Foguetório em morte de menores na Vila Torres

A Vila Torres está em festa desde a noite de domingo. Intensas queimas de fogos de artifício foram ouvidas durante a segunda-feira e manhã de ontem. A comemoração é porque a população está se sentindo mais segura com as mortes de  dois adolescentes, de 15 e 16 anos, assassinados a tiros no domingo.

Moradores locais denunciaram que os garotos aterrorizavam a região, impondo toque de recolher, fazendo ameaças e atirando até em quem nada tem a ver com a guerra das gangues de Cima e a de Baixo.

Um morador local, que não quer ser identificado, contou que ninguém podia ficar na rua até tarde. Caso contrário, corria o risco de ser baleado. Esse morador já viu vários amigos e conhecidos serem atingidos por balas, felizmente, a maioria de raspão. Os garotos não davam sossego a ninguém do lado de baixo da Vila, muito menos aos do lado de cima, onde moravam.

A escalada diária da violência no local fez os moradores perderem a paciência. Encorajados pelas mortes dos garotos, alguns estão se organizando para denunciar as coisas erradas da vila. A comemoração com queima de fogos foi a primeira manifestação de uma população saturada da desenfreada criminalidade.

Fuzilaria

Denúncias dão conta que os adolescentes seriam autores da fuzilaria em um campo de futebol da Vila Hauer, que matou dois rapazes e feriu outras sete pessoas. O crime ocorreu em 25 de julho, durante uma partida amistosa entre o Expresso Azul e o Boca Júnior.

Quatro marginais armados pularam o muro do Estádio José Germano da Costa e atiraram em torcedores do Boca. Carlos e Tiago seriam dois, dos quatro atiradores. A informação foi recebida ontem pela Delegacia de Homicídios (DH), que a está averiguando.

Morreram Claudenir dos Santos Sauer, o “Niti”, 14 anos, e Luís Fernando Clóvis da Silva, o “Coquinho”, 15. Foram baleados Adenir dos Santos Sauer, 18, irmão de “Niti”, Luiz Antônio Carlos da Silva, 20, Marco Santos Rodrigues de Campos, 19, Roberto Aparecido de Oliveira, 22, Alex Júnior do Nascimento, 18, e mais dois adolescentes.

O caso começou a ser investigado pelo 7.º Distrito Policial (Vila Hauer), que chegou a prender envolvidos com a gangue de Cima, a que pertenciam os garotos mortos domingo.

Esquecidos pelas autoridades

O dia 28 de fevereiro de 2005, uma segunda-feira, foi um marco na história da Vila Torres, que tempo antes, era mais conhecida como Vila Pinto. Naquele dia, moradores acordaram com a presença de 700 policiais civis e militares em cada esquina, numa operação que tinha o objetivo de mudar as estatísticas do crime por ali e durou três dias.

Mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos. Até mesmo uma delegacia móvel foi levada até lá, para dar agilidade no processamento de ocorrências e detidos.

Depois disso, uma volumosa quantidade de policiais circulou por lá mais algumas semanas. A paz reinou algum tempo e a vila saiu do noticiário sobre homicídios e ação dos “quebra-vidros”.

A tranqüilidade durou pouco tempo. Meses depois, as coisas voltaram ao que era antes e as gangues tomaram conta. Alguns policiais “durões” que entraram na favela sem medo naquela época, hoje relatam que não há mais qualquer segurança em patrulhar a vila.