Presos assassinos de investigador

O investigador Luiz Gonzaga dos Santos, 49 anos, morreu ao impedir a entrada de três marginais dentro da delegacia de Colombo e o arrebatamento de presos ali recolhidos. Os seus assassinos foram apresentados na tarde de ontem e confirmaram a intenção do resgate de detentos em troca de dinheiro. Estão presos: Emerson Sandro Anjo Brandão, 26 anos; Márcio Inácio Peixoto, 19; Paulo Guilherme de Matos, 18; Sirlei Margarete Pereira e um adolescente.

Com o grupo foram localizados quatro revólveres calibre 38, um revólver calibre 32 e uma granada M1, além de prováveis objetos furtados como talonários de cheques e celulares. Outros dois homens, que seriam o alvo do arrebatamento, também estiveram presentes na apresentação realizada na sede do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope). São eles: Hamilton da Silva e Marcelo de Oliveira. A polícia ainda está à procura de Daniel Alves Ferreira, que seria o articulador do plano de resgate.

As primeiras prisões ocorreram dois dias depois do crime e foram acontecendo até a madrugada da última quinta-feira, com a participação de integrantes do Cope, Delegacia de Furtos e Roubos e da Divisão Metropolitana.

Invasão

Sirlei foi utilizada como isca pelo grupo, pois tem um filho (Paulo) preso em Colombo. Diante da informação de que Paulo também seria libertado na ação criminosa, ela foi até o prédio da delegacia e com o pretexto de entregar comida para o detento, solicitou ao policial para que abrisse a porta. Luiz Gonzaga foi até a entrada, verificar o que a mulher desejava, e chegou a abrir parcialmente a porta. Nesse momento, um Gol parou abruptamente em frente à delegacia e dele desceram Emerson, Paulo e Daniel. O trio tentou forçar a porta da delegacia, mas o policial conseguiu trancá-la causando, inclusive, ferimentos no ombro de Emerson, que foi o primeiro a atirar contra o investigador, que fazia o plantão sozinho. Na seqüência, os demais parceiros atiraram do lado de fora do prédio. As balas atravessaram a porta de vidro e atingiram Gonzaga, que não estava armado. Seu revólver tinha ficado na gaveta da escrivaninha do plantão.

Diante da gravidade de ter ferido um policial, o grupo voltou atrás na decisão do arrebatamento, entrou no Gol e fugiu. Sirlei já havia se retirado do local antes dos disparos. Mesmo ferido com sete tiros, um deles na perna, Luiz Gonzaga ainda teve forças para abrir novamente a porta, dar alguns passos em direção a rua e pedir socorro para uma mulher que passava pela rua. Entretanto, quando uma viatura da Polícia Militar chegou, ele morreu. “O policial cumpriu sua função e impediu uma fuga em massa, mesmo diante de séria ameaça”, disse o delegado Marcus Michelloto, apontando para a granada apreendida com o grupo e que teria sido usada para intimidar o investigador.

Prisões

A principal informação da polícia era sobre o Gol, que havia sido tomado em assalto pelos marginais, momentos antes da tentativa de arrebatamento. À procura do veículo, os investigadores da força especial, comandada pelo delegado divisional Agenor Salgado Filho, conseguiram prender Márcio em uma boate, em Pinhais. Ele ainda estava com o carro roubado. Na seqüência foram presos Emerson – portando um revólver – e o adolescente, com uma motoneta roubada. Os dois em Santa Felicidade. Na casa do menor foram encontrados dois revólveres calibre 38, um calibre 32 e a granada. Paulo foi o próximo a ser detido e Sirlei a última a cair nas mãos da polícia.

