Coelho mais magro

Coelho mais magro
Foto: Pixabay

Nos últimos anos, o comércio de ovos de Páscoa não tem se mostrado tão satisfatório quanto antigamente. Dados do Serasa apontam que, em 2016, a queda nas vendas durante a semana que antecedeu o feriado foi de 9,6%, em relação ao ano anterior (2015), o que correspondeu ao pior desempenho em dez anos.

Ao analisarmos essa queda, não podemos nos prender somente ao problema da atual conjuntura econômica do país, mas é preciso avaliar também os fatores demográficos e culturais. Há dez anos, a pirâmide etária contava com mais jovens e crianças, a grande fatia de consumo no período da Páscoa.

Atualmente, a maior parte da população é adulta – os mesmos jovens de dez anos atrás. E a população jovem, uma geração mais preocupada com a saúde, não consome mais a mesma quantidade de chocolate, hábito que se dá devido a aspectos culturais ligados à diminuição do consumo de açúcar.

No entanto, analisando de forma ainda mais pontual, vemos que um grande influenciador do consumo do chocolate na Páscoa pode ser o aspecto qualitativo. Cada vez menos a quantidade é o atributo principal – e outras característica, como inovação no formato, nos sabores, na embalagem e em novos componentes, agregam na procura e chamam a atenção do consumidor.

Não é a toa que as grandes fabricantes têm apostado em marcas tradicionais – que são seus carros chefes -, em ovos com caixas de som, e no relançamento de antigos chocolates, “queridinhos” do público que hoje é adulto. Para termos uma ideia, 42,5% das vendas, em valor, dos ovos de Páscoa são acompanhados de brinquedos – o que indica que quem mais movimenta esta data ainda é a criançada (e que nem sempre o chocolate é o fator principal).

Analisando, portanto, o mesmo aspecto qualitativo, a famosa gourmetização chegou também nesse nicho de mercado. Hoje, o crescimento na demanda dos profissionais da área de confeitaria, e até mesmo de autônomos que se aventuram em criações nessa época do ano, é imensa.

O que acontece é que esses profissionais acabam aproveitando uma nova onda, apostando na originalidade e fugindo da “massificação” imposta pela indústria dos ovos de páscoa, mordendo, assim, uma parte da fatia de grandes indústrias. A grande verdade é que mesmo com queda nas vendas, maior a cada ano, a tradição de compra e venda dos ovos de Páscoa está longe de desaparecer. Com isso, apenas podemos concluir que a Páscoa deve continuar sendo doce, porém, não tão rentável como antigamente.

* Leandro Krug Batista, coordenador do MBA em Gestão do Varejo e Administração de Shopping Center da Universidade Positivo (UP), consultor de Franchising e Gestão de Redes de Varejo e Mestre em Gestão Estratégica.