Vistos pelos aspectos composicional e nutricional, os fungos comestíveis, exceto pelo sabor diferenciado, pouco diferem de outros alimentos de origem vegetal. Possuem, contudo, uma população polissacarídica ou de carboidratos poliméricos, que apresentam notável atividade farmacológica: as beta-glucanas.
Dentre estes, alguns produtos derivados são objeto de comercialização legal e exacerbada, tais como o Krestin ou PSK (do fungo Trametes ou Coryolus versicolor, também conhecido como cauda-de-peru), o Schy-zophyllan PolyC (também uma beta-1,3-glucana de Schyzophyllum commune) e o Lentinan (uma beta-1,3-glucana ramificada em beta1,6), extraído do shiitake (Lentinus edodes). O primeiro, para prevenção de câncer de mama, digestivo e pulmonar; o segundo, para câncer cervical e o último, para câncer do aparelho gástrico. PSK, uma beta-glucana, conforme relatado por H. Kobayashi, K. Matsunaga e Y. Oguchi, da Universidade de Hokkaido, Japão, tem marcado efeito no combate da processo de metástase, ou seja, a irradiação das células tumorais para outros órgãos topologicamente distanciados no corpo.
A capacidade protetora das glicanas (polissacarídios), derivados destes e outros fungos (e.g., Pleurotus ostreatus, cogumelo de ostra; Agaricus bisporus ou champignon de Paris; Agaricus sylvaticus ou cogumelo do sol; Auricularia aurioculae-jude ou orelha-de-judeu), normalmente é acessada em cobaias (ratos) nos quais previamente se induz a formação de tumores, seguindo-se a avaliação do papel imunomodulador dos cogumelos na resposta às células geneticamente alteradas (tumorígenas), o efeito citostático no crescimento do tumor e o efeito de inibição da vascularização da massa tumoral.
Assim, o extrato polissacarídico de A. sylvaticus melhorou sensivelmente os índices hematimétricos, apontando para um reforço das funções imunológicas e hematotológicas no combate ao tumor ascítico de Walker-256, enquanto que o extrato lipofílico de himematsutake (Agaricus blazei) inibiu a revascularização de tumor do tipo Sarcoma-180, sendo esta ação benéfica atribuída não aos carboidratos poliméricos e sim ao ergosterol presente no extrato. Os dados são respectivamente de Novaes, M.R.C.G. (2004) e de Takeshi, T. (2001), conforme relatado pela professara Maria Rita C.G. Novaes, em Infarma, vol. 19 de 2007.
José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR e 11.º prêmio paranaense em C&T (1996).