Patronato promove cursos a condenados

Em parceria com a Justiça Federal, o Patronato do Sistema Penitenciário do Estado começou a promover cursos para detentos em regime aberto. A primeira experiência está em andamento com o curso de eletricidade, do empresário e eletricista Gloecyr Roberval Borges Alves, que reúne os alunos todo sábado. “Nosso objetivo é reintegrar o preso à sociedade, dando-lhe condições de ser inserido no mercado de trabalho”, esclarece o secretário de Estado da Justiça e Cidadania, Aldo Parzianello.

O curso está sendo dado na sede do patronato, a unidade do Sistema Penitenciário responsável pela execução e fiscalização das penas em regime aberto, ou a chamada liberdade condicional. Esta é a primeira parceria entre a instituição e os condenados da Justiça Federal. Pode freqüentar as aulas quem já cumpriu 60% da pena em regime fechado e irá cumprir os outros 40% em regime aberto. Dos seis atuais alunos, cinco deles cumprem pena por roubo e apenas o caçula da turma, o estudante Diego Vieira Batista, pegou “carona” no curso, junto com o pai.

Condenado pela Justiça Federal por sonegação de impostos, o engenheiro deve pagar sua pena prestando 400 horas de serviços à comunidade. A direção do patronato tentou encaminhar Alves para as instituições de caridade, mas todas tinham um excedente de voluntários. Na outra ponta do problema, os condenados em regime aberto não tinham acesso ao mercado de trabalho, por falta de especialização. “Juntamos o útil ao agradável e resolvemos aproveitar um profissional para formar mão-de-obra especializada”, explica Parzianello.

Dedicação

Como prestação de serviço, o engenheiro oferece o curso, com direito a apostila, vale-transporte e lanche no final da aula, tudo fornecido por ele. “De vez em quando também tem churrasco”, brinca. Ele também ensina noções de comportamento no ambiente de trabalho, e até como se portar e vestir na hora de procurar emprego, a exemplo dos melhores cursos de especialização do mercado profissional.

As apostilas estão dividas em seis módulos e a linguagem é acessível. Quando concluírem o curso, os alunos estarão capacitados para exercer a profissão de eletricista residencial. O engenheiro promete incluir também no “pacote” cartão de visita, kit de material de trabalho, currículo e referência. “Todos sabem o quanto o mercado de trabalho está difícil”, atesta.

“Se para quem tem a ficha limpa já é complicado, imagine para quem não tem”, avalia Clóvis José Batista, 40 anos, casado, pai de 7 filhos entre eles o colega de sala Diego. Batista foi condenado a onze anos de reclusão, três deles em regime aberto. “Há dois anos estou procurando serviço e só encontro bicos. Espero que agora dê certo”, diz. O curso é a sua esperança em conseguir, finalmente, um trabalho. “Tendo uma especialização, fica mais fácil”, diz.

Reforma

Na aula, além da parte teórica, os alunos também estão tendo aulas práticas. Como a sede do patronato estava precisando de reformas, elas estão sendo realizadas no prédio, uma construção centenária. “Eles já trocaram as luminárias e vão trocar toda a instalação elétrica do local, que é antiga. Aproveitamos e economizamos para o Estado, já que esse serviço teria que ser terceirizado”, explica Vera Lúcia Silano Santos, diretora do patronato.

De acordo com ela, depois dessa experiência, a idéia é continuar a aproveitar a mão-de-obra especializada no aprimoramento da não-especializada. “Também queremos fazer parcerias com instituições de ensino para dar seguimento ao projeto”, diz. Já está programada uma nova turma, desta vez com outro empresário também condenado pela Justiça Federal para ensinar informática, no Programa do Voluntariado Paranaense.

Entusiasmo

Para conseguir juntar os alunos no curso, o engenheiro Gloecyr Roberval Borges Alves, que também é diretor de uma empresa em Bocaiúva do Sul, faz de tudo: fornece os vales-transporte e lanches para os alunos, e assegura que recebe mais do que dá. “Quando cheguei, ninguém conversava, todo mundo era triste, a auto-estima estava em baixa. Hoje, já somos uma turma”, comemora.

Alves paga pena por sonegação de ISS (Imposto sobre Serviços). Ele era diretor da empresa Tubotec Indústria e Comércio, também de Bocaiúva do Sul, que quebrou. “Tinha duas opções: ou pagava os impostos ou os funcionários. Optei pelos funcionários e sabia o que iria encontrar pela frente, pois era o responsável pela empresa”, justifica. E já que tinha que pagar com serviços, ele resolveu fazer “algo de útil”, como diz. “Interpretei a pena como um dever. Abracei a causa e estou me empenhando para que a iniciativa tenha sucesso”, garante.

O engenheiro, de tão entusiasmado, pensa em absorver a mão-de-obra da turma, na empresa que hoje dirige, a Garja Comercial e Industrial. “Se cada pessoa cuidasse de uma criança, ou desse emprego a um ex-condenado, talvez hoje não houvesse tantos crimes”, avalia. De olho no futuro, ele já pensa em levar o curso para o regime fechado e promete continuar sendo o professor, mesmo depois de pagar sua condenação.

Voltar ao topo