Esporte ressocializa os presos da Colônia Penal

Ressoacializar o preso através do trabalho e do esporte, dando uma chance para que ele tenha uma profissão ao alcançar a liberdade, tem sido uma das principais metas da Colônia Penal Agrícola (CPA) do Paraná. Situada em uma ampla área verde, próxima da Penitenciária Central do Estado, em Piraquara, a unidade prisional permite o cumprimento de pena em regime semi-aberto e se diferencia de todas as demais existentes no Estado.

Ela é praticamente auto-suficiente, pois produz a própria comida e permite a instalação de fábricas dos mais diversos setores em suas dependências, para que a mão de obra do apenado seja aproveitada. Criada há 60 anos, nos últimos dois anos a CPA tem mudado radicalmente o seu perfil. Antes era voltada somente à agricultura, conforme sugere o próprio nome, e a criação de animais. Hoje, porém, ela está muito mais industrial, abrigando fábricas diversas, cujos proprietários, em parceria com o Fundo Penitenciário e a Secretaria de Estado da Segurança Pública, usufruem do trabalho do preso com regalias que vão desde a redução de impostos até isenção de pagamentos de luz, água ou aluguel.

“Os convênios são simples e todos saem ganhando”, ressalta Lauro Luiz de César Valeixo, diretor da CPA. Empolgado, ele conta que todas as fábricas instaladas têm excelente produtividade e seus proprietários estão satisfeitos. “Ainda temos uma área livre de cerca de cinco alqueires para abrigar novas fábricas e todas são bem vindas”, salienta.

Atrevimento

A idéia de industrializar a Colônia Penal, que no começo pareceu atrevida, foi dando certo na medida em que empresários e industriais passaram a acreditar na proposta e despiram-se de preconceitos. Antigamente, os presos que por ali passavam tinham mais intimidade com a agricultura. Muitos eram oriundos do interior. Hoje, no entanto, a maioria é da capital e da Região Metropolitana e poucos sabem lidar com a lavoura. “Precisávamos encontrar uma forma de ocupar esse pessoal e, ao mesmo tempo, profissionalizá-los. Dar uma nova chance a eles e devolver pessoas melhores à sociedade”, diz Valeixo.

Aos poucos, o trabalho foi dando certo. Primeiro uma fábrica de bolas de couro e outra de redes esportivas. Mais tarde uma para fabricar botões e mais uma para produzir embreagens. E dessa forma, dos 940 internos da Colônia, somente 31 não estão trabalhando. Alguns porque não querem fazer nada mesmo e outros porque estão doentes. “Esse índice é muito bom e queremos ainda melhorá-lo, por isso continuamos a convidar os empresários para que invistam aqui e montem filiais de suas fábricas dentro da CPA. Até o fim do ano deveremos estar com cerca de mil apenados e queremos dar trabalho a todos”, explica Valeixo.

Qualquer coisa

A última indústria a integrar o Centro de Capacitação Profissionalizante da CPA, como é chamado o programa de industrialização, foi Sinuelo -Genética e Tecnologia Agropecuária Ltda., que produz no local pré-moldados e modulados de concreto. Um dos sócios, Givanildo Ferrarini, garante que a iniciativa deu certo. “Eles aprendem rápido e se dedicam ao máximo. Tem gente que produz manilhas de 500 quilos dando risada”, comenta o empresário.

Um soco para a liberdade

Mara Cornelsen

Lutar por um lugar ao sol. Mas lutar mesmo. Calçar as luvas e ganhar o campeonato municipal de boxe Luva de Prata, que vai ser disputado no dia 7 de dezembro, na Praça Osvaldo Cruz, em Curitiba, é o sonho de Michael Antoni Laurentino da Costa, de 27 anos, 1,86 metro de altura e 88 quilos. Na categoria peso pesado, ele é a sensação do ringue existente na academia de boxe montada na Colônia Penal Agrícola, graças a um convênio com a Secretaria Municipal de Esportes.

Condenado por crime de extorsão, Michael não quer falar sobre o passado e concentra suas energias no trabalho e no esporte. “Se Deus quiser, vou ter uma nova oportunidade de vida e recomeçar com confiança”, garante o rapaz. Cerca de outros 50 apenados treinam também na academia que leva o nome do professor Rubens Sam. Com 62 anos de idade e 50 deles dedicados ao boxe, Rubens vai todas as tardes para a CPA, dar aulas e treinar seus pupilos. Dono de uma energia invejável, o professor também ensina o esporte na Praça Osvaldo Cruz e em outra academia montada recentemente no Bairro Novo, em Curitiba. “No Paraná, esta academia da Colônia é a melhor”, diz ele, enquanto arranca gotas de suor dos rapazes durante os duros treinamentos.

A dedicação ao esporte é outro caminho encontrado pela direção da CPA para ocupar o tempo livre dos condenados e propiciar a ressocialização, que é o objetivo principal da unidade carcerária. Na Maratona de Curitiba, disputada no dia 17 de novembro, sete internos participaram, após muitos meses de treinamento. E o velho e bom futebol também faz parte do dia a dia, com torneios internos e disputas com times convidados. Recentemente, o Malutrom esteve na Colônia e goleou o time da casa, vencendo por 5 x 0. Outros torneios como de malha e bocha igualmente têm sido disputados.

Internos recebem benefícios

Mara Cornelsen

Além da Sinuelo, funcionam dentro da Colônia Penal Agrícola um braço da autarquia Paraná Esportes, a Auto Capas e Capotas Felipe, o Citpar, a empresa de Dalmir Brum Costa, a Diamantina Fossanese S.A., a Embreagens Record, a G.C. Indústria e Comércio de Móveis Ltda, o Iapar, e a Inter Trading Administração e Participação Ltda. Outros internos trabalham ainda no Departamento de Imprensa Oficial, no Departamento de Trânsito (Detran) e na Emater.

Todos os presos que trabalham recebem quase um salário mínimo e tem redução da pena: a cada três dias trabalhados diminui um dia da condenação. Eles usam uniformes dentro das fábricas, batem cartão ponto e são tratados como funcionários normais. O índice de indisciplina é zero. Todos zelam pelos seus empregos. “Aqui a gente tem uma nova chance na vida, então não dá para vacilar. Tem que caprichar muito”, comenta o rapaz que um dia já foi assaltante, mas que agora diz que seu destino é ganhar a vida trabalhando.

Por enquanto não há estatística sobre índice de reincidência de condenados que passaram pelo programa de capacitação da CPA, mas se sabe que o índice de fugas é de apenas 4% ao ano. Os presos tentam aproveitar ao máximo todos os cursos oferecidos e alimentam o sonho de nunca mais voltarem para a cadeia. Está em estudo também a assinatura de um convênio com a Secretaria de Estado da Criança para que a CPA comece a produzir 60 toneladas de verduras por ano, para fazer o sopão do Provopar.

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