CNJ

Mutirão carcerário detecta problema de gestão

O relatório final sobre o mutirão carcerário realizado no Paraná nas últimas semanas será entregue ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na próxima semana.

O mutirão terminou ontem tendo concedido 16% de benefícios aos presos do total dos 21 mil processos analisados. Entre os benefícios estão incluídos presos colocados em liberdade ou que migraram do regime fechado para o semiaberto.

Ciciro Back
O juiz Éder Jorge defendeu a criação de uma defensoria pública no Paraná.

O mutirão foi uma alternativa proposta pelo CNJ para a morosidade dos processos que julgam a progressão de pena dos detentos. Na análise do juiz Éder Jorge, do CNJ, grande parte da demora na apreciação do pedido do preso é causada pela falta de defensoria pública no Paraná.

“O juiz acaba nomeando advogados que não aceitam a incumbência, um após o outro, o que consome tempo, além da estrutura deficiente material e humana – das varas de execução penal”, afirma.

Mais que a análise dos processos, o CNJ se propôs a fazer uma radiografia do sistema carcerário paranaense, com visitas in loco. Após as vistorias, Éder Jorge sugeriu a interdição de algumas unidades, que em Curitiba inclui o 9.º Distrito Policial (DP); o 12.º DP e a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos. Em Ponta Grossa a proposição é para a cadeia Hildebrando de Souza. Em Londrina, o problema é com o 2.º DP.

Uma das críticas ao Paraná é a divisão entre as secretarias de Estado da Justiça e da Cidadania (Seju) e da Segurança Pública (Sesp) no que diz respeito à administração de delegacias e penitenciárias. Em outros estados, geralmente é uma única secretaria que administra a situação prisional.

“Duas secretarias causam um problema de gestão, porque temos duas visões diferentes e isso prejudica a organização do sistema carcerário”, opina o juiz do CNJ. A segunda fase do mutirão é a proposição de sugestões que o CNJ fará aos órgãos competentes do Paraná.

Embora não seja divulgado à imprensa, Jorge adiantou algumas das proposições que devem integrar o documento. “A defensoria pública tem que ser criada no âmbito do Estado”, sinaliza.

A construção de novas unidades prisionais em Curitiba, Ponta Grossa, Londrina e Guaíra, áreas consideradas mais urgentes, é outro ponto. Hoje o Paraná tem 13 mil presos em cadeias ou delegacias aguardando uma vaga no sistema.

O preso deveria passar rapidamente pelas delegacias e, no Paraná, muitos deles ficam de dois a três anos antes de serem transferidos. O juiz do CNJ vai também propor alterações na organização cartorária das Varas de Execução Penais.

Durante o mutirão, duas resoluções foram baixadas pelo CNJ: o alvará de soltura agora é cumprido diretamente no presídio e em até 24 horas e foi instituído um sistema informatizado de cálculo de pena.