DNA não esclarece caso Ewerton

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Exame  inconclusivo deixa a
família de Ewerton na dúvida.

A angústia dos pais de Ewerton de Lima Vicente Gonçalves, desaparecido há 14 anos, parece não ter fim. O Instituto de Criminalística divulgou, no último dia 23, o resultado dos exames de DNA em que foram analisados quatro crânios de crianças com a mesma idade de Ewerton, quando ele desapareceu, em 1988. Três deles deram negativo, uma vez que não foi encontrado nenhum vínculo biológico entre os ossos examinados e o sangue dos pais do garoto. Já a análise feita com o quarto crânio foi inconclusiva, pois não foi possível fazer a extração do DNA pela danificação do osso, o que faz perdurar a dúvida se o crânio pertencia ou não ao garoto misteriosamente desaparecido.

Em 2001, os pais do garoto, o oficial de Justiça José Vicente Rossini Gonçalves, 44 anos, e a dona-de-casa Eliane de Lima Gonçalves, 37, receberam a denúncia de que Ewerton havia sido encontrado morto no dia 16 de fevereiro de 1989, 53 dias depois do sumiço, em São Paulo. O menino estaria enterrado como indigente no mesmo Estado. A polícia deu início à busca dos ossos que poderiam ser do menino, os quais estavam misturados a outros 3 mil, no ossário de um cemitério paulista. Quatro crânios de crianças com a mesma idade de Ewerton – na época com 4 anos, foram separados e analisados pelo Instituto de Criminalística de São Paulo, o qual não conseguiu extrair o DNA de nenhuma das amostras.

No dia 22 de janeiro deste ano, os crânios foram enviados ao Instituto de Criminalística de Curitiba, e o perito criminal Hemerson Bertassoni, mestre em biologia molecular, deu início às analises no laboratório de genética molecular forense. Segundo ele, os exames só começaram a ser feitos em junho, quando o governo adquiriu o moinho criogênico, que é uma máquina própria para a trituração dos ossos que ficam congelados a uma temperatura de 192º negativos.

Tentativas

Segundo Bertassoni, foram feitas 28 tentativas para fazer a extração do DNA nos ossos. Cerca de um mês depois do início dos trabalhos, o perito conseguiu extrair o material genético de três crânios, os quais foram comparados com o do sangue coletado dos pais do garoto. O resultado da análise indicou não haver vínculo biológico entre eles, descartando a possibilidade de um dos três crânios pertencerem ao menino. "O filho leva a carga genética dos pais, por isso tem que haver compatibilidade nas moléculas de DNA dos três, o que não aconteceu", explicou Bertassoni.

Porém, o mistério perdura em relação ao quarto crânio, uma vez que o perito não conseguiu extrair o DNA da amostra. Segundo ele, foram utilizados diversos métodos, porém nenhum deles surtiu resultado. Depois de inúmeras tentativas, o que fez com que o exame demorasse quase seis meses para ser concluído, Bertassoni encerrou o laudo no último dia 23, onde afirmou que o exame foi inconclusivo. "É extremamente complicado conseguir retirar o DNA de um osso, pois a célula precisa estar viva para ser analisada e, como os crânios ficaram expostos ao sol, umidade, chuva e outros fatores externos, o matérial genético da molécula de DNA foi destruída", explicou o perito, justificando o resultado.

Outro fator que contribuiu para a demora na conclusão do laudo é o alto custo deste tipo de exame. Segundo Bertassoni, devido o valor dos reagentes usados, todos importados, o caso Ewerton custou R$ 35 mil para o Estado.

Documento denunciou ossário

Os pais de Ewerton, assim como a polícia, acreditavam que o corpo do menino poderia estar no ossário depois que um documento chegou até o casal, em 2001. Eles receberam, anonimamente, a cópia de um laudo emitido pelo Instituto de Criminalística de São Bernardo do Campo (SP), o qual se referia à morte de um menino encontrado dentro de um saco, com sinais de espancamento, na vegetação à margem do quilômetro 36 da Rodovia dos Imigrantes, naquela cidade do ABC paulista. O corpo encontrado apresentava hematomas e escoriações, principalmente no tórax e na cabeça, e sinais de queimadura provocada por cigarro. A causa da morte foi traumatismo craniano. Outro indicativo que liga o corpo a Ewerton é o saco de ráfia que o envolvia, com o logotipo da empresa Frangosul – que à época tinha uma filial a uma quadra de distância da casa de Everton.

Pelas fotos enviadas, nas quais o rosto aparece com nitidez, e pelas características do cadáver, os pais não tiveram dúvida em afirmar que a criança era Ewerton. Apesar das evidências, faltava a prova oficial e, dois anos depois, os pais se submeteram a um exame de DNA em São Paulo. A longa demora deveu-se à burocracia e pelo fato de a polícia ter que separar os ossos em meio ao ossário de um cemitério paulista.

Apesar do casal ter certeza de que o laudo enviado referia-se ao garoto, os resultados dos exames de DNA não puderam solucionar a dúvida. Com isso o caso continuará a ser investigado.

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