Trabalhar muito requer ainda mais cuidado com a saúde

Trabalhar muito faz parte da rotina da maioria das mulheres. Cada vez mais, o trabalho requer dedicação. Mas como saber qual é o limite entre o esforço e a rotina de focar apenas na vida profissional, não dando a devida importância para outras áreas?

Em um dia agitado, Marlete Ferreira de Barros parou para contar quantas vezes tinha subido a mesma escada no local de trabalho. Foram 32. Correria poderia ser o sobrenome de Marlete, que é proprietária da loja Cantinho das Miudezas, no bairro Fazendinha, em Curitiba. Com uma rotina bastante pesada, que começa por volta das 6h30 e não tem hora para terminar, Marlete admite que trabalha bastante.

Além de cuidar da loja e fazer serviços externos (como ir ao banco, por exemplo), ela corta os tecidos para a fabricação dos uniformes escolares. O ateliê fica em cima da loja e, por causa disto, ela sobe e desce a mesma escada várias vezes ao dia. “Muitas vezes, fico cortando tecidos até de madrugada, até aguentar. Sei que eu trabalho demais, mas não consigo parar. Não consigo ver ninguém parado perto de mim”, revela Marlete.

Por conta do período que antecede o início das aulas, ela tem intensificado a rotina para abastecer a loja com uniformes escolares. Depois desta fase, Marlete até diminui um pouco o ritmo. Mas só um pouco. São 28 anos de trabalho neste ramo, atendendo 70 escolas diferentes. “Mesmo com tudo isso, prefiro trabalhar. Se não fizer nada, acho que enlouqueço”, afirma.

Ela sai nos finais de semana se os filhos insistem e a levam para um passeio. Mas, se está em casa no sábado e no domingo, não hesita em começar a trabalhar quando sabe que tem algo pendente. Marlete garante que colocou como meta para 2014 tentar encontrar o equilíbrio entre todas as áreas de sua vida. “Vamos ver se eu consigo”, declara.

Maria Aparecida de Oliveira, gerente de marketing do Shopping Palladium, também é conhecida por trabalhar bastante. Mas ela garante que isto é fruto de gostar do que faz. “É uma questão de perfil também. As pessoas que escolheram atividades que dão satisfação possuem um rendimento maior no trabalho. E eu tive esta felicidade”, comenta. “Ser viciado em trabalho não é bom para ninguém e nem para a empresa”, opina.

De acordo com ela, as profissionais precisam se “desligar” às vezes para até mesmo serem mais produtivas e criativas. Maria Aparecida lembra que a busca do tal equilíbrio é uma tarefa constante. “Conciliar a vida profissional com a pessoal e o lazer é fundamental. É necessário sempre procurar o caminho para estar mais feliz”, conta. Ela ressalta que, conforme a maturidade vai chegando, a mulher consegue se organizar melhor para dar conta de todas as áreas da própria vida.

Ser workaholic não significa ter um bom desempenho

Segundo a coach e consultora organizacional Melissa Camargo Kotovski, sócia diretora da Potencial Desenvolvimento Humano, ser uma workaholic (denominação para viciada em trabalho) não significa que a mulher seja produtiva ou entregue um resultado de qualidade. Ela passa muitas horas ao redor da profissão, mas nem sempre está satisfeita com o emprego. “O mercado exige preparação e estudo, além de dedicação do trabalho, mas não necessariamente passar muitas horas a mais no expediente, e sim gerenciar o seu tempo”, afirma.

Com a competitividade entre as empresas, as organizações encaravam os workaholics de uma boa maneira. Hoje em dia, as empresas estão preocupadas com o bem-estar dos colaboradores. “Quem trabalhava demais era visto de forma positiva, mas hoje não se pensa mais desta forma. É muito comum ver as empresas altamente competitivas com um grande número de workaholics. São pessoas que têm facilidade em deixar de lado a família e o equilíbrio com a vida social”, avalia Valéria Morona, analista de Desenvolvimento de Pessoas da Paraná Clínicas.

De ,acordo com ela, os viciados no trabalho sofrem um grande impacto na saúde, diante de quadros elevados de ansiedade e estresse. Além disto, são pessoas que não aceitam frustrações e possuem um medo muito grande de fracassar.

Ser uma workaholic é bem diferente daquela mulher que gosta do que faz e, por isto, se dedica muito ao trabalho. Neste caso, a mulher pode ser chamada de worklover (amante do trabalho). “É a mulher que gosta de trabalhar e que tem satisfação no trabalho. Apesar de trabalhar muito, ela consegue satisfação também na vida pessoal. É totalmente diferente de só viver a vida profissional. A worklover tem um sentido no trabalho e trabalha para viver, o que é totalmente diferente de viver para trabalhar”, esclarece Melissa, enfatizando que é possível sim conciliar a profissão com a vida pessoal.