Crianças também sofrem com a violência no Brasil

Além de adultos e adolescentes, as crianças também estão sofrendo com as conseqüências da violência que assola o Brasil. Por dia, duas crianças são internadas em hospitais brasileiros em virtude de lesões ocasionadas por armas de fogo, segundo dados do Ministério da Saúde. O Hospital Cajuru, um dos prontos-socorros que atendem baleados em Curitiba, trata em média entre duas e três crianças (0 a 14 anos) nestas condições por mês.

O médico cirurgião pediátrico Jarbas Valente, integrante do Centro Trauma Pediátrico do Hospital Cajuru, explica que o número de atendimentos de crianças baleadas é assustador. ?Se considerarmos os outros pronto-socorros da cidade, teremos entre 90 e 100 crianças baleadas nos últimos dois anos. E este número está crescendo progressivamente?, afirma. O Cajuru atendeu 29 crianças baleadas em 2003 e 24 em 2004. Neste ano, dois casos foram registrados até fevereiro.

Para ele, o aumento da violência social e dos núcleos de pobreza é o principal fator para que as crianças estejam sendo atingidas por armas de fogo. ?Não é comum isto acontecer nesta faixa etária. A grande maioria dos casos está relacionado com bala perdida ou com violência interpessoal, principalmente nas periferias?, comenta.

Os ferimentos de armas de fogo também são ocasionados dentro de casa. As crianças, naturalmente curiosas, pegam as armas dos pais, que deveriam estar escondidas, e começam a brincar. Não têm noção do que aquela atitude pode resultar e não sabem que a arma está carregada. ?A criança é curiosa e vai mexer. Ela não sabe se é de brinquedo ou de verdade. Os acidentes domésticos podem corresponder entre 10% a 15% dos casos de crianças baleadas?, relata. Ele orienta os pais a não terem armas dentro de casa. Se isto não for possível, deve ficar fora do alcance das crianças e sempre travada e sem balas.

O médico informa que 30% dos atendimentos deste tipo são casos graves, quando as balas atingem tórax, abdômen e crânio. ?As crianças possuem uma resposta melhor ao tratamento. Resistem mais do que os adultos, com maiores chances de sobreviver. Mas seus órgãos e sistemas podem não estar desenvolvidos completamente, o que causa um maior número de seqüelas?, expõe.

Apesar dessa resistência física, as crianças têm mais chances de adquirir traumas psicológicos. De acordo com Valente, elas ainda não possuem condições para enfrentar uma situação de violência como os adultos. ?O trauma psicológico pode ser maior do que o físico, levando isso para o resto de suas vidas?, enfatiza.

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