Moradores de Piraquara obrigados a viver com medo

Quem se assusta ao ver pela televisão os crimes que acontecem, por exemplo, nos morros do Rio de Janeiro, não sabe que uma realidade muito parecida existe bem próxima. A cidade de Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba, poderia ser chamada de capital paranaense da violência. Nos últimos anos, os casos de assaltos, assassinatos, estupros e demais crimes vêm apavorando a população do município, que, por uma estranha coincidência, abriga grande parte do sistema prisional da região Leste do Estado. Esta semana, os vereadores se manifestaram, convocando os órgãos responsáveis pela segurança para uma reunião na Câmara Municipal da cidade.

Entretanto, de concreto para resolver o problema, nada foi definido. “O chefe de gabinete da secretaria de Segurança, Marcelo Jugend, se comprometeu em levar nossas reivindicações ao secretário Delazari (Luiz Fernando, da Segurança)”, contou o presidente da Câmara, Armando Neme Filho (PMDB). Entre os problemas de Piraquara estão a falta de efetivo e de viaturas das polícias Civil e Militar. “A Polícia Militar tem duas viaturas. Mas uma vive sempre quebrada e a outra é usada também em Pinhais”, reclamou o vereador.

Neme Filho destacou outro problema grave. “A delegacia da cidade está interditada por ordem judicial faz dois meses. Tinha 45 presos num lugar onde cabem oito”, destacou, lembrando que um dos pedidos é ampliação da delegacia. Na próxima semana, uma comissão de vereadores vai até a Secretaria de Estado da Segurança Pública conversar com o secretário Delazari.

Segundo o Censo 2000, Piraquara tem 72 mil habitantes. “É o segundo município que mais cresce no Estado. Em muitos lugares há ocupação irregular, o que acaba gerando violência”, salientou o vereador.

Lei do silêncio

Um dos bairros mais violentos de Piraquara é o Guarituba. Lá moram cerca de 30 mil pessoas. O Jardim Holandês é o ponto mais crítico. A reportagem de O Estado esteve no local e descobriu várias semelhanças com as favelas cariocas. Além de ser ponto de tráfico de drogas, a lei do silêncio também impera. As poucas pessoas que aceitaram falar com a reportagem têm dois pontos em comum: todas já viram ou passaram por um assalto e ninguém tem a coragem de se identificar ao falar do assunto. “Se a gente falar o nome, amanhecemos mortos na valeta”, disse V. L. A., de 25 anos. O rapaz contou que é muito arriscado sair à noite no Jardim Holandês.

A luz do sol também não afugenta os assaltantes. “Faz umas duas horas que um carro bateu num poste aqui perto. Ele saiu para buscar ajuda, enquanto os bandidos depenaram seu carro. Levaram som, bateria, tudo que tinha de valor, por fim levaram a carroceria”, disse S. C., que é descrente até na policia. “Não tem mais jeito. A única polícia que ainda põe um pouco de medo é a Rone (Ronda Ostensiva de Natureza Especial)”, lembrou.

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