Doenças negligenciadas: bioma ajuda a combater

Brasília (AE) – O Banco de Extratos do Bioma do Cerrado, da Universidade de Brasília (UnB), guarda algumas das maiores riquezas vegetais da região. Trata-se de um acervo com mais de mil espécies catalogadas, de onde os pesquisadores esperam extrair, por exemplo, remédios contra as chamadas doenças negligenciadas – para as quais as indústrias farmacêuticas destinam pouca atenção -, como a leishmaniose, malária, dengue e doença de Chagas.

O projeto busca princípios ativos que possam se transformar em novos antibióticos, antifúngicos, antiparasitários e anticancerígenos. ?Hoje nossas empresas farmacêuticas só manipulam princípios ativos importados?, diz a coordenadora do banco de extratos, Laíla Salmen Espíndola. Um dos resultados das investigações é a recente descoberta da capacidade do extrato das folhas de Jitó, ou Guarea sp, árvore do cerrado, de matar o parasita causador da leishmaniose cutânea o Leishmania amazonense. O princípio ativo obtido a partir da planta é letal ao parasita, sem atacar as células dos tecidos humanos.

De acordo com levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de leishmaniose ocorrem em países como Brasil, Bolívia, Peru, Índia e Nepal. O principal medicamento usado nos casos de leishmaniose cutânea ainda é o antimônio pentavalente, administrado em injeções de cinco a dez mililitros – um tratamento doloroso que pode se estender por até 40 dias.

O uso do medicamento, no entanto, tem alguns inconvenientes. Os casos de interrupção no tratamento e subdosagem são freqüentes. ?O antimônio não é uma droga ideal, com nível de insucesso de até 30%?, diz Marcelo Nascimento Burattini, professor da Universidade Federal Paulista.

Malária

Entre as doenças endêmicas negligenciadas pelas indústrias farmacêuticas, a malária é a com o maior número de casos no Brasil. O tratamento ainda é feito com drogas à base de sulfato de quinina, como a cloroquina e a primaquina. Os efeitos colaterais como vertigens, cefaléias e outros sintomas no sistema nervoso são constantemente descritos como piores que a própria doença e sua eficácia perdeu efeito com o tempo.

O Camboatá Branco, ou Matayba sp, é uma das esperanças do Banco de Extratos para o tratamento da malária. A planta tem propriedades ativas sobre o Plasmodium falciparum, parasita causador da doença, sem os efeitos colaterais do quinino.

O mesmo acontece com a Guaçatonga, ou Casearia sp, um arbusto do cerrado. Com características químicas que podem ser usadas no combate ao parasita Trypanosoma cruzi, causador da Doença de Chagas, a planta tem baixa toxicidade para as células humanas. O Instituto Farmanguinhos , da Fundação Oswaldo Cruz, é o principal fornecedor do Ministério da Saúde de medicamentos para doenças negligenciadas.

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