IML confirma que morte de vigilante ocorreu por atropelamento

Passados 49 dias da morte do vigilante João Batista Barbosa, 33 anos, seus familiares denunciam o descaso com que têm sido tratados pela empresa Transporte Geral de Valores (TGV) – na qual a vítima trabalhava – e o ocultamento de informações sobre as circunstâncias que envolveram a morte dele. Para a ex-esposa e os filhos, João morreu em decorrência da negligência dos companheiros e discordam da posição da empresa, que trata o caso como uma fatalidade, um acidente de trabalho.

João era um dos vigilantes que, em 13 de fevereiro, se envolveram em um cerrado tiroteio com assaltantes que tentaram roubar dois malotes do carro-forte da TGV, em frente ao banco HSBC, nas Mercês, em Curitiba. O vigilante foi ferido com um tiro de raspão na cabeça e ficou caído na calçada. Ele solicitou ajuda a um companheiro, que o puxou para baixo do caminhão, único lugar seguro em meio a troca de tiros. Pela versão da família, por determinação superior e seguindo uma norma da empresa, o motorista Anízio Padilha, 42, acelerou o veículo para retirar o carro forte do local. Entretanto essa decisão resultou no atropelamento de João. No laudo de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) consta como causa "lesões encefálicas por fratura de crânio". Quando o caminhão arrancou, a vítima estava com metade do corpo embaixo do veículo e as pernas sobre a calçada. O veículo arrastou o corpo e somente metros adiante o rodado passou por cima e seguiu o trajeto.

A atitude do motorista em não prestar auxílio à vítima, aliada à versão veiculada de que o vigilante morreu devido ao tiro na cabeça, revoltou os familiares. "A empresa está acobertando fatos, pois cometeu erros. O que aconteceu foi um assassinato e não uma fatalidade", desabafou a ex-mulher da vítima, Mabel Tevah. Acompanhada por um dos filhos de João, Jesse Barbosa, que também é vigilante, ela disse que a TGV está tratando a situação com descaso. "Só soubemos que o meu pai morreu devido ao atropelamento, porque corremos atrás de detalhes da ocorrência", alertou Jesse.

A família deseja que a verdade venha à tona. "Queremos que a história sobre o atropelamento e a omissão de socorro sejam divulgadas.

Na ocasião houve uma série de erros. Os órgãos competentes como Detran e Diretran não foram comunicados sobre o fato, exatamente porque a TGV quer encobrir o motivo da morte. Eles manipulam informações", acusa a ex-mulher.

Sem assistência à família

A única assistência prestada pela empresa à família de João Barbosa, até o momento, foi providenciar o enterro. Sobre o recebimento de seguro, Mabel disse que a TGV não dá uma posição clara e afirma que "está vendo". A empresa não assume culpa no episódio e o trata como uma fatalidade. A norma das empresas de vigilância de, em caso de assalto não permanecer com o carro-forte no local, também foi criticada. Conforme Mabel, no momento do atropelamento não havia necessidade do veículo sair em disparada. "Faltou companheirismo", protestou o filho.

A empresa TGV foi procurada, mas até o final da tarde os responsáveis não atenderam aos telefonemas. Segundo a secretária, Nogueira e Simas, que seriam os diretores, não poderiam atender. O primeiro por estar em viagem e o segundo por estar numa reunião que durou do início da tarde até a noite.

Sindicato mobiliza Ministério Público

A família está sendo auxiliada pelo Sindicato dos Vigilantes de Curitiba. Sobre a eventual norma das empresas de transporte de valores de "em caso de assalto não permanecer com o carro-forte no local", o sindicato informou que já entrou com uma ação no Ministério Público, para que essa atitude não seja mais adotada e assim possam ser evitadas mais mortes ou acidentes com vigilantes.

O presidente do sindicato, João Soares, confirmou que os motoristas recebem treinamento especial e que em casos de roubo a ordem é retirar o carro-forte da situação de risco. Segundo ele, não há no país um caso de morte de vigilante nesse contexto. "É um caso único", assegurou.

Em suas declarações à polícia, o motorista afirmou que saiu com o carro-forte por decisão própria e que não teria arrancado se soubesse que seus colegas estavam escondidos embaixo do veículo.

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