Duas mortes na Rua Che Guevara

"Vale milhões de vezes mais a vida de um único ser humano do que todas as propriedades do homem mais rico da terra." Ironicamente, esta é uma das frases do revolucionário Che Guevara, cujo nome batizou uma das ruas do município de Araucária, palco para dois assassinatos apenas esta semana. Na noite de quinta-feira, Índio Mauro Gonçalves de Almeida foi assassinado a tiros em um bar, depois de pedir uma dose de cachaça. Na madrugada de segunda-feira foi Cristiano Cardoso, 18 anos, quem manchou a rua com seu sangue, ao ser executado e desovado dentro de uma valeta.

Eram 19h30, quando Índio chegou no boteco situado em meio aos casebres da Rua Che Guevara, Jardim Arvoredo. De acordo com o relato da proprietária do estabelecimento à polícia, ela estava fechando o bar quando Índio insistiu em beber uma dose de cachaça. Depois de servi-lo, a mulher foi para os fundos do comércio lavar alguns copos. Ela ouviu os estampidos e, ao retornar ao balcão, deparou com o cliente agonizando. Segundo o investigador Almir, o homem foi assassinado com dois tiros na cabeça que transfixaram seu rosto. A polícia ainda não tem pistas da autoria do crime. Quanto ao assassinato de Cristiano, o delegado de Araucária, Jairo Estorílio, informou que já identificou o autor.

Miséria

O delegado acredita que a única ligação que possa haver entre os dois crimes, além de terem acontecido na mesma rua, é o motivo: desentendimento por causa das drogas. "Geralmente os pequenos furtos, roubos, uso e comércio de entorpecentes são os estopins para os assassinados em regiões pobres", diz Estorílio. A área de invasão, que compreende o Jardim Arvoredo, é considerada uma das mais críticas do município, concentrando, junto com os bairros vizinhos, o maior índice de homicídios e lesões corporais graves de Araucária.

De acordo com o delegado, a invasão surgiu há cinco anos, e desde então ela cresce no mesmo ritmo que a pobreza. A desigualdade social é vista nos casebres construídos sobre as ruas de terra, unidos pelo emaranhado de fios que levam energia elétrica clandestina aos moradores. Estima-se que no Jardim Arvoredo vivam entre 5 e 10 mil pessoas, entre elas, muitos imigrantes de outras cidades, como Foz do Iguaçu, e estados, como o Mato Grosso do Sul.

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