Índice de assaltos a ônibus toma proporções assustadoras

Há muito tempo motoristas e cobradores de ônibus tornaram-se vítimas constantes de assaltos, sendo considerados alvos fáceis pelos bandidos. Somente neste ano, estatísticas comprovam que a audácia dos marginais está tomando proporções assustadoras. De acordo com os levantamentos feitos pelo Grupo Tático Velado da Polícia Militar, até o dia 18 de janeiro foram registrados 129 assaltos a ônibus e um deles resultou na morte de um passageiro. No último dia 14, José Laudelino de Lima, 25 anos, foi baleado ao reagir à ação dos marginais, dentro do ônibus que fazia a linha Curitiba-Piraquara, e morreu por falta de atendimento médico, fato que está sendo investigado pela delegacia de Pinhais. Neste mesmo dia a polícia registrou outros 18 assaltos.

Casos como o de José não são comuns, já que os cobradores e motoristas são severamente instruídos pela empresa em que trabalham a jamais reagir a um assalto. Entretanto, a situação insustentável que esses trabalhadores sofrem quando substituem o prazer pelo trabalho pelo medo de não voltar para casa gerou uma nova forma de combate a esse crime. No mês de maio do ano passado, o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) exigiu uma providência do governo e, junto ao Comando do Policiamento da Capital (CPC), criou uma “força tarefa” para o combate dessa modalidade de assalto. Apesar do número ainda ser volumoso, estatísticas comprovam que a ação conjunta dos órgãos está fazendo diminuir, mensalmente, as ações dos marginais.

Combate

No mês de julho, a Polícia Militar estruturou o Grupo Tático Velado que começou a agir de forma intensa e específica no combate aos assaltantes. No mesmo período o Sindimoc criou um departamento exclusivo para o mesmo fim. Desde então, cada vez que um ônibus sofre um roubo os dois órgãos interagem, também junto a Urbs, trocando informações e serviços.

De acordo com o presidente do Sindimoc, Denilson Pires, quando a polícia prende um assaltante o sindicato é avisado e um funcionário é designado para acompanhar desde a prisão até a conclusão do trâmite legal que envolve o acusado. “Nós tiramos fotos, fazemos um cadastro interno da pessoa que foi presa e acompanhamos o julgamento. Tudo isso para termos controle e garantir que o bandido não volte para a rua”, explicou.

Quando os infratores são menores a dificuldade de mantê-los atrás das grades é ainda maior pela própria “leveza” da lei. Um tenente do CPC, que não pode ser identificado, garante que a maioria dos reincidentes nos roubos são adolescentes, pois eles sabem que assim que são presos não demoram muito para voltar à ruas. Para amenizar esse problema, Denilson garante que nesses casos age de forma ainda mais rigorosa. “Quando se trata de um menor nós também fotografamos, montamos um relatório interno e enviamos ao juiz, junto com os documentos das policiais Civil e Militar. O acompanhamento dos casos tem tido bons resultados. Conseguimos fazer com que muitos assaltantes menores fossem condenados com o tempo máximo de reclusão permitido”, orgulha-se.

Para finalizar, o presidente do sindicato garante que, se a comunidade deixasse de cobrar das autoridades competentes e passasse a aliar-se a elas no combate ao crime e à violência de qualquer espécie, os resultados seriam sensivelmente melhores.

Criminalidade faz força tarefa entrar em ação

Um levantamento feito pela Polícia Militar constatou que no ano de 2003 houve um aumento significativo no número de assaltos a coletivos, comparado com o ano anterior. No ano passado foram registrados 5.592 assaltos e em 2002, 4.956.

Entre os meses de janeiro e junho de 2003 o índice aumentou mensalmente, e no mês de julho o número chegou a 526, o maior do ano. Nesse mesmo mês, em 2002, o número foi de 299.

Em agosto do ano passado, quando a “força tarefa” começou a trabalhar efetivamente no combate aos assaltos, a polícia passou a ter motivos para comemorar. Ao contrário do primeiro semestre de 2003, no restante do ano a quantidade de assaltos diminuiu mensalmente, e em dezembro chegou a ser inferior ao ano antecedente. No último mês de 2002 foram registrados 275 roubos, 26 a mais do que no ano passado. “Isto foi muito importante para nós, pois dezembro é considerado um período crítico, já que há uma grande circulação de pessoas nos coletivos e é época do 13.º salário, o que chama a atenção dos bandidos”, comenta o tenente do Grupo Tático Velado.

