Delegados questionam a segurança no Paraná

A política de segurança pública utilizada pelo governo do Paraná está, em sua maior parte, equivocada. A afirmação é a síntese da Carta do Paraná. O documento, divulgado ontem, foi confeccionado durante o 1.º Encontro de Delegados da Polícia Civil, realizado em maio em Cornélio Procópio. Na carta, os delegados questionam a falta de treinamento e a infra-estrutura da Polícia Civil, seu efetivo reduzido, a utilização errada dos recursos repassados através do Plano Nacional de Segurança Pública, além de demonstrarem-se favoráveis a unificação das polícias.

Conforme os quatorze itens do documento, que deveria ser entregue ao governador Jaime Lerner, a Polícia Civil no Paraná está numa situação bem diferente daquela que o governo do Estado tenta passar à população. “Convidamos o secretário Tavares para participar do encontro. Ele se recusou a discutir os problemas da polícia junto aos delegados, por isso, resolvemos fazer com que o Estado tome conhecimento da carta através da imprensa”, afirmou o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Paraná (Adepol), Fauze Salmen. Ele explicou que existe um discurso político no Paraná dizendo que a segurança vem sendo bem tratada, todavia a realidade é outra. “O Paraná, proporcionalmente, é o Estado com o menor número de policiais civis do Brasil. Temos um policial para cada 6.638 habitantes, enquanto o ideal seria um policial para cada 800 pessoas. Muitos municípios não têm delegados próprios, obrigando um delegado a responder por seis ou sete cidades”, denunciou Salmen. Ele afirmou que a carta pede a desvinculação do Departamento Penitenciário (Depen) da Secretaria da Segurança Pública, pois, segundo o delegado, os recursos estão sendo usados para construir penitenciárias e não para equipar e treinar a polícia.

Política

Conforme o vice-presidente da Adepol e ex-delegado chefe da Polícia Civil, João Ricardo Noronha, a carta dá ao governo subsídios para que ele faça uma política clara de segurança. “Estamos dando a mão à palmatória. Mesmo sendo responsáveis pela segurança do Estado, estamos revelando o estado crítico pelo qual passamos. Queremos que o governo pare de jogar essa cortina de fumaça e fale a verdade à população”, afirmou Noronha.

Segundo o ex-delegado operacional da Delegacia de Homicídios de Curitiba, Carlos Bacila, existem bairros de Curitiba onde o índice de violência é, proporcionalmente, 60% maior do que em São Paulo. “Temos que fazer algo antes que essa situação se estenda por todo o Estado”, afirmou.

Normal

O delegado chefe da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, afirmou que a manifestação por melhores condições de trabalho não é nada anormal. Todavia, Ribeiro não concorda com muitas das explanações feitas pelos delegados. “Muita coisa já foi feita, mas concordo que muita coisa ainda deve ser realizada pela segurança pública. Todavia, não se pode resolver tudo num piscar de olhos, leva algum tempo”, disse o delegado-chefe, destacando que na questão da falta de efetivo, ele foi favorável a um aumento há vinte anos, quando era um delegado comum. “Na época não quiseram, agora, como há vinte anos, eu sei da necessidade, mas para a contratação temos que obedecer o que diz a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)”, completou Ribeiro.

Segundo recentes levantamentos feitos pelas polícias Civil e Militar, o Paraná conta hoje com 4 mil policiais civis, mas o efetivo ideal deveria ser de 12 mil, enquanto a PM tem 18 mil – efetivo de 12 anos atrás – e deveria ter hoje cerca de 25 mil.

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