançar sons superiores ao limite de 100 decibéis regulamentado no País. A Apple, que já vendeu mais de 50 milhões de players desde o lançamento do iPod, em 2001, preferiu não comentar, mas poucos meses depois do início das ações judiciais lançou uma atualização do software do produto que permite que pais e usuários programem limites para o volume máximo do aparelho.

Segundo os advogados de Patterson, o iPod norte-americano pode gerar sons superiores a 115 decibéis, o que pode abalar a audição de um usuário que esteja exposto a mais de 28 segundos por dia neste volume. Segundo a pesquisa da Asha, apenas 49% dos adolescentes disseram não ter experimentado nenhum sintoma de perda de audição, contra 63% dos adultos pesquisados. Os estudantes relataram numa proporção maior do que os adultos ao menos três dos quatro principais sintomas da perda de audição: aumentar o volume da TV ou do rádio (28% dos estudantes contra 26% dos adultos), dizer ?o quê?? ou ?ãh?? durante conversas normais (29% contra 21%) e escutar zumbidos ou campainhas (17% contra 12%).

Para os especialistas, os usuários devem manter o volume a 60% do máximo e limitar-se a uma hora de escuta por dia. Além desse tempo e com volumes mais altos, corre-se o risco de danos à audição.

Sintomas

Para o otorrinolaringologista curitibano Herton Coifman, escutar zumbidos ou ter dificuldade para diferenciar sons são sintomas de quem já está começando a ter problemas auditivos. ?São indícios de que a pessoa deve maneirar no volume dos fones e procurar um médico?, explica. Porém, Coifman lembra que isso não indica perda de audição permanente. Segundo o médico, eles indicam fadiga auditiva. ?É semelhante quanto se vai a um clube dançar e se ouve música alta a noite toda. Mas no caso de um freqüentador habitual, o dano pode ser definitivo. Com os fones o caminho é o mesmo?, adverte.

Segundo a Asha, a pesquisa não explica exatamente o que estaria provocando a perda de audição, mas indica que os hábitos de utilização dos aparelhos são potencialmente danosos para a saúde auditiva. Dois quintos dos estudantes e dos adultos pesquisados disseram colocar o volume de seus iPods num nível alto, com os estudantes duas vezes mais propensos do que os adultos a colocar o volume num nível muito alto (13%, contra 6% dos adultos). Os adultos, porém, usariam seus tocadores de MP3 por períodos mais longos do que os adolescentes. Mais da metade dos adultos disseram usar os aparelhos por mais de uma hora por dia, enquanto apenas pouco mais de um terço dos estudantes disseram usá-los ao menos uma hora ao dia.

?A receita para não haver lesão auditiva é o bom senso. A relação que se deve levar em conta, portanto, é a do tempo e da intensidade. Usar tocadores de MP3 ou qualquer tipo de fone mais alto e por mais tempo com certeza não é uma receita muito inteligente?, afirma Coifman. Claro que se deve levar em conta que os iPods ainda não são muitos populares no Brasil, mas o médico revela que atende muitos jovens com problemas auditivos decorrentes de utilização excessiva de fones, como músicos e DJs. ?O ideal é o volume dos fones estar dentro do conforto da pessoa, que vai de 30 a 40 decibéis acima do som ambiente?. Uma receita prática: se você não estiver ouvindo a conversa das pessoas à sua volta, o volume está alto.

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