Delegado se diz “boi de piranha”

O delegado Gerson Machado, titular da delegacia de Pinhais, citado em uma conversa entre o advogado Antônio Pelizzetti e o bicheiro Fúlvio Martins de Oliveira, que foi gravada pelo próprio Fúlvio e entregue ao Ministério Público, entrou em contato com a Tribuna, para esclarecer que não tem nenhum envolvimento com o “suposto” pedido de propina feito pelo advogado. “A maior prova disso são as investigações que estão anexadas em três inquéritos policiais, que estão na Justiça, onde indiciei o Fúlvio e outras pessoas. Além disso, pedi quebra de sigilo bancário, telefônico, arresto e seqüestro de bens dos bicheiros”, salientou. “Estou sendo usado como boi de piranha”, disse, figurativamente.

Machado acredita que a fita é mais uma manobra de Fúlvio para desmoralizá-lo, já que ele e o investigador Aleardo Righetto são testemunhas de acusação, que serão ouvidas no Tribunal do Júri no julgamento de Otaviano Sérgio de Macedo, o “Serginho”, que deverá ser realizado na primeira quinzena do mês de novembro. Ele salienta que quem deve explicar a gravação da fita à Justiça é o advogado Antônio Pelizzetti e o próprio Fúlvio. “Eles são envolvidos de longa data. O Pelizzetti advogou para o Fúlvio por muito tempo. Depois, a mulher do Fúlvio separou-se dele e foi morar com o Pellizzeti. Os dois romperam relações por um período. Agora, a atual mulher do Fúlvio (Karina Pelizzetti) é sobrinha do advogado”, contou o delegado.

Investigações

Machado lembrou que as investigações sobre o assassinato do bicheiro Almir José Solarewicz, executado com sete tiros na noite de 20 de setembro de 2000, no Centro Cívico, foram iniciadas pela Delegacia de Homicídios, sob o comando do delegado Fauze Salmen. Dias depois, foi preso Otaviano Sérgio de Macedo, mas devido à lei eleitoral ele foi solto, já que era época de eleição e só poderiam ser presas as pessoas que estivessem em flagrante delito, e o acusado estava com mandado de prisão decretado. Aproveitando a brecha eleitoral, “Serginho” fugiu para os Estados Unidos e foi preso mais de um ano depois, quando retornou ao Brasil para visitar familiares.

O delegado Gerson Machado começou a trabalhar no caso do bicheiro por acaso, quando investigava notas fiscais “frias” de uma empresa, acusada de participar de licitações de forma fraudulenta, em 2002. Nesta época, chegou no 6.º Distrito Policial (Cajuru), no qual Machado era o delegado titular, denuncia de que Fúlvio estaria envolvido na morte de um português, no início da década de 90, sendo que “Serginho”, o irmão dele, “Macedinho”, um homem conhecido como “Boi” e outro como “Luizão” seriam os autores do assassinato. “Indiciei todos em inquérito policial, inclusive o Fúlvio. O inquérito foi para a Promotoria de Investigação Criminal (PIC), que denunciou três dos acusados e arrolou Fúlvio como testemunha de acusação.

Policial

Machado continuou as investigações e apurou que Fúlvio era o mandante da morte do investigador da Polícia Civil Roberto Spósito. “Foram mais de 1.500 páginas, apontando estas pessoas como criminosas”, salientou o delegado. Ele lembrou que, na ocasião, o advogado de Fúlvio era Ronaldo Botelho. “Ele nunca compareceu no escritório para ver o inquérito, mas mandou outro advogado. Depois eles foram até a Divisão de Policiamento da Capital, na época, e pediram para eu parar com as investigações. Fui chamado e disse que se quisessem colocar outro delegado, não iria me opor”, salientou Machado, lembrando que fatos apurados no inquérito foram divulgados pela Tribuna.

