Mortes intrigam polícia

Familiares do estudante Hélcio Fernando Palumbo, encontrado morto ao lado da enfermeira Joelma Beatriz Girett de Lima, na cama de um quarto, em um hotel de Florianópolis, serão ouvidos hoje pelo delegado Anselmo Cruz, do 10.º Distrito Policial da capital catarinense.

Os depoimentos da família do rapaz poderão ajudar na investigação do caso, em que há forte suspeita de que o casal tenha realizado um pacto de morte. Duas irmãs de Joelma já foram ouvidas na quarta-feira. ?Ainda resta ouvir alguns funcionários do hotel, além da família de Hélcio. No mais tardar, segunda-feira concluiremos a fase de depoimentos?, disse o delegado.

A polícia também trabalha com a hipótese de que tenha havido homicídio seguido de suicídio, por parte de Joelma, porém as possibilidades são remotas. ?Pela forma como encontramos o local e por não termos encontrado nenhum sinal de luta, é bem provável que tenha havido um duplo suicídio?, disse Anselmo.

A data exata da morte do casal ainda está sendo investigada pela perícia. Sabe-se, no entanto, que foi depois do dia 4, porque testemunhas confirmaram que viram o casal na sexta-feira (5). A previsão é de que o laudo da necropsia esteja pronto em aproximadamente 20 dias.

Surpresa

As misteriosas mortes surpreenderam amigos e familiares do casal. Uma tia da enfermeira informou que todos estão muito abalados e que preferem não se pronunciar sobre a tragédia. Joelma trabalhava no Hospital de Clínicas há quase 10 anos e fazia mestrado em enfermagem na Universidade Federal do Paraná. Além disso, falava inglês e espanhol e, no site de relacionamentos Orkut, se declarava apaixonada por musculação e era adepta do budismo. Ela morava com a mãe, as duas irmãs e um sobrinho.

A família afirmou que Joelma não apresentava indícios de depressão. O corpo da enfermeira foi enterrado na manhã de ontem, no Cemitério Jardim Eterno, em Paranaguá.

O pai de Hélcio também preferiu não falar sobre o filho. ?Quem o conhecia, sabia como ele era. Agora não adianta falar mais nada?, disse. O rapaz também trabalhava no Hospital de Clínicas, no mesmo setor de Joelma, como assistente administrativo, desde novembro de 2005. Ele estudava Direito e, de acordo com informações retiradas do Orkut, também freqüentava uma academia de musculação. Para os familiares, Hélcio estava desaparecido há vários dias.

Serviço tenta evitar tragédias

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma instituição que tenta ajudar pessoas angustiadas, solitárias ou sem vontade de viver. O objetivo do centro é prestar apoio emocional a pessoas que estejam pensando em cometer suicídio. Todos que trabalham no CVV são voluntários e o posto de Curitiba funciona 24 horas.

Uma das atendentes, Angelita, conversou com nossa reportagem e explicou que as pessoas ligam para desabafar. ?Nos concentramos no sentimento das pessoas, não nos problemas?, disse. Embora não seja especialista no assunto, ela contou que os motivos que levam uma pessoa a praticar suicídio são bastante variáveis. ?Os problemas que podem parecer fúteis para uns, são sérios para outros. A luta da pessoa não é contra a vida, mas contra o problema que, para ela, é muito grave?, explicou. Ainda de acordo com a atendente, o suicídio não acontece de repente. É um processo gradativo que vai se desenvolvendo aos poucos. ?Acreditamos que desabafando conosco, esse processo pode ser interrompido.? Um dado curioso apontado por Angelita é que ela percebeu, com sua experiência de mais de 3 anos como voluntária, que situações ocorridas em novelas podem influenciar telespectadores. As pessoas que desejam receber ajuda do centro devem entrar em contato pelo telefone (41) 3242-4111, em Curitiba, ou acessar o site www.cvv.com.br.

Mulher conta sua história de superação

Fernanda (nome fictício), então com 27 anos, tentou suicídio, há cerca de 5 anos. Ela concordou em conversar com a reportagem, desde que alguns detalhes e seu nome fossem omitidos. Depois de passar 3 meses em uma clínica e tentar se matar outras quatro vezes, hoje cuida dos filhos, já reduziu a medicação e leva uma vida normal.

Ela contou que não se lembra como foi parar no parapeito da janela, só se deu conta que estava prestes a saltar no vazio quando alguém lhe puxou para dentro da sala. O diagnóstico final foi de depressão profunda. ?Não vejo um ato desse como fraqueza, mas como ato de desespero. Eu não conseguia dormir, comer, e pensava: não adianta ficar assim?, relatou.

Fernanda disse que não conseguia distinguir um motivo específico, assim como muitos dos pacientes com quem conviveu na clínica. Segundo ela, o apoio e compreensão da família, dos amigos e de médicos especialistas foram fundamentais para salvar-lhe a vida. ?Quando a gente está nela (depressão), parece que não há como sair. Hoje, já não é uma possibilidade que vislumbro?, conclui.

Voltar ao topo