Site prova que mulheres também entendem de futebol

Em tempos de Copa das Confederações, praticamente todo mundo para pra dar uma olhada nos jogos da seleção, nem que seja só pra criticar depois. Mas quando não estamos em época de campeonatos mundiais com participação do Brasil, você é daquelas que torce por um time ou não quer nem saber de futebol? Acompanha todos os jogos ou nunca sabe quem está jogando no domingo à tarde? Não entende nada do que está acontecendo em campo ou sabe todas as regras e esquemas táticos?

Encontrar mulheres que gostam de futebol é cada vez mais comum. Mas, apesar de o esporte ter deixado de ser “coisa de homem” há tempos, muitas ainda sofrem preconceito por se interessarem por ele. O principal comentário que elas ouvem ainda é que “mulher não entende de futebol”. É por isso que 21 mulheres de várias regiões do país se uniram. Desde 2011, elas mantêm um site com textos críticos e informativos sobre este e outros esportes, provando que mulher entende sim de futebol.

A ideia de criar o Donas da Bola (www.donasdabola.com.br) surgiu quando a jornalista Priscila Ulbrich teve que enfrentar o preconceito na pele. “Comecei como estagiária no Flamengo e sempre tive que aguentar os comentários de que mulher não é capaz de entender e trabalhar com futebol. Quando mudei para o Rio Grande do Sul, sofri da mesma forma. Foi então que tive a ideia de criar esse espaço, ainda mais porque conhecia um monte de gente que queria trabalhar no meio, mas não conseguia”, conta.

No início, eram só ela e duas amigas – entre elas, a atleta profissional de remo Fabiana Beltrame. Mas o incentivo de algumas figurinhas conhecidas no meio esportivo fez com que Priscila revisasse o projeto, expandindo-o. “Uma vez, o Espinosa (Valdir Espinosa, comentarista esportivo da Rádio Globo) me mandou uma mensagem no Facebook falando ‘Priscila, para de escrever só pra sua família, isso está muito bom’. E o Jota Júnior (comentarista esportivo do canal a cabo Sportv) também me deu força”.

Foi então que ela decidiu que o site deveria ter uma colunista para cada time da Série A do Campeonato Brasileiro e começou a procurar mulheres que estivessem dispostas a escrever sobre o desempenho de seus times. “Cada uma assume o time que torce, mas sabemos receber críticas, admitir que o outro jogou bem, avaliar o futebol como um todo”, comenta. Mas uma coisa ela garante: “Não queremos combater o universo masculino, nem invadi-lo. Queremos andar do lado”. Além do futebol, fazem textos sobre outros esportes, como o próprio remo, o handebol, o basquete e até o MMA.

Apesar de ser flamenguista desde pequena, quando frequentava a padaria da família e ouvia os jogos do time com os funcionários do estabelecimento, para desgosto do pai, torcedor do Fluminense, Priscila não escreve sobre o Flamengo. “Sou tão apaixonada por futebol que não me importo de fazer textos sobre outros times. Quem escreve sobre o Flamengo é uma amiga minha. Pra mim, peguei um time que tem uma torcida maravilhosa, que é o Bahia”. O trabalho ainda é “voluntário”, mas elas pretendem fazer dinheiro com essa atividade prazerosa em breve, apesar de não entregarem os planos.

Paranaenses também estão representados

Arquivo Pessoal
Safira, a torcedora do Coxa, foi escolhida pela internet.

No site, também há espaço, é claro, para os times paranaenses da Série A. Priscila até teve dificuldades em encontrar uma colunista do Coritiba porque não conhecia ninguém que torcesse para o time, mas acabou tendo sorte com a internet. E foi assim que conheceu a advogada Safira Prado, 32 anos, que passou a escrever a seção Do Alto de Tantas Glórias. “Fiz contato com ela, por meio do Twitter porque pensei ‘quem escreve bem em 140 caracteres, vai saber escrever textos maiores’. E posso dizer com orgulho que acertei na escolha”, diz.

Safira conta que sua coluna é bastante opinativa. “Raramente, escrevo textos informativos porque os leitores já têm acesso a essas informações nos jornais, mas não escrevo só sobre os jogos. Sempre incluo comentários sobre outras novidades que estão rolando no clube”, explica. A paixão pelo futebol nasceu por influência dos pais que sempre a levaram para assistir aos jogos no estádio. Além da coluna do Coritiba, por ser advogada, Safira também criou a seção Pé Direito & Direito, sobre questões de justiça desportiva.

E, por mais que dentro de campo ainda exista uma grande rivalidade entre Coritiba e Atlético Paranaense, o site só tem uma colunista do adversário graças a Safira. Ela e a estudante Luhana Baldan, 19 anos, se conheceram em um programa esportivo de televisão. Quando o Atlético subiu para a Série A, Safira fez o convite, Luhana aceitou e começou a escrever a seção Por Toda Vida, Furacão. Ela conta que a paixão pelo time surgiu de uma paixão boba de criança. “Quando era pequena, achava a camisa linda e, por isso, comecei a acompanhar o Atlético”, lembra. Depois, passou a ser fanática. “Comecei a ir pro estádio com uns 13 anos, escondida, com as amigas”, ri.

De acordo com Priscila, o Paraná tem grande participação nos acessos do site, sendo o quarto estado em número de visitas – fica atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. E, apesar de os textos serem escritos por mulheres, os homens são maioria entre os leitores – representam 60% do total. Para ela, o preconceito maior também vem do sexo feminino. “As mulheres são as primeiras a falar que somos ‘marias chuteiras’”, reclama. Entre os homens, o grupo conquistou até fã famosos, como o padrinho do site, ninguém menos que Zico.

Arquivo Pessoal
Camisa rubro-negra foi primeira paixão de Luhana.
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