Idosa presa por crime cometido em 1979

Sem a dentadura, ainda de pijama e saboreando seu chimarrão matinal, a cozinheira aposentada Geny Coelho, que completa 80 anos dia 26, foi surpreendida ontem pela polícia. Investigadores da Delegacia de Vigilância e Capturas (DVC) a procuraram em casa, na Fazendinha, para cumprir um mandado de prisão, decretado em 12 de setembro de 1991, pelo então juiz da 1.ª Vara do Tribunal do Júri, Valdomiro Nabur, agora desembargador do Tribunal de Justiça. O mandado se refere a um assassinato ocorrido em novembro de 1979 e a ordem de prisão partiu do juiz Fernando Ferreira Moraes, do Tribunal do Júri.

“Os policiais foram bonzinhos, me deixaram trocar de roupa e colocar a dentadura. Não me algemaram nem me colocaram no camburão”, contou a aposentada, que deve passar o fim de semana na cadeia do 9.º Distrito (Santa Quitéria), apesar de o crime estar prescrito, segundo informou seu advogado, Maurício Barbosa dos Santos. “A prescrição para crime de homicídio é de 20 anos. Pela idade da dona Geny, a prescrição reduz para a metade, ou seja, dez anos, e venceu em 2001”, explicou o defensor.

Procurado pela Tribuna, o juiz Fernando Ferreira de Moraes informou que, com a ajuda de estagiários, está revisando processos que estavam paralisados há anos. “Em tese não estaria prescrito o processo da Geny Coelho”, enfatizou o juiz. Ele lembrou que já ocorreu um caso de um acusado de homicídio ser preso dez anos depois do crime, ficar recolhido um ano e depois ser absolvido.

O juiz ressaltou que irá analisar o caso de Geny, mas devido a infinidade de processos que tem em mãos, não poderia dar uma definição imediata para o caso. Ele concedeu a entrevista em um pequeno intervalo de um julgamento que ocorria na tarde de ontem.

Prisão

Apesar de passados 24 anos, Geny alega que é inocente e nunca tirou a vida de ninguém. Ela não lembra o nome da vítima. “Era um rapaz. A namorada dele, a Sebastiana, foi quem o matou. Mas ela tinha dinheiro, pagou dois advogados fortes e fugiu para a Bahia. Eu não tinha nada e acabei sendo presa no mesmo mês”, contou. Com papéis antigos na bolsa, ela exibiu um documento da Justiça na data de sua prisão, dia 29 de novembro de 1979. “Foi 15 dias depois do crime e fiquei presa em Piraquara durante três anos”, recordou. Outro papel mostra que o julgamento dela foi no dia 19 de outubro de 1982, sendo condenada a uma pena de um ano e dez meses. “Paguei minha pena. Comprei uma gaveta no cemitério de União da Vitória, pensei que ia para lá. Chega a polícia e me trás de volta pra cadeia”, comentou a mulher.

Tranqüila e com ar de cansada, Geny disse que não sabe direito o que está fazendo no xadrez. “Já fui absolvida há 23 anos. Sou querida pelos vizinhos. Acho que alguém que não gosta de mim me denunciou”, afirmou.

Crime chocou a opinião pública em 1979

A Tribuna pesquisou em seus arquivos e apurou que a anciã Geny Coelho foi acusada de um assassinato que chocou a opinião pública em 1.979. O crime ocorreu no dia 13 de novembro e a vítima, Alcides Razera de Freitas, 17 anos, foi assassinada com três tiros – em uma casa na Vila Izabel. Depois do crime, o corpo foi levado até Colombo e foi carbonizado em um matagal.

Segundo reportagem da época, ao ser presa, Geny confessou que atirou cinco vezes contra Alcides, informando também que ele era seu amante, apesar da gritante diferença de idade entre os dois. Três dos disparos acertaram o jovem. Em seguida, com a ajuda de duas filhas, a mulher colocou o cadáver em uma Brasília e o levou até o matagal, onde o queimou.

Policiais que trabalharam na Delegacia de Homicídios, no final de 1979, apuraram o caso rapidamente com o auxílio de uma mulher chamada Sebastiana das Dores, que hoje Geny acusa de ser a autora do bárbaro assassinato.

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