Lenda Viva

Negreiros era contestado no Coxa, até comandar vitória

Era quarta-feira. Noite de 8 de setembro de 1971. O Coritiba foi jogar contra o Corinthians no estádio Palestra Itália, em São Paulo, em partida válida pela nona rodada do Brasileiro. Se perdesse, estaria desclassificado. Para o jogo, o técnico Tim pensou armar uma bela retranca. Ele colocou Renatinho no lugar de Negreiros, primeiro por conta da retranca e segundo porque começaram com uma conversa mole de que o craque veio de Santos atrás de dinheiro e não mostrava o seu fino futebol.

Negreiros ficou no banco de reservas com a camisa número 13 nas costas observando a partida. O Corinthians tinha craques como Rivellino, Mirandinha e outros que estabeleceram uma heroica virada de 4×3 no dia 25 de abril do mesmo ano em cima do Palmeiras, no Morumbi, pelo Campeonato Paulista, naquele que é considerado um dos maiores confrontos entre as duas equipes.

Era praticamente o mesmo Corinthians que em poucos minutos fez 2 a 0 contra o alviverde do Paraná. “Depois do segundo gol eu achei que a gente ia levar uma goleada humilhante”, disse Tião Abatiá que estava em campo naquela noite. Mas na beira do gramado o técnico Tim pensou diferente. Ele lembrou que no banco tinha Negreiros. “Ele olhou para mim e disse: ‘entra, Negreiros’”, conta o meia-direita. “Como era ele quem mandava, eu entrei”, disse Negreiros. O meia-direita entrou aos 40 minutos e aos 43 numa arrancada do ataque do Coritiba Negreiros tabelou com Leocádio e chutou forte em direção do gol, o goleiro Ado deu rebote e Leocádio aproveitou e tocou para o fundo das redes. O que era para ser goleada, ficou com cara de resultado apertado.

Reação inacreditável

No segundo tempo a história seria parecida com a história do jogo entre Corinthians e Palmeiras: só que desta vez seriam os corintianos que iam provar o veneno da virada histórica. Aos 17 minutos o goleiro Célio fez reposição de bola que Negreiros amorteceu para Rinaldo, que serviu Tião Abatiá, para num chute de direita fazer o segundo gol. O jogo estava empatado. E Quando faltavam dez minutos para terminar a partida, a estrela de Negreiros brilhou mais uma vez: deu um chapéu em Suingue no meio campo, matou a bola na coxa, carregou a bola em direção do gol adversário, se livrou do zagueiro Luís Carlos com um leve toque e na entrada da área passou para Paquito que, de fora da área, chutou de esquerda. A bola foi no ângulo. Um golaço. Naquela noite Tim descobriu que era melhor ter Negreiros em campo que ficar fazendo birra com ele nos bastidores.

Na capital paranaense os jornais se rejubilavam: “Coritiba foi sensacional – agora dá para se classificar”, disse a manchete da Tribuna. Sobre Negreiros: “Entrou Negreiros e mudou o panorama”. Naquela noite Negreiros gravou com ferro quente seu nome na história do Coritiba Foot Ball Club.

Um vencedor

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“O Santos vencia sempre e aqui no Coritiba não me lembro de participar de uma competição em que a gente não venceu. Quase todos os títulos nós ganhamos.”

“O Nego resolve”

Talvez por conta da cobrança excessiva que sempre teve no Santos por substituir uma lenda do futebol brasileiro, o meia Mengálvio, Negreiros tinha o hábito de ser o último a entrar em campo – e seus companheiros diziam que ele entrava meio nervoso. E começava as partidas ainda nervoso. Ele era habilidoso, entrava com as meias arriadas e a primeira coisa que ele tentava, para se acalmar, era passar a bola entre as pernas de um adversário. Quando conseguia fazer isto, ele se acalmava e dizia para os companheiros do time: “Agora sim. Agora podem passar a bola pro Nego, que o Nego resolve”. E ele resolveu tantas vezes que perdeu a conta.

Em Porto Alegre

“No Grêmio, eu não ganhei títulos porque fiquei pouco tempo. O time era muito bom. Tinha o Ancheta, que era da Seleç&at,ilde;o do Uruguai e muitos outros. Mas naqueles anos os times do Internacional eram muito fortes, meio campo com Falcão, Batista e Carpegiani. Depois sai um e entra o Caçapava. Tinha aquele zagueiro central da Seleção Chilena que eles adoram ele, o Figueroa. Era um timaço e difícil de vencer. Eu tenho boas recordações deste tempo. E também conquistei muitos amigos. Isso que é o bom’.

Máquina Coxa

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A segunda fase do Campeonato Brasileiro começou no dia 20 de novembro com um jogo entre Palmeiras e Coritiba no Pacaembu e mais uma vez o valor do meia-direita, se é que fosse preciso comprovar, foi comprovado. O Palmeiras saiu na frente com Cesar Maluco cobrando um pênalti aos 32 minutos do segundo tempo. No final da partida, aos 45 minutos do segundo tempo, Reinaldinho cobrou escanteio, Leão rebateu, Pescuma tentou marcar de cabeça, a defesa deu rebote e Negreiros, com o joelho direito escorou a bola com vigor, que pegou um efeito estranho e foi parar no ângulo, sem chance de defesa para o goleiro Leão. O jogo estava empatado em cima da hora. As partidas contra o Corinthians e o Palmeiras naquele segundo semestre de 1971 pelo Campeonato Brasileiro são dois exemplos da importância de Negreiros naquele time do Coritiba.

Não quis a Libertadores

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‘O time do Santos podia ser o maior vencedor da Libertadores. Mas o time ganhava muito mais fazendo amistosos e torneios no exterior”.