Crise alérgica, lembrança da primavera

Tudo começa quando o pólen ou outro alérgeno entra nas vias aéreas. Em resposta a presença deste “corpo estranho”, o organismo envia células do sistema imunológico para aquele local.

Elas grudam nos invasores e iniciam uma “batalha” para eliminá-los. Essa disputa provoca uma inflamação que vai parar nos pulmões.

Quando isso acontece, os músculos ficam inchados e mais propensos a entrar em espasmo contraindo os brônquios e prejudicando a circulação de ar. Par uma crise alérgica não falta mais nada.

No entanto, as pessoas que não sofrem de alergia ao inalar poeira, por exemplo, não apresentam nenhuma reação.

Se isso acontecer com uma pessoa alérgica, logo surge um festival sintomas que vão desde espirros, olhos vermelhos até a falta de ar.

Apesar de muitas vezes não deixar de ser uma forma de defesa, de alguns anos para cá, nunca se falou tanto em alergia. Ainda mais agora na primavera e, principalmente, na região Sul, onde um dos principais agentes causadores do transtorno, o pólen das flores, permanece suspenso no ar.

A imunologista clínica Elizabeth Maria Mercer Mourão explica que a alergia tem caráter hereditário. “É uma herança genética, familiar, porém só se desenvolve no momento em que o organismo é sensibilizado por algum tipo de agente externo”, diz, ressaltando que os estímulos para o surgimento do distúrbio podem ocorrer em qualquer época da vida. De acordo com a especialista, é comum pessoas de mais idade sofrerem suas primeiras crises alérgicas. “Isso acontece devido à exposição a algum tipo de alérgeno do qual é sensível, pela primeira vez na vida”, explica a especialista.

Resposta do organismo

O pediatra Carlos Eduardo Gubert comenta que, se a pessoa não tiver familiares alérgicos, a chance de sofrer de algum tipo de alergia é de 20%. “No entanto, se o pai ou a mãe são alérgicos, a chance aumenta para 35%. Se os dois lados da família tiverem alergia, esse índice gira em torno de 70% a 75%”, esclarece.

Elizabeth Mourão relembra que a alergia é uma situação clínica em que o organismo da pessoa responde de maneira exagerada à interação com determinadas substâncias, enquanto a maioria das pessoas convive normalmente com o ambiente, independentemente da temperatura, umidade ou poluente.

De acordo com a pneumologista Marta de Fátima Guidacci, diversos estudos epidemiológicos apontam que o aumento no número de casos de alergia é conseqüência da crescente poluição no ar, principalmente nos grandes centros urbanos, e da péssima qualidade de vida – que inclui principalmente maus hábitos alimentares e, até mesmo, o sedentarismo.

“Existem vários tipos de alergia e cada um tem suas próprias características”, explica. Embora cada organismo reaja de uma forma diferente a determinada substância, os causadores mais comuns são: ácaros, pólen, fungos, descamação de animais, insetos, alimentos e medicamentos.

Testes específicos

Os principais sintomas da alergia são bem conhecidos: coceiras nos olhos e no nariz, espirros, narinas congestionadas, tosse e falta de ar. Há também alergias que causam reações como urticárias – lesões avermelhadas que coçam – inchaços, dor de estômago e diarréias.

“O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais e testes específicos, como o de função pulmonar e os cutâneos, nos quais são verificadas as reações a determinadas substâncias”, realça Marta Guidacci. Para pacientes que sofrem de alergias a medicamentos, a identificação é feita pelo histórico clínico.

Elizabeth Mourão reconhece que a alergia não tem cura, mas pode ter controle quando são conhecidos seus agentes causadores e a pessoa passa por um tratamento adequado.

São utilizados medicamentos orais e às vezes at&ea,cute; vacinas. Alguns cuidados básicos podem minimizar os efeitos das alergias. Uma boa ventilação em casa é fundamental, e limpá-la com pano úmido pode ajudar a não espalhar o pó.

Além disso, deve-se evitar acumular objetos que costumam juntar muito pó. Carpetes e tapetes também são considerados grandes vilões. Entretanto, principalmente se tratando das crianças, o cuidado não deve ser excessivo.

“Os ambientes devem ser limpos, mas não excessivamente esterilizados. As crianças precisam ter contato com quantidades aceitáveis de alérgenos, vírus e bactérias para criar imunidade”, reforça Carlos Gubert.

As três maneiras básicas de tratar alergias são medicação, vacinas (imunoterapia) e interrupção do contato com substâncias que provocam o distúrbio.

Recomenda-se evitar os alérgenos, mas se uma pessoa tiver uma alergia que provoca reações respiratórias, por exemplo, é bom carregar sempre um medicamento antialérgico, que ajudará a desobstruir suas vias aéreas até conseguir chegar a um pronto atendimento e receber tratamento médico adequado.

Reações alérgicas

As alergias são reações exageradas do sistema imunológico a substâncias que não causam sintoma algum na maioria das pessoas. Confira, as principais reações.

>> Rash cutâneo – Normalmente provocado pela ação de agentes químicos.
>> Coriza e nariz entupido – Provocados, entre outros, por poeira e pólen.
>> Coceira nos olhos – Reações provocadas, principalmente por poeira, pólen, maquiagem, fumaça.
>> Distúrbios estomacais ou intestinais – Provocados por alergia a algum tipo de alimento, estresse.
>> Tosse, falta de ar, chiado no peito – Disfunções respiratórias são provocadas por diversos tipos de alérgenos.

Nem tudo são flores

Saem as crises alérgicas provocadas pelas condições climáticas próprias do inverno e, infelizmente, entram em campo outros agentes causadores de alergia, entre eles a polinose, provocada pelo pólen das plantas levados pelo ar. É a já conhecida “alergia da primavera”, doença respiratória causada pela sensibilização exagerada ao pólen das flores.

Essa manifestação alérgica pode trazer manifestações desagradáveis, como coceiras no nariz, olhos vermelhos e lacrimejantes. O imunologista Nelson Augusto Rosário Filho, da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Sbai), salienta que as principais preocupações são com o surgimento de rinites e conjuntivites intensas, ocasionalmente acompanhadas de asma brônquica. A incidência é maior em adultos jovens, de até 30 anos e que sofram de rinite alérgica ou outro tipo de alergia com causas hereditárias.

“Um número importante de pacientes teve diagnóstico de alergia sazonal, com sintomas acentuados”, relata. Desses, explica o especialista, 80% eram moradores de Curitiba e da região de Ponta Grossa. Com efeito, uma pesquisa detectou que o pólen de plantas forrageiras é um dos principais causadores da alergia.

De acordo com Nelson Rosário, ao contrário das alergias perenes, onde os sintomas são contínuos e freqüentes, os sintomas da polinose aparecem no período da primavera, alcançando sua intensidade máxima no mês de novembro.

De acordo com algumas variações climáticas, a incidência da alergia pode ser retardada, mas basta chegar os dias de muito calor e vento para que elas surjam com intensidade.