Testemunha diz que dono da Centronic sabia do assassinato do estudante

Um dos sócios da empresa Centronic Segurança e Vigilância, Nilso Rodrigues de Godoes, sabia que seus funcionários seriam os responsáveis pelo assassinato do estudante Bruno Strobel Coelho Santos, 18 anos, morto na madrugada de 3 de outubro. A afirmação é de uma testemunha das torturas impostas ao garoto. Esta pessoa comunicou Nilso da agressão e do encontro do corpo, no dia 8. Porém, o empresário preferiu ignorar o fato, alertando que ?se não houvesse denúncia, ficaria por isso mesmo?. ?Vamos deixar quieto?, teria dito, prometendo demitir os envolvidos, um a um.

Outra testemunha contou que, pouco antes de Bruno, outro rapaz, possivelmente um guardador de carros, foi levado para o pátio da empresa, no porta-malas de um carro e também foi espancado pelos vigilantes. Segundo a denúncia, Eleandro Luiz Marconcini e Emerson Carlos Roika, 33 anos, detiveram o desconhecido, às 23h40 do dia 2, e o agrediram por aproximadamente 40 minutos. A violência ocorreu no próprio porta-malas do carro e, além do espancamento, a vítima sofreu asfixia, com uma sacola plástica. ?A vítima gritava e os vigilantes se divertiam?, revelou a testemunha. Depois da tortura, os dois vigilantes levaram o homem embora. Não se sabe o que aconteceu com ele.

Bruno

Reprodução
Eleandro: espancamento.

No caso do estudante, pouco depois, Marlon Balem Janke, 30 anos, avisou através do rádio ao operador que havia detido um ?nóia?, no Alto da Glória, e precisava de apoio. O supervisor Ricardo Cordeiro Reysel, 32 anos, foi ao encontro de Marlon e ambos voltaram com Bruno. O estudante foi levado para uma garagem, onde foi espancado. Emerson e Eleandro chegaram depois e também teriam participado do espancamento. Além deles, outros funcionários da empresa teriam agredido Bruno. Por volta das 3h30, o jovem foi colocado no porta-malas de um Gol da empresa. Emerson e Eleandro saíram dirigindo o veículo.

Reconstituição

Apesar de seis vigilantes terem sido denunciados pela testemunha, somente dois deles, Eleandro e Marlon, foram presos. O outro vigilante, Douglas Rodrigo Sampaio Rodrigues, 26 anos, não participou da agressão dentro da empresa. No dia da prisão dos três, policiais da delegacia de Almirante Tamandaré fizeram uma pré-reconstituição e a filmaram. Nela, Marlon afirma que foi ele o autor dos dois disparos. Já Douglas alega que só ouviu os tiros, mas que não viu o assassinato. Na próxima quinta-feira, será feita uma reconstituição oficial do crime.

?Fui ameaçado?

Allan Costa Pinto
Douglas diz que é inocente do crime.

O vigilante Douglas Rodrigo Sampaio Rodrigues, 26 anos, preso sob a acusação de envolvimento na morte de Bruno, diz que não sabia da gravidade do caso, quando foi chamado pelo rádio por Marlon, e depois, quando descobriu, ficou com medo. ?Não denunciei porque fui ameaçado?, diz o rapaz.

Segundo ele, Marlon pediu que o encontrasse em um posto de combustível, em Almirante Tamandaré. Quando Marlon e Eliandro chegaram, pediram para que Douglas indicasse um local ermo. Foi então que o rapaz entrou no carro da empresa e todos foram até o matagal, na margem de uma estrada de chão, em Tranqueira, naquele município. Somente lá, Douglas ficou sabendo que Bruno estaria no porta-malas do carro. ?Quando soube me deu vontade de urinar. Não vi nada?, garante.

Defesa

O advogado Cláudio Dalledone, que defende Douglas, diz que irá provar a inocência de seu cliente. ?Quando muito, ele indicou o local, onde o corpo foi deixado. O rapaz chegou morto. Se cometeu algum crime seria ocultação de cadáver, jamais homicídio?, afirma.

Dalledone adianta que irá solicitar a quebra do sigilo usado pelos operadores da empresa de segurança, o que irá indicar onde Douglas estava no momento do crime. ?Não era exigido outro comportamento dele, por conta de todo aquele clima de terror que foi apresentado. O Marlon é um sujeito temido dentro da Centronic?, diz o defensor.

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