Um ano de incertezas no crime do Morro do Boi

Transcorrido um ano da tragédia ocorrida no Morro do Boi, em Caiobá, onde os estudantes Oziris Del Corso, 22, e Monik Pergorari de Lima, 23, foram baleados (ele morreu e ela ficou paraplégica), o caso continua intrincado.

O juiz de Matinhos pode anunciar a sentença nos próximos dias, condenando ou não Juarez Ferreira Pinto, 42, único preso e acusado formalmente pelo crime, muito embora não exista qualquer prova contra ele, além do reconhecimento feito por Monik, através de fotos (e depois pessoalmente) quando ainda estava no hospital.

Os defensores de Juarez advogados Nilton Ribeiro de Souza, Mário Lúcio Monteiro Filho e Joe Robson Coppi entregaram à Justiça as alegações finais, apresentando contradições verificadas ao longo do inquérito e durante o processo, pedindo a nulidade de todos os atos.

No documento, com 73 páginas, os advogados asseguram que não houve imparcialidade da Justiça na apuração dos fatos; que a competência do julgamento é do Tribunal do Júri, por se tratar de crime de homicídio (e não júri singular, em que apenas o juiz dá o veredito e determina a sentença), e que e defesa sofreu cerceamento.

Confissão

O grande trunfo da defesa foi produzido pela polícia, que sete meses após o crime, prendeu Paulo Delci Unfried, 32, acusado de assaltos e estupros, em balneários de Pontal do Paraná.

No carro dele foi encontrado o revólver calibre 38 usado contra os estudantes. Paulo confessou o ataque aos jovens a um delegado e três presos, com os quais dividia a cela, em Matinhos. Depois, tentou se enforcar e passou a negar a autoria do crime, dizendo que foi torturado para fazer a confissão.

Ele responde a cinco processos por furto, roubo e estupro, todos ocorridos em julho do ano passado, mas, estranhamente, foi colocado em liberdade. As vítimas o reconheceram e inclusive reconheceram o revólver que ele usava, mas isso não foi suficiente para mantê-lo na cadeia.

Perversão

Nos assaltos, segundo as vítimas, Paulo ordenava que as mulheres tirassem as roupas, mesma atitude adotada pelo matador do Morro do Boi, que mandou que Monik ficar nua após render o casal.

Nesse momento, Oziris reagiu e foi baleado e morto. Tiros ricochetearam nas pedras e atingiram Monik, que ficou paralítica. Embora ela insista em reconhecer Juarez, fica claro no processo que a jovem viu o autor apenas de relance.

Ironicamente, Paulo e Juarez são muito parecidos e o retrato falado feito pela sobrevivente tanto pode remeter à fisionomia de um ou de outro. Juarez, que já cumpriu pena por tráfico, nega a autoria do delito.