Drogas de abuso: ópio e derivados

O ópio é a matéria resinosa coletada das cápsulas imaturas da papoula ou Papaver somniferum muito comum em países asiáticos e também em alguns da Europa como a Hungria, Turquia e Rússia. É fonte de mais de 20 diferentes alcalóides (substâncias orgânicas nitrogenadas) e com intensa bioatividade farmacológica tais como a morfina (10 a 16%; potente analgésico do grupo narcótico), noscapina e codeína (antitussígenos), papaverina (relaxante muscular moderado e potencial modulador da função erétil por ser vasodilatador) e tebaína (convulsivante).

A heroína é um derivado de síntese da morfina através do anidrido (ácido) acético e cuja aspiração ou injeção tem efeito potencializado em relação à droga mãe. Foi inventada já em 1898 pelo laboratório alemão Bayer e naquela época se acreditava que poderia aliviar os vícios tanto da morfina quanto do alcoolismo. Ledo engano. A heroína é cerca de 3 vezes mais potente do que a morfina e o processo de adicção é mais rápido.

Como se não bastassem os perigos da heroína, ela ainda é consumida em coquetéis conhecidos como speedballs, onde a droga é misturada com anfetaminas ou cocaína. O cantor e comediante John Beluschi foi uma das vítimas deste famigerado coquetel de drogas em 1982.

Os históricos laços comerciais entre a Inglaterra e a China culminaram na Guerra do Ópio em 1839 quando o governo chinês, dada a degradação moral reinante no País, decidiu proibir a importação de ópio inglês então produzido na Índia. Sendo a China perdedora, a ela coube ceder indenização bem como a concessão do protetorado de Hong Kong, somente há pouco devolvido à soberania chinesa continental. Neste mercado ilegal (maiormente explorado pelo Afeganistão) o ópio é vendido em barras ou reduzido a pó e embalado em cápsulas ou comprimidos. Ele não é fumado e sim inalado pelos usuários, já que em contato direto com o fogo o ópio perde suas propriedades narcóticas. A droga também é comida e consumida como chá ou, no caso de comprimidos, dissolvida sob a língua. Uma dose moderada faz com que o usuário mergulhe num relaxado e tranqüilo mundo de sonhos fantásticos. O efeito dura de três a quatro horas, período em que o usuário se sente (aparentemente) liberado das ansiedades cotidianas. Nas primeiras vezes, a droga provoca náuseas, vômitos, ansiedade, vertigens e falta de ar, sintomas que desaparecem à medida que o uso se torna regular. O consumidor freqüente torna-se passivo e apático, seus membros parecem cada vez mais pesados e sua mente envolve-se numa onda de letargia. Fica então a realidade do viciado substituída pela ilusão de bem-estar.

Como os seus derivados, o ópio provoca tolerância no organismo, que passa a necessitar de doses cada vez maiores para se sentir normal. O aumento da dosagem leva ao sono e à redução da respiração e da pressão sanguínea, podendo evoluir, em caso de overdose, para náusea, vômito, contração das pupilas e sonolência incontrolada, passando à coma e morte por falha respiratória. Este quadro letal pode ser causado não apenas por um aumento da dosagem de ópio, mas também pela mistura da droga com álcool e barbitúricos.

Uma vez viciado, o indivíduo deixa de sentir o estupor originalmente produzido pela droga, passando a consumir ópio apenas para escapar dos terríveis sintomas da síndrome de abstinência, que duram de um a dez dias e incluem arrepios, tremores, diarréias, crises de choro, náusea, transpiração, vômito, cólicas abdominais e musculares, perda de apetite, insônia e dores atrozes. Pesquisas recentes indicam que os opiáceos podem causar mudanças bioquímicas permanentes a nível molecular, fazendo com que o ex-viciado se mantenha predisposto a retornar ao vício mesmo após anos de privação do uso de opiáceos. Com o fracasso da heroína como tratamento aos morfinômanos foi sintetizada a metadona, também um analgésico narcótico, empregado em hospitais para a recuperação dos viciados. Como droga substitutiva pode ser paulatinamente abandonada sem os temíveis efeitos de abstinência experimentados no caso da morfina e heroína.

Nota –  Não converta sua vida em suplício. Drogas: apenas mediante supervisão e prescrição médica. A morfina é uma droga de eleição para as dores de pacientes terminais de enfermidades como o câncer. Nada tem a oferecer de benéfico a uma pessoa sadia.

José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito no Departamento de Farmácia da UFPR, pesquisador 1A do CNPq e 11.º Prêmio Paranaense em C&T (1996). 

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