Passar dos 60 anos não é mais sinônimo de velhice

As pessoas que completam 60 anos são consideradas idosas, conforme o Estatuto do Idoso. Elas entram para a terceira idade e esta fase da vida está recheada de acontecimentos. Pode ser o momento de parar de trabalhar, de ajudar a cuidar dos netos, de curtir a casa. Mas, com os filhos criados, também abre-se mais espaço para fazer outras atividades. Antigamente, chegar à terceira idade ou à aposentadoria significava somente descansar depois de tanto trabalho durante toda a vida. Com o passar dos anos, esta já não é mais a realidade de muitas mulheres com mais de 60 anos.

Com os avanços da Medicina, aumentou a expectativa de vida da população e muitas pessoas continuam trabalhando. As mudanças na sociedade também permitiram que estas mulheres percebessem que ainda têm muita vida pela frente e que deveriam aproveitar mais o tempo. Maria da Conceição Androczevecz, 66 anos, é prova disso. Ela decidiu que faria coisas que até então não tinha realizado quando chegou à terceira idade (ou melhor idade, como muitos preferem chamar esta fase). “Você acha que precisa viver melhor a vida. Comecei a procurar coisas que eu ainda não tinha feito. Fiz curso de computação, mas acabei parando com a chegada dos netos”, lembra.

Hoje, ela cuida de um dos netos durante a manhã. À tarde, Maria ajuda o marido na atividade de representante comercial, exercendo atividades administrativa e de relacionamento com os clientes. Ela também participa de atividades da igreja que frequenta, vai ao cinema com o marido, faz suas caminhadas e ainda encontra as amigas. “Faz tão bem esta amizade. É uma amizade verdadeira. A gente não perde tempo conversando. A gente só ganha”, considera Maria.

Marília Machado Pinto, 64, e Rita Regina Brunatto Silva, 59, são do mesmo grupo de amizade de Maria. Cada uma possui sua rotina, mas elas sempre acham uma desculpa para um encontro. Marília e Rita ainda são unidas pela participação em um grupo de dança, que tem ensaios semanais e participa de apresentações, até mesmo em cidades distantes de Araucária, onde moram. “Estou no grupo de dança desde 2007. Contratamos uma professora e vamos aos ensaios. Duas vezes por ano participamos de concurso e estamos indo viajar este fim de semana para isto”, revela Rita. Para ela, dançar ajuda a arejar a cabeça e ainda mexer o corpo.

Ivonaldo Alexandre
Computadores, tablets e smartphones também fazem parte da vida dessas mulheres, que não ficam atrás de nenhuma garotinha de 20 anos.

Além da dança e do trabalho como empresária, Rita está frequentando as aulas de inglês. As oportunidades para viajar aparecem mais agora e não dominar outra língua já está afetando a rotina. A meta é terminar o curso. “Com certeza esta é uma das melhores fases da vida. Já está todo mundo encaminhado e existe mais tempo para você mesma”, assegura. Rita também trabalha bastante a autoestima. “Me cuido bastante. Ganho o dia quando alguém me chama de ‘moça’”, brinca Rita.

Quando se aposentou, Marília acreditava que ficaria mais quieta. Mesmo com compromissos familiares, ela não ficou presa em casa e decidiu criar uma rotina de atividades. Além do grupo de dança, Marília se envolve com atividades na igreja que frequenta, programa viagens e ainda faz questão de encontrar as amigas, entre outras tarefas. “Antes, o primordial era a família. Hoje, consigo aliar tudo isto com outras atividades. A vida está passando. A vida oferece muitas oportunidades e não dá mais para ficar vivendo apenas em função da família. Os filhos já têm as vidas deles”, avalia.

Ela ressalta, que as mulheres maduras de hoje em dia sabem que não precisam necessariamente da companhia masculina para se divertir. Elas se viram e vão em busca do que querem. “Às vezes, queremos fazer algo diferente em Curitiba e algumas não têm carro ou querem voltar mais tarde. A gente aluga uma van e depois dividimos o valor”, relata. Marília ainda afirma que a fase depois da aposentadoria é o momento de reinventar a vida. “Às vezes já aparece um pouco a limitação física. O corpo não ajuda como antes. Mas, sentir-se dona da sua vida, não tem preço. Queria ter essa maturidade de hoje com um corpo de 20 anos. O caminho é estar bem com você mesma. Não tenham medo da idade. Tem que fazer acontecer”, ensina.

