Travestis são mortos dentro de restaurante

Dois travestis foram assassinados, no fim da madrugada de ontem, por motoqueiros que invadiram o restaurante dançante Gato Preto, no centro, e atiraram à queima roupa.

Outros três clientes foram baleados e permanecem internados. Cerca de 80 pessoas estavam no estabelecimento no momento do crime, que está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios.

Conforme testemunhas, por volta das 5h30, os marginais chegaram ao restaurante, na Rua Desembargador Ermelino de Leão, numa motocicleta – possivelmente uma Yamaha amarela.

Armados com pistolas e sem tirar os capacetes, os dois se identificaram como policiais. Enquanto um deles rendia dois seguranças do estabelecimento, o comparsa entrou no restaurante e foi direto até a mesa no canto do restaurante onde seis pessoas estavam sentadas, todas travestis, segundo o dono do estabelecimento Natal Santos.

Invasão

“Ele empurrou o garçom que estava indo servi-las e atirou”, contou o proprietário do restaurante, que funciona há 40 anos e é frequentado por um público diversificado. “Tem juiz, advogado que também vêm jantar aqui”, exemplificou Natal. “Nunca aconteceu nada desse tipo aqui”.

Pelo menos 15 tiros foram disparados acertando cinco pessoas. Douglas Lemes Resende, 25 anos, a “Eduarda Resende” ou “Duda Top”, morreu no local. Outro travesti, identificado apenas como “Mirela”, que teria apenas 16 anos, foi encaminhado pelo Siate, mas morreu ao dar entrada no Hospital Evangélico.

Willian Henrique Vicente da Silva, 16, Adriano da Silva Oliveira, 20, e Rodrigo de Araújo Solda, 32, também foram baleados e permanecem internados no Hospital Evangélico.

Um deles foi atingido na perna e outro no peito. Os dois, de acordo com o hospital, estão conscientes. O adolescente foi ferido com quatro tiros que acertaram no peito, barriga, perna e quadril e seria submetido a cirurgia. Natal acredita que os menores possam ter apresentado documento falso aos seguranças.

Vingança é uma das hipóteses

Quando começou a fuzilaria, os clientes saíram correram sem pagar a conta. “Alguns conseguiram sair pela porta de emergência. Outros correram pela porta da frente”, comentou o dono. No local, foram recolhidas nove cápsulas de calibre 380 e um projétil que serão periciados.

Os marginais fugiram na moto e até o final da tarde não haviam sido localizados. Segundo a polícia, ninguém anotou as placas do veículo. Os mesmos motoqueiros teriam feito disparos na frente de outro bar sem deixar feridos.

“Pode ser um acerto de contas de droga. Comentou-se também que, um dia atrás, os travestis apedrejaram o carro de uma pessoa”, disse Natal Santos, o dono do Gato Preto.

Câmeras

A Delegacia de Homicídios já começou a ouvir testemunhas, porém a polícia informou que ainda é cedo para apontar o motivo do crime. Também é verificado se câmeras de segurança de estabelecimentos da região flagraram a ação dos marginais. Os criminosos terem permanecido o tempo todo com capacete também dificulta a identificação.

A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) enviou ofício à Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e à Secretaria Estadual de Segurança Pública pedindo “esforços por parte das autoridades competentes para que os autores do crime sejam identificados e punidos exemplarmente (…) independente da orientação sexual ou identidade de gênero das vítimas”.

Baleado

Naquela mesma rua, Geo Gonçalves Lopes, 39 anos, foi baleado na cabeça dentro de um Golf, no fim da noite de domingo. Ele permanece internado na UTI do Hospital Evangélico e a Delegacia de Homicídios investiga se ele foi vítima de assaltantes.

O carro estava estacionado na esquina da Rua Cruz Machado, a uma quadra do Gato Preto. O dono do restaurante disse que soube do crime, mas tinha conhecimento de detalhes.