Campeão fora da foto

De Sordi jogou todos os jogos de 1958, menos o da decisão

Quem foi o grande lateral-direito da Seleção Brasileira em 1958? Se fizer a pergunta a dez torcedores, certamente nove, ou talvez dez, vão responder que foi Djalma Santos. E muitos nem vão suspeitar que o lateral-direito considerado o maior de todos os tempos pela Fifa, que foi eleito o melhor daquela copa em sua posição, assim como ocorrera em 1954 e aconteceria quatro anos depois no Chile, jogou apenas uma partida em 1958: justamente a final. Nas outras seis partidas, o titular que deu conta do recado, foi Nilton De Sordi, lateral-direito do São Paulo, clube em que era chamado de Muralha do Morumbi. De Sordi machucou o joelho antes da final, na partida contra a França, passou por tratamento e na hora de avaliar se dava para ir para a decisão, ele achou arriscado. Não foi e abriu caminho para o reserva.

“Fiz tratamento, mas no dia da final, senti que não dava para arriscar”, disse ele. Poderiam falar que ele pensou na equipe em primeiro lugar. No entanto, com De Sordi aconteceu o contrário. Ele teve de conviver o resto da vida com a acusação de que sentiu o peso da decisão, que sua contusão era decorrente do medo e ele afinou. O lateral abriu caminho para Djalma Santos, que não tinha nada com isso, entrou, foi bem, foi campeão e faturou todas as glórias da competição – e apareceu na foto do time campeão do mundo. Esta talvez tenha sido a maior mágoa na carreira de De Sordi, jogador que nasceu no dia 14 de fevereiro de 1931 em Piracicaba e morreu no dia 24 de agosto do ano passado em Bandeirantes, no Norte do Paraná, em decorrência do Mal de Parkinson. Em Bandeirantes, De Sordi encerrou a carreira de jogador no União Bandeirante, em 1966, onde foi treinador e ficou vinculado ao clube até os anos 90.

No entanto, o desfalque na partida final em 1958 marcou a sua carreira. “Quem me conhecia sabia que eu não era assim. Nunca tremi, estava acostumado a jogar finais de campeonato. Fiquei com a consciência tranquila. Isso foi uma maldade. É bom ter a chance de esclarecer isso tanto tempo depois, porque muita gente falou coisas absurdas, que logo viraram lendas. Mas a verdade é que eu não entrei em campo simplesmente porque não estava bem fisicamente e não quis prejudicar a minha equipe”, justificou anos mais tarde. “O desfalque na final acabou marcando minha carreira, mas fiz questão de relevar. Afinal, quem me conhecia sabia que eu não era assim. Nunca tremi, estava acostumado a jogar finais de campeonato”, disse.

Além disso, De Sordi tinha um bom argumento a seu favor: “Foi uma decisão acertada. Na época, não se podia fazer alterações no meio do jogo. Se eu não conseguisse atuar bem nos 90 minutos, o time ficava com um a menos em campo. Para não prejudicar a equipe, resolvi não entrar e dar meu lugar ao Djalma Santos”, contou ele. Mais tarde, em 2003, ele inclusive fez uma comparação com uma situação oposta, a do atacante Ronaldo na Copa do Mundo na França. “A minha situação era bem diferente do que aconteceu em 1998”, lembrou. “O Ronaldo não estava bem, foi a campo e deu no que deu”, disse ele. Se ele fosse a campo e prejudicasse o time, ele seria o vilão se o Brasil não vencesse. Era uma situação complicada: ele não foi, o Brasil venceu e o jogador ficou com a fama de quem afinou na hora decisiva. Mas ele releva tudo isto com uma frase resignada: “Nós cumprimos a nossa missão. Isso eu tenho certeza”. Passados 45 anos da conquista, o campeão do mundo pelo Brasil na Suécia ainda era lembrado na Europa. Em 2003, ele disse: “Até hoje recebo cartas de parabéns de vários países. Dias destes, eu recebi uma da Alemanha”. Mas, no Brasil, virou quase um desconhecido.

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