Perigo

Lazer que pode virar tragédia nas cavas

Altas temperaturas e dias de folga. Esta é a receita perfeita para situações de irresponsabilidade que podem resultar em tragédias. Nesta época do ano, milhares de pessoas vão ao litoral e, na ânsia de aproveitar a praia, esquecem de tomar cuidado com o mar, que é traiçoeiro, e situações de afogamentos (que muitas vezes resultam em morte) acontecem. Em Curitiba e região, o mesmo cenário de calor e ociosidade leva muitas pessoas às cavas, locais extremamente perigosos para nadar.

Segundo os bombeiros, não há a possibilidade de haver guarda-vidas nestes locais, já que são locais extremamente inadequados para lazer. Os bombeiros não possuem uma estatística de mortes ocorridas nas cavas, mas no ano passado, os 1.º e 6.º grupamento de bombeiros (referentes a Curitiba e região metropolitana) registraram dois casos de afogamentos.

O tenente do Corpo de Bombeiros e relações públicas da Operação Verão, Leonardo Mendes, faz um alerta: além das cavas serem inadequadas para o lazer, ainda não dispõem de socorro próximo. “Além do risco de mortes por afogamentos (estes locais têm muitos buracos) também há o risco de doenças que se pode adquirir nas cavas”, comenta o tenente.

Apesar dos perigos, não é difícil encontrar pessoas nadando nas cavas em dias de calor. Ontem, dia de Natal, as cavas localizadas em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), ficaram cheias. Aliás, uma família inteira tomava banho ontem à tarde (inclusive com uma criança de dois anos). As pessoas até reconhecem que o lugar é perigoso, mas dizem que tomam todos os cuidados possíveis. “Perto da nossa casa tem um lugar com piscina, mas tem que pagar R$ 25 por pessoa. Então a gente vem aqui. Ficamos só na beira e um cuida do outro”, disse Rogério Cardoso, de 21 anos, que nadava juntamente com sua esposa, Thaís Santos, de 22, e o filho Gustavo, de dois anos.

Já outro rapaz de 21 anos que preferiu não se identificar disse que acredita que a praia é ainda mais perigosa do que a cava por causa das ondas. “Eu tenho um amigo que morreu afogado no mar. Aqui se alguém estiver se afogando a gente consegue salvar. Sabemos que é perigoso, tem buracos. Mas quem sabe nadar melhor cuida dos outros”, comentou. Ele lembrou que, além dos buracos e da água suja, ainda há a diferença de temperatura da água de um ponto para outro, o que provoca cãibras.

Em Curitiba e Região há cerca de 55 km de cavas provenientes de rios. As cavas são provenientes da extração de areia e argila. “Eu acredito que esses locais deveriam ser fechados e ter vigilância permanente, para evitar tragédias”, comenta o tenente Mendes.

Bombeiros fazem tudo que podem para evitar tragédias

Na temporada de praia do ano passado, oito pessoas morreram afogadas no litoral paranaense. Destas, duas morreram em baías e rios da região litorânea, longe dos guarda-vidas. No total, os bombeiros fizeram 1.381 salvamentos na temporada (de dezembro a fevereiro), o que indica que muita gente ainda não toma os devidos cuidados na água.

Neste ano, um jovem de apenas 18 anos já morreu afogado na praia. E.J.G. estava surfando no balneário Atami, em Pontal do Paraná, na tarde do dia 19 de dezembro, quando desapareceu. Seu corpo foi encontrado na madrugada de domingo, entre os balneários de Ipanema e Leblon. Segundo o relações públicas da Operação Verão do Corpo de Bombeiros, tenente Leonardo Mendes, tudo indica que o rapaz não tinha experiência com surfe. Aliás, como explica ele, uma das grandes dificuldades nos atendimentos na praia é o comportamento dos banhistas.

“Temos as pessoas que entram no mar fora do, horário dos guarda-vidas ou em locais desassistidos por eles. E o pior é que a maioria das pessoas que passam por situações perigosas sabem nadar. Então orientamos que as pessoas só entrem na água em locais com salva-vidas”, comenta o tenente. Além dos 1.381 salvamentos realizados pelos guarda-vidas na temporada passada, eles ainda fizeram quase 130 mil orientações e advertências aos banhistas no litoral.

Ao todo, cerca de 600 bombeiros ficarão no litoral paranaense durante a temporada. Destes, 90 guarda-vidas já estão cuidando da segurança dos banhistas em 105 postos. O tenente Mendes ressalta a importância dos turistas só entrarem na água em locais e horários assistidos pelos profissionais. Os guarda-vidas atuam no litoral das 8h às 20h.

Daniel Caron
Rapaz nada na cava como se estivesse no “lugar mais seguro do mundo”.