Da doença para saúde, a grande mudança

Segundo relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde), apenas 10 (dez) situações respondem por 40% (quarenta por cento) de todos os riscos de mortes no planeta.

Curioso é que, analisando essas dez causas, constatamos que a humanidade está morrendo basicamente em conseqüência de hábitos, vícios e descaso com o meio ambiente e a qualidade de vida; nem tanto pelas doenças. Isto nos remete a uma profunda reflexão, mormente porque somos um País emergente que aplica recursos escassos e finitos na saúde, ou seja, estes precisam ser muito bem geridos para produzirem efeitos positivos aos cidadãos. O tabagismo e o alcoolismo figuram dentre essas dez causas e responderam juntas por 6,7 milhões de mortes em 2002, segundo a OMS. São hábitos e vícios de vida que produzem doenças gravíssimas e que somente programas de educação e combate poderiam surtir efeitos ao longo dos anos. A aids é apontada como causa de mortes em crescimento, principalmente nos países mais pobres, e trata-se, na verdade, de doença perfeitamente controlável, já que na imensa maioria dos casos a sua transmissão é pelo sexo sem proteção. A OMS aponta 2,9 milhões de mortes por aids no ano 2000. Incrivelmente, nesse relatório, encontramos também problemas de ordem social estarrecedores, pois, enquanto uns morrem por fome, grande número morre por excesso de comida, pela obesidade mórbida. Este conflito social internacional, que cria hiatos cada vez maiores entre os mais ricos e os mais pobres, responde também por embates e guerras intermináveis, geradores de incontáveis mortes. O mundo tem 1 (um) bilhão de pessoas com peso acima do normal e 300 milhões já são portadores de obesidade mórbida, dos quais 500 mil vão a óbito todo ano.

Carência de ferro, má qualidade da água e contaminação de moradias por fumaça de combustíveis sólidos entram na lista das dez causas de maior risco para o planeta. Identificam problemas que dependem dos programas de governo para solução. Elevadas taxas de colesterol dizimam 4,4 milhões de pessoas por ano, já que conduzem a diversas doenças, principalmente aquelas ligadas ao sistema cardiovascular e neurológico.

Por ultimo, mas não menos importante, a hipertensão arterial, que geralmente decorre de transmissão hereditária, mas que, seguramente, poderia ser melhor controlada por seus portadores se hábitos e vícios de vida fossem eliminados. A hipertensão arterial mata 7,1 milhões a cada ano.

RECURSOS APLICADOS EM SAÚDE

País

PIB em dólares

% do PIB na saúde

EEUU

10,4 trilhões

14,0%

Alemanha

2,0 trilhões

10,8%

França

1,4 trilhões

9,6%

Canadá

0,7 trilhões

9,5%

Itália

1,4 trilhões

8,4%

BRASIL

0,5 trilhão

6,0%

Vejam que, analisando o quadro descrito, falamos muito pouco em doenças, o que vale dizer que poderíamos orientar e gerir nossos recursos financeiros com objetivo de melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos e, com isso, planejar de maneira mais eficiente os programas na área da saúde. Hoje, no Brasil, é grande o conflito entre operadoras de planos de saúde (OPS), usuários, profissionais e empresários da medicina suplementar. Isso porque, com a visão centrada na doença, cada vez consumimos mais e mais os recursos arrecadados com a realização de exames comple-mentares, penalizando os usuários, que têm seus custos aumentados.

De outro lado, o consumo desses recursos é tão elevado na área de diagnose e internação que o profissional acaba também sendo sacrificado com baixa remu-neração pelo seu trabalho.

As OPS, também insatisfeitas, queixam-se de interferência governamental e que seus recursos são insuficientes para cobrir os gastos.

Ou seja…

Falamos de um modelo de insatisfeitos, composto por OPS, clientes, profissionais e empresários.

A única solução que nos parece viável é a mudança do modelo atual, procurando otimizar os nossos recursos, tanto governamentais quanto da assistência suplementar que somam apenas 6% (seis por cento) do PIB nacional em programas de melhoria da qualidade de vida, combate aos vícios de vida, mudança nos hábitos, principalmente alimentares, campanhas de prevenção de doenças, aplicação de protocolos internacionais de medicina baseada em evidências e medicina preventiva.

É possível que, em alguns anos, possamos colher os frutos dessa mudança e constatar que foi muito importante, pois sem ela o modelo atual teria sucumbido.

Manoel Almeida Neto

é Presidente do IGS – Instituto da Gestão em Saúde.

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