Sempre conectadas

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Maria da Cruz é apresentadora de programa que ajuda as pessoas maiores de 60 anos a enfrentar essa nova fase da vida.

A tecnologia está cada vez mais perto das mulheres mais maduras. Podem até existir dificuldades para aprender a lidar com algumas ferramentas, mas elas não se esquivam em incorporar na rotina o computador, o tablet e o smartphone. Exemplo disto vem da Maria da Conceição de Souza, 71. “O tablet facilita bastante pra tudo: jogos, redes sociais, ler os jornais e fazer o que preciso sem ter que ir na agência bancária. Resolvo a vida com o tablet”, conta Conceição (como gosta de ser chamada), que há dois anos ganhou o equipamento de presente.

Ela revela que não queria ganhar o tablet, apesar da insistência dos filhos. “Quando ganhei e me perguntaram se queria devolver, disse que era para deixar aqui. Não devolveria de jeito nenhum”, afirma. Conceição conta que nunca ligou muito para a idade. Garante que é vaidosa e que gosta de se sentir bem, mas que não sofre como outras mulheres em busca da juventude. “Sabendo envelhecer, tudo é muito bom. Não dá para nem querer ser nova e nem dizer que não pode fazer mais nada. Tem que tentar. Não posso mais correr, mas posso andar ligeiro”, ressalta Conceição.

Atividades pra todos os gostos

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Bailes (no centro) são apenas uma das opções de atividades realizadas exclusivamente para o público da “melhor idade”.

Não existe desculpa para a mulher da terceira idade ficar parada. Há disponibilidade de programação social e física em instituições públicas, privadas e filantrópicas. Participar de grupos da igreja, voluntariado, coral, bailes e passeios são algumas das atividades que a mulher encontra facilmente. Um dos projetos voltados especificamente para os idosos é uma iniciativa da rede de farmácias Nissei, o Clube da Melhor Idade. Uma equipe especializada promove bailes e passeios diferenciados para atender a demanda de mulheres e homens na terceira idade, além de viagens.

Maria da Cruz Ramos, 75, integrante do Clube Nissei da Melhor Idade e apresentadora do programa Atitude Nissei, revela que a interação social é muito importante nesta fase da vida. “Com os passeios, as pessoas saem de casa e já começam a conhecer pessoas e fazer amizades”, declara. Ela lembra que já houve participação de pessoas que estavam em depressão e que gastavam tudo o que recebiam de pensão e aposentadoria em remédios. “Essas pessoas dizem que as atividades mudaram as vidas delas. É preciso mexer o corpo e a cabeça”, garante.

Uma faixa etária em constante transformação

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Com mais idade e mais experiência, muitas mulheres estão descobrindo o prazer das viagens, em grupo ou não.

Não há como negar que a terceira idade está passando por mudanças profundas. “Estas pessoas estão vivenciando um mundo que proporciona novas oportunidades, como o turismo, as atividades artísticas, a dança”, opina João Carlos Baracho, médico especialista em Geriatria e Gerontologia e presidente da Associação Médica do Paraná (AMP). Para ele, uma velhice bem sucedida passa pela autonomia física e mental, inserção social e projetos de vida. “Não tem mais espaço para a história de se aposentar e esperar a morte chegar. Isto pode demorar 30, 40 anos”.

Baracho confirma que, ao chegar próximo dos 60 anos, as pessoas tendem a refletir sobre a vida e o que podem fazer no futuro. Neste momento, há um “mergulho” no passado e o resgate de projetos que ficaram parados. “Antes, a prioridade era constituir a família. Para as mulheres, profissão era ser professora. Não eram exploradas todas as outras potencialidades. Agora, as mulheres encontram a chance de materializar estes projetos. É um processo de redescoberta”, indica.

O suporte da Medicina também influenciou neste quadro. A prevenção se tornou essencial para conquistar a longevidade com qualidade de vida. “Começa a luta pela manutenção da autonomia. Além do estímulo à vida saudável, com a prática de atividade física, dieta balanceada e diminuição do estresse, pode ocorrer a introdução precoce de medicamentos que ajudam nesta jovialidade”, explica.