Escolas procuram integração on-line

Não é de hoje que a internet é ferramenta cotidiana nas escolas. Os alunos já estão acostumados com aulas nos laboratórios de informática, tanto quanto aulas de português ou matemática. O que tem sido novidade em muitas, porém, é a integração, via internet, entre professores, alunos e pais, via ferramentas como agendas virtuais, e-mails, blogs e até câmeras de monitoramento.

A adoção dessas tecnologias, apesar de bem-vinda na maioria das vezes, pode trazer certos problemas. ?Como tudo isso ainda é novidade, ainda não existem normas de conduta e, sem perceber, as pessoas exageram em certos pontos?, avalia a pedagoga e consultora em tecnologia responsável, Danielle Lourenço.

Os exageros podem acabar partindo tanto do lado dos pais, como da escola. Danielle lembra de um caso em que uma professora decidiu criar um blog para uma de suas turmas, onde eram expostos trabalhos de ciências. ?Os pais aprovaram a idéia, mas começaram a pedir que o conteúdo do blog fosse ampliado, mostrando o dia-a-dia da turma e até outros detalhes, como quem não se comportou em determinado dia, quem fez os deveres de casa e quem não fez?, conta.

O fato de poder observar a criança na escola a qualquer hora pode gerar ansiedade nos pais, até por falta de conhecimento. Danielle Lourenço, pedagoga.

Para a pedagoga, o mais grave nesse ponto é o fato de que os pais promovam, junto a seus filhos, espécies de ?motins? contra os alunos cujo comportamento exposto na internet não seja exemplar. Ela alerta até para o aspecto legal da questão. ?O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que a criança não pode passar por situação vexatória?, diz. O ponto do ECA a que ela se refere é o artigo 18, que estabelece que ?é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento (…) vexatório ou constrangedor.?

Segundo Danielle, outro exagero está em fornecer aos pais os endereços de e-mail dos professores, por exemplo. Isso, para ela, pode acarretar em incômodos para os docentes, já que muitos pais não saberão limitar os contatos apenas ao essencial e acabam procurando os professores até nos fins de semana. ?Os pais querem saber detalhes, antecipar informações. As escolas nunca informaram aos pais os telefones particulares dos professores. Então por que fornecer e-mails agora??

Nem todos, porém, vêem problemas nisso. Para Edna Luíza Percegona, diretora do Colégio Madalena Sofia, em Curitiba, a comunicação direta entre professores e pais, via e-mail, é positiva. ?Os pais não abusam. Praticamente todas as nossas professoras trocam e-mails com os pais. Eles escrevem quando há necessidade. Há um vinculo maior entre professores e pais, à medida que essa comunicação se torna mais intensa.?

A diretora considera que os e-mails acabam agindo como facilitadores. ?À medida que o professor vai conhecendo melhor a família, a intervenção dele com o aluno dentro de sala de aula é facilitada. O tempo que ele disponibiliza para leitura dos e-mails, recupera no atendimento às necessidades do aluno, tratando problemas que o aluno não consegue verbalizar com o professor, mas foram antecipados pela família.?

Há níveis de exposição, porém, que tanto a diretora quanto a pedagoga concordam. A publicação de fotos dos alunos exige certos cuidados, principalmente por motivos de segurança. ?Além do que, redes de pedofilia estão sempre em busca de rostos novos?, diz Danielle.

Restrições às câmeras

De todas as formas de comunicação entre escola e pais de alunos, certamente a mais polêmica é o sistema de câmeras. A maioria das escolas é relutante na questão, outras defendem, e os pais não têm posição unânime. A pedagoga Danielle Lourenço é contra.

?É uma invasão no dia-a-dia da escola. O fato de poder observar a criança na escola a qualquer hora pode gerar uma ansiedade nos pais, até por falta de conhecimento técnico do sistema de aprendizado.

Toda criança briga, morde, faz ?feiúras?. É normal, afinal elas estão experimentando. Com as câmeras, os pais podem interpretar situações de forma errada. Além disso, o professor perde a espontaneidade, porque sabe que está sendo filmado.? Outra questão é em relação à antecipação, pelos pais, das situações. ?É importante que os pais sempre resgatem, com as crianças, o que aconteceu na aula. Se já sabe o que aconteceu, tira a espontaneidade.? Ela diz que se, mesmo assim, a escola resolver implantar as câmeras, deve preparar os pais, esclarecendo que não levem as situações que verem na tela do computador ao pé da letra. A diretora do Colégio Madalena Sofia, Edna Luíza Percegona, também não tem posição favorável às câmeras, mas revela que alguns pais pedem sua implantação. ?Mas quando mostramos os motivos pelos quais não temos essa opção eles entendem perfeitamente.?

Dicas para conciliar tecnologia e ensino

Site da escola: deve ser bem estruturado e precisa mostrar o dia-a-dia escolar. Deve ser informativo, tratar da escola como um todo e nunca passar informações em particular de cada aluno. Qualquer informação individual deve ser transmitida aos pais por meio de login e senha.

E-mail do professor: permite a agilidade como elemento inicial de comunicação. Mas jamais substituirá a presença dos pais na escola para o gerenciamento de crises.

Agenda on-line: nela existem os comunicados, as tarefas escolares, o calendário escolar, os boletins e, inclusive, algumas escolas disponibilizam o horário de entrada e saída do aluno.

Os eventos e atividades extracurriculares podem ser postados na agenda virtual.

Câmeras online: a idéia de acompanhar o dia-a-dia em sala de aula é sedutora, porém, nem sempre benéfica. É importante estimular a criança nesta faixa etária a contar na sua visão como foi o dia. Quanto aos professores, a tendência é a passividade e a permissividade.

Blogs: o professor pode utilizar como ferramenta pedagógica criando páginas para publicar os trabalhos dos alunos, postar artigos, trocar informações, ou até mesmo para que família e amigos acessem as novidades.

Fotos: antes de a escola publicar as fotos dos alunos, é fundamental pedir a autorização escrita aos responsáveis. Postar fotos indiscriminadamente expõe crianças a situações de risco.

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