A rápida e correta atitude de uma jovem, que ao se sentir ameaçada ligou para a Polícia Militar, fez com que um suspeito da prática de violência sexual contra mulheres fosse preso na noite de segunda-feira. O homem, que se identificou aos PMs como Márcio Aurélio Gonçalves Silva dos Santos, 29 anos, conhecido por “Tyson”, foi preso após invadir o terreno de uma residência na Vila Hauer, e tentar abordar a moradora.
O detido foi encaminhado à Delegacia da Mulher, onde deu aos investigadores nome diferente daquele dado aos PMs. Como ele não possui documentos, a polícia tenta agora descobrir sua verdadeira identidade para que, em seguida, seja dado início à fase de reconhecimento por eventuais vítimas. Se o homem for o suspeito que era procurado pela polícia, ele vem agindo em casos de violência sexual desde 1997. Segundo a PM, ele teria molestado uma menina de 13 anos, em 2003, e estuprado outra garota, em julho de 2002.
Golpe
Na noite de anteontem, a vítima – uma promotora de eventos, de 22 anos – contou que estava sozinha em casa, preparando o jantar, quando ouviu alguém bater no portão. Ela foi até a janela ver quem a chamava e notou a presença de um homem parado, que falava algo que não conseguia compreender. A jovem se aproximou do rapaz, que disse ter uma encomenda para entregar. “Márcio” (nome não confirmado) mostrou uma tesoura embalada e disse que a mãe da jovem a havia encomendado no sábado e que ele precisava receber o dinheiro. Desconfianda da situação, a promotora de eventos tentou despistar o falso vendedor. “Fiquei longe do portão e menti. Disse para ele ir até um restaurante próximo dali, onde meus pais estariam jantando”, contou.
Não satisfeito, “Márcio” insistiu em saber a que horas os pais dela voltariam e disse que precisava de uma declaração para justificar ao chefe porque não recebeu o dinheiro referente à venda do produto. Com a desculpa de que iria escrever a justificativa, a jovem entrou em casa e ligou para a polícia. Enquanto contava o fato à Central de Comunicação da PM, ela viu, através da janela, Márcio pular o portão. “A sorte foi que a porta estava trancada e a minha cachorra avançou nele. Quando percebeu que eu estava falando no celular, ele saiu correndo”, disse.
Prisão
Com a descrição física do suspeito em mãos, o cabo Oliveira e o soldado Edson, do Regimento da Polícia Montada (RPMont), foram até a casa da promotora de eventos, mas, no caminho, avistaram o rapaz em uma rua próxima ao local indicado. Apesar de ser preso com a tesoura, ele negou a versão da moça e as acusações de estupro. “Tenho quatro filhos, um deles acabou de nascer, nunca estuprei ninguém”, disse, alegando estar indo treinar em uma academia da região. O rapaz, que diz ser professor de artes marciais, foi encaminhado à Delegacia da Mulher.
Reconhecimento
A delegada Darli Rafael, responsável pela especializada, informou que ainda é muito cedo para afirmar se o detido é responsável pelos crimes a ele imputados. “Vamos realizar a identificação oficial dele para que depois sejam iniciados os reconhecimentos”, informou a policial. Pelo modo de agir, é bem provável que ele seja o autor de crimes contra mulheres.
Na Delegacia da Mulher, “Márcio” repassou outro nome aos policiais, numa tentativa de atrasar e dificultar o levantamento de informações sobre sua vida. A delegada Darli pede às pessoas que reconheçam o detido pela fotografia, que entrem em contato com a Delegacia da Mulher pelo telefone 223-5323. Segundo a polícia, é importante que as vítimas vençam o medo e a vergonha e compareçam à delegacia.
Segundo a PM, suspeito já teria antecedentes
De acordo com informações da Polícia Militar que realizou a prisão, o acusado já teria antecedentes pelo mesmo crime. Um retrato falado feito em julho de 2002, registrado pelo 7.º DP (Vila Hauer) por uma vítima de estupro, coincide com as características físicas do rapaz. No documento, consta que o suspeito possui várias tatuagens pelo corpo e que abordou a vítima argumentando ter uma tesoura para entregar. Mesma história contada por “Márcio”.
Logo após a prisão, a família de uma das supostas vítimas do detido foi comunicada e compareceu ao quartel da Polícia Militar. A adolescente de 13 anos (vítima) reconheceu “Márcio” como o homem que a obrigou a prática de atos obscenos em fevereiro do ano passado. O avô da garota, que a acompanhou até a PM, explicou que a vítima estava sozinha em casa, no Alto Boqueirão, quando “Márcio” apareceu e contou à adolescente a “história da tesoura”.
A garota pediu para que ele esperasse até que a “venda” fosse confirmada. Enquanto ela ligava para a avó, “Márcio” invadiu a casa, amarrou a adolescente e a obrigou a praticar atos obscenos. O estupro só não ocorreu porque a vítima disse que a mãe estava para chegar. O tarado fugiu levando um videocassete e um aparelho de som.
Apesar dessas informações obtidas pela PM, a delegada Darli não confirmou nenhum desses casos. Até o momento, o rapaz foi detido por violação de domicílio, mas continua preso até que sua identidade oficial seja revelada e que boletins de ocorrência registrados em outras delegacias com o mesmo teor de acusação (violência contra mulheres) sejam averiguados.