Em relação a prisão dos assaltantes, os números também são bastantes satisfatórios. Em 2002, a polícia prendeu 208 pessoas -64 delas menores de idade. No ano seguinte, com a criação da “força tarefa”, o número aumentou para 338 (144 menores).

Terror dos coletivos preso debaixo da cama

Um dos mais audaciosos assaltantes de ônibus que vinha aterrorizando a região do Campo Comprido foi novamente preso este ano pelo Grupo Tático Velado, depois de cometer vários roubos utilizando um facão. Tuclay Aurélio Lemes, 29 anos, o “Bocão”, foi recapturado no dia 4 de janeiro, depois de fugir duas vezes.

A mais recente prisão aconteceu quando dois policiais do 12.º Batalhão da PM foram à favela e suspeitaram de um homem que tentava se esconder, e cuja descrição física conferia com a de um dos assaltantes que havia abordado um coletivo um dia antes. Com apoio de outras viaturas, houve cerco no barraco em que “Bocão” entrou e ele foi encontrado debaixo da cama. Mesmo assim, resistiu à prisão – chegou a segurar o revólver de um dos PMs. Só largou a arma quando levou dois tiros, um em cada perna.

Antecedentes

No dia 27 de abril de 2003 “Bocão” foi preso pela primeira vez pelo 9.º Distrito Policial (Santa Quitéria), onde mais de 20 vítimas o reconheceram. No dia 20 de outubro, quando já havia sido transferido ao 11.º DP, ele fugiu e foi recapturado um mês depois pela PM. Em 14 de dezembro, o assaltante escapou mais uma vez, sendo novamente preso no último dia 4. No período em que esteve foragido, ele assaltou diariamente os ônibus da região do Campo Comprido.

Em alguns casos, cobradores são coniventes

A partir de levantamentos feitos pela “força tarefa”, o vício pela drogas é o principal motivo que leva marginais a cometerem os assaltos em coletivos e estações-tubo. Como a quantia que fica disponível nos caixas gira em torno de R$ 30,00, o dinheiro roubado geralmente é usado para a compra de entorpecentes. O restante da arrecadação das passagens é guardado em cofres, justamente para evitar maiores prejuízos às empresas.

Ação

Segundo o tenente responsável pelo Grupo Tático Velado que combate esse tipo de crime, o modo de agir dos bandidos geralmente é o mesmo, e a maioria dos roubos acontece entre 18h e 00h30, quando o número de passageiros é menor. “Eles não costumam abordar as pessoas. Os marginais embarcam, não passam a roleta, dão voz de assalto ao cobrador e descem dois pontos depois, para não chamar a atenção”, explica o oficial.

Quanto aos assaltos aos tubos, os mais visados são os que estão localizados próximo às favelas, já que esses locais são considerados as melhores vias de fuga pelos bandidos.

Conivência

As investigações feitas pela Polícia Militar também revelaram uma triste realidade. Cerca de 30% dos cobradores das estações-tubo são suspeitos de forjarem assaltos. “Eles informam à empresa e à polícia que foram roubados e descrevem o suposto assaltante, quando na verdade embolsam o dinheiro. Ou quando realmente eles são abordados por bandidos, alguns funcionários aumentam a quantia levada e ficam com a diferença”, explica o tenente. Por causa da desonestidade de alguns funcionários, as empresas são as mais prejudicadas, pois quando acontece um assalto a Urbs geralmente faz o ressarcimento da quantia levada à empresa responsável, mas para que isso aconteça a situação de roubo é rigorosamente analisada pelo órgão.

Em alguns casos mais recentes, embora não seja praxe dos ladrões, os passageiros também tiveram seus pertences roubados. Ameaçados de morte, se viram forçados a entregar carteiras, relógios e celulares, além de jaquetas e tênis. A orientação da polícia, nessas circunstâncias, é para que o passageiro não reaja para não colocar sua vida em risco. Quando drogados, os bandidos não medem as conseqüências de seus atos.

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