O delegado disse, ainda, que além de indiciar Fúlvio pelos assassinatos do português e de Spósito, o indiciou no inquérito das notas fiscais e entregou à Justiça um dôssie sobre a cooperativa do jogo do bicho. “Na época, eu intimei a mulher e o filho do Almir para depor. O advogado Cláudio Dalledone Júnior esteve na delegacia e gravou toda a conversa, depois apresentou os clientes dele por achar que a minha investigação era séria”, salientou Machado. Ele lembrou que, tanto a mulher como o filho de Almir apontaram, como mandantes da morte dele, os bicheiros Fúlvio Martins de Oliveira e Francisco de Castro Feitosa, o “Chico Feitosa”. O motivo, de acordo com os parentes da vítima, foi a cooperativa do bicho, da qual Almir era sócio, mas vendeu sua parte para os dois bicheiros e entrou no ramo das máquinas caça-níqueis. Como o negócio começou a render muito dinheiro e a renda do bicho teve uma queda, Fúlvio e Feitosa teriam mandado executar Almir. Ainda de acordo com as investigações, realizadas pelo delegado Gerson Machado, o ex-sargento Mandragon, da Polícia Militar, e mais dois homens (identificados no inquérito) participaram da execução. “O ex-sargento foi ouvido. Coincidentemente, a advogada dele é a doutora Dirce, filha do bicheiro Fúlvio e casada com o irmão do Serginho”, contou Machado. O resultado foi que Dirce denunciou Machado à Corregedoria da Polícia Civil.

Sigilo

Ele ressaltou que, na época, pediu a quebra do sigilo telefônico e da conta bancária de Almir e dos acusados. “Estranhamente, a Justiça não concedeu”, lamentou, dizendo que surgiram boatos de que ele havia recebido dinheiro do jogo do bicho e os três inquéritos foram encaminhados para correição na Corregedoria da Polícia Civil, então comandada pelo ex-delegado-geral Adauto Abreu de Oliveira. “Se tivesse alguma coisa errada eu estava na cadeia”, afirmou. Ele disse, ainda, que não chegou a concluir os inquéritos que apontam os bicheiros como criminosos porque foi transferido do 6.º Distrito para a Delegacia de Furtos e Roubos. O delegado também não sabe informar o que foi feito posteriormente. “Coincidentemente, acabei prendendo o irmão do Almir por falsificação de moeda. Os advogados do bicheiro estiveram no xadrez, visitando-o”, denunciou.

Assistente de acusação defende policial

O advogado Cláudio Dalledone Júnior, que funcionará como assistente de acusação no julgamento de Otaviano Sérgio de Macedo, o “Serginho”, disse crer que a fita entregue pelo advogado de Fúlvio e do próprio “Serginho”, Edson Aparecido Stadler, ao delegado Miguel Stadler (são irmãos) é uma manobra da defesa para desmoralizar suas testemunhas.

Dalledone confirmou que quando soube da retomada das investigações sobre a morte de Almir José Solarewicz e que a mulher da vítima, Ivana e o filho Marco, havia sido convidados para prestar depoimento no 6.º Distrito (Cajuru), pelo delegado Gerson Machado, foi conversar com o policial e gravou toda a conversa. “Acreditei que era uma investigação séria e levei meus clientes para prestar depoimentos. Inclusive gravei os depoimentos e constatei que realmente o delegado queria elucidar o caso”, disse Dalledone.

Promotoria Criminal envia nota de esclarecimento

Em razão da matéria publicada nesta sexta-feira, 15 de outubro, no jornal Tribuna do Paraná, sob o título “Negociando com a morte”, a Promotoria de Investigação Criminal (PIC) de Curitiba esclarece que a fita cassete citada pela reportagem estava desde agosto de 2003 em posse do delegado de polícia Miguel Stadler, lotado no NURCE (Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos), e só foi devolvida ao Ministério Público – após inúmeras ligações e ofícios solicitando a restituição – no final de setembro passado, juntamente com vários outros documentos e procedimentos pertencentes à Promotoria. O último ofício encaminhado ao delegado, inclusive, também foi remetido à Corregedoria da Polícia Civil. O coordenador da PIC, promotor de Justiça Luís Eduardo Silveira de Albuquerque, que em 2002 protocolou a denúncia contra Otaviano Sérgio Carvalho Macedo, o “Serginho”, e abriu procedimento investigatório para a apuração de notícias de outros envolvidos no caso, informa que a Promotoria não tem qualquer interesse em protelar a apuração do assassinato de Almir José Solarewicz.

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