Nervos à flor da pele

De Sordi tinha currículo de respeito, mas a Copa de 58 foi uma surpresa

Se alguém pegar o currículo de De Sordi, os antecedentes reforçam a teoria dele, de que não afinou na final em 1958. É um portfólio de craque. O lateral-direito é o quarto jogador que mais atuou pelo São Paulo, foram 543 partidas, durante treze anos, conquistando dois títulos paulistas, em 1953 e 1957, além de ser tricampeão brasileiro de seleções – na época em que havia campeonato brasileiro de seleções – com a Seleção de São Paulo, levantando as taças de 1952, 1954 e 1956. Ele tinha ótima impulsão, era muito rápido, habilidoso e excelente marcador, além de jogar ao lado do grande Mauro no São Paulo, que foi reserva de Bellini em 1958 e que ergueu a Jules Rimet em 1962.

De Sordi ainda participou da disputa da Taça Osvaldo Cruz pelo Brasil e só não foi ao Sul-Americano de 1959, porque sofreu um rompimento dos ligamentos do tornozelo. Pela Seleção Brasileira, De Sordi fez 25 jogos, com 17 vitórias, sete empates e apenas uma derrota, ainda assim num amistoso contra a Itália, em 1956. Mas ficou marcado por não aparecer na foto dos campeões de 1958, porque não jogou a final por estar machucado. Agora, a fama de que afinou não surgiu por acaso. A ansiedade brasileira para ganhar um título e espantar o trauma de 1950 era tão grande, que qualquer coisa virava polêmica. Os nervos estavam à flor da pele na campanha na Suécia – ainda que o Brasil tivesse Pelé. E todo mundo fazia o máximo – daí para alguém achar que De Sordi devia jogar machucado era um passo.

O Brasil começou perdendo duas vezes naquela final e nas duas vezes foi preciso um esforço, quer dizer, uma jogada psicológica, para os jogadores não se abaterem. Começou com o sorteio das camisas. Tanto Brasil quanto Suécia, tinha como uniforme principal camisa amarela e calção azul. Para ter ideia de como este detalhe cromático influenciava o imaginário dos jogadores, basta dizer que depois que perdeu a final contra o Uruguai por 2 a 1 em 1950, no Maracanã, o Brasil nunca mais jogou com seu tradicional uniforme até então – detalhe que muitos desconhecem – que era o branco. E adotou a cor amarela. Que dava sorte. Sem contar que desde então, goleiro negro na Seleção era quase um milagre – porque o goleiro daquela derrota, Barbosa, era negro.

Despedidas

Curiosamente, Djalma Santos e De Sordi encerraram as suas carreiras de laterais-direitos no Paraná. O primeiro chegou em 1968 e jogou até 1970, quando foi campeão estadual com a camisa do Clube Atlético Paranaense. Estava com 41 anos de idade, e ainda fez dois gols – os dois últimos dos 45 gols na carreira. Pelo Atlético, fez 32 jogos. De Sordi chegou a Bandeirantes em 1965 para ser fazendeiro, depois de se aposentar no São Paulo após treze anos no tricolor paulista, mas ele acabou cedendo aos apelos do proprietário da Usina de Açúcar e Álcool Bandeirante, Serafim Meneghel, que montou um time de futebol – o União Bandeirante. Serafim era casado com a irmã da mulher de De Sordi, que se chama Cecília. E o lateral-direito jogou mais um ano com a camisa do União para, em seguida, ser técnico do time. E como não bastassem tantas coincidências, os dois laterais da Seleção Brasileira de 1958 morreram no mesmo ano – 2013. Djalma Santos no dia 23 de julho, em Uberaba, aos 84 anos, e De Sordi em 24 de agosto aos 82 anos.

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