PMs e coronel afastados em Londrina

O governador Roberto Requião afastou ontem o comandante do Batalhão da Polícia Militar de Londrina, tenente-coronel Manuel da Cruz Neto. A decisão foi tomada depois de o comandante justificar como um ?acidente de trabalho? o fato de dois policiais da corporação terem espancado até a morte James Ismitt da Silva, de 20 anos, na madrugada do último domingo. Os soldados Juliano Ferraz Dias e Marco Aurélio Barbosa, acusados de serem os autores do crime, foram presos.

 Requião classificou como inadmissível o assassinato do jovem. ?Se for preciso trocar todo o comando para impedir abusos cometidos por policiais, eu trocarei?, declarou.

James Ismitt da Silva tinha 20 anos, era casado e tinha um filho de seis meses. Há três anos trabalhava como carregador na Central de Abastecimento (Ceasa) de Londrina. Nos fins de semana, James animava as festas da vizinhança com um equipamento de som que comprou. ?Era uma espécie de bico. Ele ganhava um dinheirinho a mais com isso?, contou a mãe da vítima, Sueli Aparecida de Paula Teodoro.

No último sábado, em particular, a festa foi na casa de James, que fazia aniversário. Segundo Sueli, por volta de 1h40, a polícia chegou na Rua Nirton Onofre Barion, no Jardim Santa Fé, Zona Leste de Londrina, depois de ter recebido reclamações da vizinhança por causa do som alto. Sueli contou que o som foi baixado, mas alguém voltou a aumentar o volume minutos depois, imaginando que a polícia já tivesse ido embora. A atitude não agradou os policiais, que voltaram e quebraram o aparelho de som. Algumas pessoas que estavam na festa tentaram impedir a ação dos PMs, dando início à confusão.

Para Sueli, o filho foi vítima de preconceito racial: ?Quando meu filho chegou na sala, um dos policiais falou: ?olha o negrinho folgado aí?. Depois disso, segundo a família, as agressões foram aumentando, à medida que mais policiais chegavam ao local.

Neusa Elizabete, tia de James, contou que tentou conversar com os policiais em certo momento, para que a violência acabasse, mas foi ameaçada por uma policial feminina que teria apontado uma pistola calibre 12 em seu rosto. James foi espancado até desfalecer. Ele foi colocado na viatura da polícia, mas morreu a caminho do hospital. ?Até entendo que meu filho tenha sido mal-educado com os policiais, porque ele ficou nervoso quando quebraram o som dele. Mas eles não precisavam fazer tudo aquilo. Podiam até prender ele, mas não matar?, disse Sueli.

O major Autivir Cieslak, sub-comandante do Batalhão da PM em Londrina, assumiu interinamente o comando do batalhão. Ele disse que, ao todo, 22 policiais foram até a casa de James. ?Eles foram prestar reforço porque os populares teriam agredido a PM. No entanto, isso não justifica a atitude dos policiais?, disse.

O inquérito que está apurando o caso será concluído até o fim desta semana. Todos os envolvidos na ação estão afastados, além dos dois soldados já presos. Uma vez concluído o inquérito, caberá ao Ministério Público oferecer ou não denúncia contra os policiais.

Casos de abuso policial não são novidade

Os casos de abuso policial em Londrina não são novidade. No dia 16 de janeiro, a dona de casa Silvia Maria da Silva, 55 anos, chamou o Siate para atender o filho Rafael da Silva, de 12 anos, que havia caído de uma árvore no conjunto Novo Amparo, em Londrina.

Um tumulto se formou e o Siate acabou chamando a PM. Silvia conta que pedia para não deixarem seu filho morrer, quando o aspirante Edward chegou com um cacetete em punho gritando que ?vagabundo tinha que apanhar? e bateu violentamente nos moradores da casa, inclusive nela e em outra filha, que estava grávida. Sílvia fez a denúncia no programa Cidade Repórter, da TV Cidade de Londrina, afiliada do Grupo Paulo Pimentel. Ela contou que, com muitos hematomas nos braços e cabeça, o filho morreu no local e o policial só parou de bater nas pessoas quando chegou outro PM. O comando da PM em Londrina disse à produção do programa que o caso estava sendo apurado. Cinco meses depois, o aspirante Edward continua nas ruas e nada foi feito.

Outro caso que chocou a população local foi o assassinato, com 14 tiros, do jogador de futebol Rafael Bezerra da Silva, 18 anos. Rafael, que jogava em Portugal, era filho de José Carlos da Silva, o Zequinha, ex-zagueiro do Londrina. O crime aconteceu em 15 de novembro de 2004. Rafael fumava maconha com um amigo numa casa abandonada onde a polícia procurava objetos de um roubo. Um amigo de Rafael contou que os PMs chegaram atirando e só depois de os verdadeiros criminosos dizerem que Rafael não tinha nada com a história, tentaram armar a cena do crime, colocando uma pistola na mão do jogador.

Zequinha, pai da vítima, disse que a PM levou 15 minutos para levar Rafael até o hospital, num trajeto que levaria no máximo cinco minutos. A camisa que Rafael usava – maior prova de que os tiros foram disparados à queima-roupa – também desapareceu. Os policiais envolvidos no crime só foram afastados tempos depois, já que o comandante do batalhão, tenente-coronel Manuel da Cruz Neto, estava de férias na ocasião.

O governo do Estado deve divulgar nos próximos dias o nome do novo comandante da PM em Londrina. 

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