Invasão na delegacia iria render R$ 25 mil

De acordo com o interrogatório dos presos, R$ 25 mil seria o valor pago por Daniel Alves Ferreira (que ainda está sendo procurado) aos participantes do resgate, R$ 5 mil em média para cada um. Conforme adiantou o delegado Rubens Recalcatti, os principais alvos do arrebatamento seriam Hamilton da Silva e Marcelo de Oliveira, presos por furto e recém-transferidos da delegacia de Alto Maracanã para Colombo. Essa quantia seria paga depois que o resgate fosse efetuado e seria arrecadada em um assalto, já previamente programado pela quadrilha, a ser realizado no interior do Estado. Neste assalto, provavelmente contra um banco, seriam arrecadados R$ 100 mil.

Emerson Brandão e Márcio Peixoto são foragidos da delegacia de Alto Maracanã, local onde conheceram Hamilton e, provavelmente, onde nasceu a idéia de arrebatamento. De acordo com Michelotto, Daniel seria o articulador do plano e está sendo procurado. “Estamos tentando obter mais informações sobre ele. Sabemos que é um rapaz de poder aquisitivo elevado”, complementou.

Quanto a Paulo, o delegado disse que se trata de um indivíduo extremamente perigoso, sem condições de distinguir entre bem e mal. “Inclusive, já chegou a atirar contra um outro policial”, contou.

Versão

Marcelo afirmou não ter nenhum envolvimento com o arrebatamento e que desconhece os envolvidos. “Estava aguardando apenas a minha liberação que estava para sair nos próximos dias”, comentou. Sirlei confirmou sua participação na armação da entrega do alimento, enquanto Emerson confessou que participou da ação pelo dinheiro. Hamilton não quis comentar se seria beneficiado com a fuga e se tinha envolvimento com os demais integrantes.

O delegado Salgado informou que novas diligências serão realizadas para tentar apurar o envolvimento da quadrilha em outros crimes ocorridos na Região Metropolitana. “Há probabilidade deste grupo ter participado de assaltos na RMC. Estamos investigando”, finalizou.

Informante

Uma outra morte pode estar relacionada ao assassinato do investigador Luiz Gonzaga. No dia seguinte a morte dele, o latoeiro Valdevino Machado, 40 anos, foi executado dentro da casa dele, em Campina Grande do Sul. A vítima era informante da polícia e amigo do investigador morto em serviço. Ambos trabalharam juntos na delegacia de Almirante Tamandaré – embora não fosse concursado, Valdevino era sempre visto naquela DP e intitulava-se policial. Sobre a morte do informante, os delegados disseram apenas que não há nada de concreto que ligue um caso com o outro, mas essa relação está sendo averiguada.

Classe se revolta e governo promete melhorias

A morte do policial Gonzaga em frente ao prédio da delegacia de Colombo, no exercício de suas funções, gerou uma série de protestos por parte de policiais civis revoltados com a situação vivida por eles. Atualmente, com um quadro funcional reduzido e defasado, eles têm que fazer o trabalho investigativo e também o burocrático das delegacias e ainda cuidar de carceragens entupidas de presos. Há sempre o risco iminente de fuga e arrebatamento de detidos e a estrutura, hoje vigente, não oferece segurança nenhuma para esses policiais e conseqüentemente à população.

Durante a apresentação dos autores da morte do policial, o delegado geral da Polícia Civil, Jorge Azor Pinto, explicou novamente que dentro de um pequeno espaço de tempo há previsão de melhorias, principalmente, com a construção de casas de custódia para aliviar a superlotação carcerária das delegacias da Região Metropolitana. “Assim os policiais poderão, gradativamente, desempenhar novamente suas funções”, disse.

Remendo

Dentre outras alternativas, que já estão sendo implantadas, está a participação de policiais militares em rondas pelas delegacia da RMC. “A PM vai prestar apoio, dando mais segurança. Os policiais militares vão passar em horários considerados críticos e plantões de fim de semana. As delegacias serão pontos base para os PMs”, explicou Azor.

Com o término de treinamento de policiais civis na Escola Superior da PC, em agosto, 200 homens estarão à disposição do quadro funcional. “A partir daí faremos um levantamento das carências e passaremos um relatório ao governador, que tomará providências”, concluiu.

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