Uberaba

Jovem morre por abrigar amigo traficante

Fã de música, poeta, fotógrafo e trabalhador. Este é o perfil que amigos de Edes de Souza Dias, 23, o “Edinho”, traçam do rapaz que foi morto com 15 tiros no peito na sexta-feira.

Ele foi executado dentro da pequena casa que alugou em fevereiro, depois de ter retornado, animado, de um mês de trabalho no projeto Viva o Verão, no litoral paranaense.

A residência no Uberaba, ficava próxima à casa da mãe e das irmãs evangélicas. Era lá que ele almoçava e jantava todos os dias. Uma semana antes de ser assassinado, entretanto, ele não apareceu para comer.

As irmãs pensaram que ele tinha arranjado uma namorada, mas souberam que, na verdade, ele deu abrigo a um amigo de infância que se tornou traficante. Gilberto Luiz Fernando Bozza, 28, pediu para morar com Edinho, porque foi ameaçado de morte pelos rivais, e iria embora no sábado.

Os dois morreram juntos – Gilberto atingido por quatro disparos no rosto. De acordo com os vizinhos de Edinho, no último mês a residência do rapaz virou ponto de tráfico. O delegado Alexandre Bonzatto, da Delegacia de Homicídios, garante que os familiares da vítima serão chamados para prestar depoimento nesta semana.

Padrinho

Em 2006, Edinho encontrou Getúlio Guerra, atual coordenador do Fórum Permanente de Música. “Divulgávamos a terceira edição do projeto Pras Bandas, no Boqueirão, e ele se ofereceu para ajudar. Falei que não teria como pagá-lo, mas ele morava por perto e queria participar de qualquer jeito. Acabou se tornando o principal voluntário do projeto, meu braço direito”, conta Getúlio.

Uma nova vida começou para o garoto. Ele passou a ter aulas de astrologia e fotografia, e se mudou para a casa de Getúlio. “Quando fazíamos a divulgação, ele adorava explicar tudo, conversar com as pessoas. Era muito simpático. Há alguns anos ele foi procurar o pai, não foi bem recebido e tinha essa mágoa, então me adotou como pai dele”, explica Getúlio, que tem um filho da idade de Edinho.

Suspeita

Após o retorno da Operação Verão, o projeto se transformou em organização não-governamental e passou por reestruturação, com poucas atividades. Getúlio e Edinho se afastaram.

“Nunca o vi usar drogas. Raramente ele fumava ou bebia alguma coisa. Porém, um mês antes de ele morrer, foi visto por uma amiga minha no ônibus e aparentava estar muito mal. Acreditamos que ele acabou se rendendo”.