Um peru inesquecível

Para mil e uma noites de Natal, temos também mil e uma receitas de peru. E temos ainda receitas de chester, que não passa de um galináceo travestido de peru. Gosto não se discute nestes dias de temperança, mas para o meu gosto nada se compara à receita do “Peru à Califórnia” que provei pela primeira vez no saudoso Restaurante e Confeitaria Iguaçu, na sobreloja do Edifício Artur Hauer, Praça Osório, na esquina da Boca do Brilho com a Rua das Flores.

O peru escoltado por uma miríade de frutas – enlatadas ou da estação -, no Natal esse era o destaque da elegante casa da família Mehl, inaugurada em 12 de fevereiro de 1958, assim descrita naquele dia por esta Tribuna do Paraná: “Hoje, mais um estabelecimento de classe será entregue à sociedade curitibana. Trata-se da magnífica Confeitaria Iguaçu, situada num dos pontos mais luminosos da Cinelândia deste Planalto. O novo ‘cercle’ especialmente destinado às famílias de Curitiba, que de tão reduzido número de locais dispõem para algumas horas de lazer em ambiente selecionado e fino, virá preencher um vácuo que há muito se vinha observando”.

Fundada pelo patriarca Leopoldo Mehl, nos moldes da Confeitaria Colombo do Rio de Janeiro e com tortas inenarráveis feitas pelo confeiteiro alemão Bruno, ao primeiro olhar o que marcava no grande salão era o imenso mural com a pintura das Cataratas do Iguaçu, além dos mármores, das porcelanas e cristais das melhores procedências, com toalhas e guardanapos brancos engomados. Destaque no cardápio (além do “Filé Iguaçu”, “Peixe recheado Iguaçu”, “Língua à caçarola” e a “Peixada ao forno”) era o “Camarão à Martha Rocha”. Quando a Miss Brasil 1954 veio desfilar no Graciosa Country Club, foi homenageada com esse prato feito que ficou para a história da gastronomia curitibana.

Na ceia de Ano Novo, os graúdos camarões da Martha Rocha marcaram época. Mas na ceia de Natal, o peru com frutas da dona Dib, esposa de Leopoldo Mehl, é inesquecível.