O detalhe que decide

“Transformaram jogadores em halterofilistas”, diz ex-craque Zé Roberto

A primeira coisa que Zé Roberto disse quando nós sentamos à mesa defronte da banca de revistas ao lado da Estação Rodoviária de Serra Negra para conversar na manhã de quinta-feira, 7 de agosto, foi: “Me ligaram domingo de Curitiba. E disseram: a gente tem saudade de você, Zé! Antigamente a gente tinha o Zé Roberto. Hoje a gente tem o Zé Love”. Esta é a herança do craque para a velhice do boleiro: a saudade da torcida. Zé Roberto tem o carinho à distância e perto dele em Serra Negra, onde mora há 23 anos e é a referência futebolística, por seu passado em grandes clubes, pela dedicação de vários anos como treinador de crianças do município ou mais recentemente como o técnico dos veteranos de Serra Negra. Quem nasce para o futebol, morre com o futebol.

Mas, para Zé Roberto, os grandes craques ficaram no passado. Hoje são poucos. “Hoje em dia, quem joga muito é este Neymar. Ele sabe jogar e é craque. Mas tem muitos outros por aí, que não jogam bola de futebol”, diz ele. Ergue os dedos magros, unindo polegar e indicador e diz: “Ele jogam isto, olha! Bolinha de gude de tão pequena. Ganham muito dinheiro e acham que são craques”. Zé Roberto ainda hoje revela desconforto com treinamentos pesados que ele repudiava durante a juventude. “Os jogadores hoje treinam para ser halterofilista e não para jogador de futebol. São montanhas de músculos. Jogador precisa ser craque, habilidoso. Não adianta correr com toda aquela musculatura se não sabe jogar bola. O material de trabalho é a bola. Não é halterofilismo”, diz ele.

Outra coisa que o deixa abismado: “Os atacantes de hoje em dia não chutam no gol. O cara hoje só pensa em levantar ferro. Como um atacante pode ganhar jogo se não chuta no gol?”. Para Zé Roberto, talvez numa defesa inconsciente do estilo que o consagrou, de pouco amor aos treinos, mas decisivo nos dias de jogo, craque se faz nos detalhes. “Um grande jogador ganha a partida no detalhe. Ele não precisa ficar correndo o tempo inteiro. Não adianta correr o tempo inteiro e não ganhar a partida. Sabe quem ganhou a Copa do Mundo de 1958 na Suécia? Quem ganhou foi o Didi. Ele ganhou num detalhe”, diz. “Eu sei que tinha o Pelé, tinha o Garrincha e tinha muito jogador bom. Mas quando nós levamos aquele primeiro gol na decisão e o Didi foi lá no fundo da rede, pegou a bola como se aquele gol não tivesse importância, ele deu moral para todo mundo. Ali ele quebrou todo mundo. E a gente ganhou a Copa ali. Naquele detalhe”, diz ele.

Ele pega este exemplo para fazer um contraponto com a goleada que o Brasil levou da Alemanha de 7×1, na semifinal da Copa deste ano. “O contrário do que ocorreu com Didi aconteceu nesta Copa. Nós perdemos a partida porque o David Luiz estava de costas e resolveu virar. Quando ele virou, ele não viu a bola. Se ele não virasse, ele raspava e a gente não levava o gol. E aquele gol que poderia ser evitado, desmoronou o time. Não teve ninguém para fazer o que o Didi fez. O David Luiz joga bem, mas ali eu entendi porque o Mourinho não gosta dele”, diz Zé Roberto.

Serra Negra

“Eu vim parar aqui em Serra Negra por causa de uma amiga (na realidade, seria uma namorada do atacante na época, que morava na cidade), Maria Deise Poleto. Eu morava em São Paulo e vim passear. Aí eu gostei daqui e fiquei. Eu fiz um concurso para técnico de esportes da Prefeitura e passei em primeiro lugar. Isto aconteceu há mais de 23 anos. Acho que foi em 1988. Fiquei e estou aqui até hoje. Agora eu estou aposentado. Aqui é ótimo”, conta.

Os gols pelo Coritiba

‘As pessoas perguntam se há um motivo especial por eu ter feito mais gols pelo Coritiba na minha carreira. Mas o motivo é simples. Eu marquei mais gols quando eu joguei no Coritiba porque eu joguei mais tempo lá.”