Esse menino vale ouro

Pachequinho chegou a ser garantia para a prefeitura

Um dos episódios folclóricos que envolveram o Coritiba nos anos 90 e que é pouco lembrado porque se não mancha a história do clube, também não a engrandece, foi a dívida acumulada com a prefeitura da capital relativa ao Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). O time devia, não negava, mas dinheiro que era bom para o pagamento, não existia. E se não pagasse, o estádio Couto Pereira podia ser objeto de ação de execução judicial. Para não comprometer o estádio, principal patrimônio do clube, a solução foi dar em garantia algo que tivesse valor no mercado, para o time não sofrer represálias de natureza econômica. O Coritiba não se apertou e colocou o passe do ponta-esquerda Pachequinho, no momento o jogador mais valioso de todo o elenco, como garantia de que o débito seriar pago.

Ainda hoje alguns velhos adversários quando desejam apimentar uma discussão e o assunto é eficiência administrativa lembram-se do episódio, cuja data exata, como pedem os episódios folclóricos, fica na bruma da história. Mas teria sido em 1993. Este episódio é lembrado apenas para demonstrar para os torcedores atuais o que representava Pachequinho para o Coritiba nos anos 1990.

No time dos sonhos

Um outro episódio ilustra a importância do atacante para o alviverde do Alto da Glória. Em outubro de 2009 a revista Placar publicou uma edição especial relativa aos 100 anos de fundação do Coritiba Foot Ball Club.

A revista com o título de “100 Anos de Glória” e com o subtítulo de “Edição do Colecionador” traz as 100 melhores partidas, os 100 maiores jogadores e também o “Time dos Sonhos” que tem o lendário Elba de Pádua Lima, o Tim, como técnico. A equipe dos sonhos é formada por Jairo, Fedato, Ninho, Pizzatinho, Kruger e Nilo. O pelotão dianteiro é formado por Lela, Miltinho, Duílio, Zé Roberto e Pachequinho. Para agasalhar Pachequinho, quem escalou o time acabou colocando Kruger mais recuado e deixou de fora outro ídolo alvi-verde, Tião Abatiá. Na lista dos 100 homens “de verde e branco”, Pachequinho está em sexto lugar, logo à frente de Kruger e atrás de Lela. Zé Roberto é o oitavo.

A revista traz Tião Abatiá em 38º lugar e Pescuma em 49º. E o primeiro é Miltinho, que jogou no Coritiba de 1949 a 1963 e cuja lembrança faz brilhar os olhos dos velhos torcedores que o viram jogar. Outro exemplo da importância do craque no coração do torcedor coritibano é a sua presença em seis páginas do livro ‘Eternos Campeões’, editado pelo grupo dos Helênicos. Ou seja, o mesmo número de páginas dedicado a uma das feras da história do Coxa, Zé Roberto. O livro reconhece as principais habilidades do atacante: “Goleador nato e de amplos recursos, Pachequinho mandava a bola para as redes adversárias das mais variadas maneiras, inclusive de cabeça, pois, mesmo tendo apenas um metro e sessenta e quatro centímetros de altura, posicionava-se com perfeição e tinha extraordinária noção do tempo de bola”. Os anos 1990 não foram os melhores da história do Coritiba, com o clube, em boa parte da década, na segunda divisão do futebol brasileiro e assistindo à hegemonia do Paraná clube no certame estadual, mas havia um alento e, antes de o clube revelar Alex, entre o torcedor que viu Pachequinho jogar naquele tempo há a sensação de que o garoto carregou o time nas costas.