Caso Telma

Pista nas pegadas leva a prisão de suspeito de matar psicóloga

Vestígios de areia numa calça e num par de tênis, cujo solado estava marcado no local do crime, levaram a polícia a prender Paulo Estevão de Lima, 42 anos, como suspeito do assassinato da psicóloga e professora Telma Fontoura, 53. Ela desapareceu no domingo, por volta das 16h, e foi encontrada morta na segunda-feira, estrangulada e enterrada em uma cova rasa, na restinga da praia de Shangri-lá, em Pontal do Paraná. A vítima, sobrinha do ator Ary Fontoura e filha do ex-secretário estadual da Saúde Ivan Fontoura, caminhava sozinha quando foi atacada pelo assassino.

O suspeito disse morar há sete meses na Pousada Casarinha, à beira-mar, onde se apresenta como músico. Ele nega a autoria do crime e, como álibi, diz ter visto a final da Copa do Mundo pela televisão. O homicídio teria ocorrido durante o jogo. O dono da pousada, Carlos Arzua, desmente a informação, dizendo que não o viu no local naquele horário.

Indícios

No quarto do suspeito a polícia encontrou uma calça jeans com a barra dobrada e com areia da praia e vestígios de vegetação da restinga, além do tênis que é compatível com as pegadas, achadas perto do local onde a professora foi enterrada. “Havia areia nas pernas da calça, na altura das coxas e no colo, características de contato físico com a vítima”, explicou o delegado José Antônio Zuba, da delegacia de Pontal do Paraná, que comanda as investigações.

Paulo é natural de Curitiba, tem antecedente criminal por uso de droga em 1996 e três por furto (duas em 2009 em Curitiba e uma em Pontal do Paraná) neste ano. Ele foi detido no fim da tarde de terça-feira, depois de ter decretada sua prisão temporária de 30 dias, que poderá ser prorrogada por igual período. A polícia aguarda o laudo do Instituto Médico-Legal (IML) que apontará se a vítima foi violentada sexualmente. Para o delegado, as suspeitas que recaem sobre Paulo são fortes e caso os laudos confirmem violência sexual, ele terá o motivo para o crime.

Local

Durante as buscas à vítima feitas pela família, amigos e polícia, um dos irmãos da psicóloga viu três vezes o suspeito sentado num toco de madeira e, aparentemente, sob efeito de drogas, a poucos metros de onde estava o corpo, com as roupas sujas de areia e tratava de esconder o rosto. Logo depois, Paulo foi reconhecido no álbum de fotos da delegacia (tem passagem por furto), e na pousada foram encon-trados os indícios que possibilitaram a ordem de prisão para garantir a instrução criminal, já que ele não tem residência fixa. As investigações prosseguem em busca de provas.

Detido quer ficar só na maconha

Janaina Monteiro e Mara Cornelsen

Bem articulado, Paulo, apresentado à imprensa ontem, no 1.º Distrito Policial, no centro de Curitiba, afirmou que tem um casal de filhos; é separado e mora desde o fim do ano passado na pousada. Ele disse pagar as despesas tocando música nas quintas-feiras e fins de semana. Apesar de chamarem o local de pousada, a casa mais parece um cortiço, com pouco conforto e higiene. “A cama em que o suspeito dormia mais parecia um ninho de ratos”, comentou um policial.

Crack

Paulo disse que já trabalhou como gerente de uma empresa de transporte de valores e cursou dois anos de Economia, numa faculdade particular de Curitiba, mas foi vencido pelas drogas. “Estou tentando me livrar do crack e ficar só na maconha”, disse. Ele alegou que foi visto pelo dono da pousada a quem pediu uma chave de roda para consertar sua motocicleta. Mas o dono negou, informalmente, que o suspeito estava na casa. “Agora vamos formalizar os depoimentos”, disse o delegado Luiz Alberto Cartaxo Moura, titular da Divisão Policial do Interior, que acompan,hou as investigações.

Cremação


Janaina Monteiro e Mara Cornelsen

Átila Alberti
Delegado Zuba aguarda laudo.

O corpo da psicóloga, que seria cremado na terça-feira, permanece sob a guarda da funerária até que sejam emitidos os laudos de necropsia e perícia. O corpo está liberado para sepultamento, mas não para cremação. Um perito do Instituto de Criminalística esteve ontem no crematório, em Campina Grande do Sul, para colher mais material do cadáver. O advogado da funerária trabalha para conseguir liberação judicial para realizar a cremação, porém a cerimônia só poderá acontecer após estarem prontos os laudos.