Ciência e Existência

Muitas vezes nós nos deparamos com dúvidas existenciais e nos perguntamos: Quem somos? De onde viemos? São questionamentos antigos que passaram de geração para geração. Mas as respostas são fluidas e muitas vezes não têm sentido. Será que há uma resposta?

O livro Rede Autopoiética – a vida da vida de Luiz Carlos Bruschi, professor de Histologia do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina, publicado pela Eduel, tem como norte indicar possibilidades sobre a nossa posição enquanto ser humano neste planeta.

Antes de mais nada, é preciso esclarecer que, autopoiética é um termo de origem grega que significa construir a si mesmo e que em biologia autoconstrução é denominada autopoiese, considerada por muitos biólogos como a essência da vida.

Assim, o autor ressalta que a contínua autoconstrução é uma capacidade marcante dos organismos, a qual garante sua integridade e organização e este livro pretende uma incursão pela Natureza, focalizando o fato de que todos os seres vivos, desde uma bactéria até o homem estão “interligados e tecem, em conjunto, uma magnífica trama. A vida da vida”. Menciona também o fato de que o homem, “de criatura passou a ser co-criador da Natureza ao elaborar variantes de formas de vida, clonar seres, hibridizar moléculas de DNA, controlar ecossistemas e mapear genes são atividades rotineiras da biologia atual”. Mas que a rotina e o culto a racionalidade científica afastam a magia inerente a estas atividades, pela falta de percepção da própria natureza da vida, com o conseqüente desprezo a humanização da ciência.

Para ilustrar a importância da inserção do homem na natureza, o autor utilizou como exemplo a simples observação de uma foto de nossa adolescência, sem considerarmos o contexto, ou seja, os elementos que fazem parte daquele retrato: pode ser uma velha bicicleta, uma árvore, um cão ou um muro antigo. Isto é, sem estes, não compreenderíamos totalmente a fotografia e, mais importante, estaríamos afastando muitas lembranças pertinentes àquele momento. Lembra, portanto, que no estudo da vida acontece a mesma coisa e que a visão mecanicista de fragmentar para conhecer o todo é equivocada, pois mostra apenas um leve esboço da realidade que não conhecemos.

Isto significa que não estamos e nem “somos” sozinhos neste planeta, mas sim que fazemos parte de um universo bem mais complexo do que nos faz perceber a nossa insignificante e velha rotina. Por isso, o livro propõe que nossa percepção de mundo deve mudar “até mesmo para que possamos satisfazer nossas necessidades básicas sem comprometer as futuras gerações”. E que “o mundo deve ser visto como um todo integrado”.

Desta forma, conclui-se que o livro representa um tratado a favor do planeta Terra e, consequentemente, de nós mesmos. Defende a idéia de que não somos senhores da Natureza, mas sim seus tutores e propõe que sejamos “conspiradores e arautos de novos tempos”. E, para finalizar e reforçar sua proposta, o autor, oportunamente, transcreveu o belíssimo discurso do índio Seattle enviado ao Governo dos Estados Unidos em 1854, o qual, sem dúvida, é a mais perfeita manifestação em defesa do meio ambiente.

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