Corpo de homem utilizado no golpe do seguro foi exumado

A suposta venda do cadáver de um indigente, para aplicar golpe em uma seguradora norte-americana pode ser o fio da meada para um esquema de corrupção no Instituto Médico-Legal. ?Estamos bem próximos de desbancar uma quadrilha que age dentro do IML.

Temos certeza que outras pessoas serão presas?, completou o delegado Sérgio Inácio Sirino, do Núcleo de Repreensão a Crimes Econômicos (Nurce).

Ontem, foi feita a exumação do corpo enterrado como sendo de Mércio Eliano Barbosa, 28 anos, preso pelo Nurce. O papiloscopista João Alcione Cavalli, suspeito de receber R$ 30mil para cuidar da liberação do cadáver, foi detido na terça-feira.

Identificação

A restauração dentária no molar direito da arcada inferior, é o principal indício de que o cadáver exumado ontem seja de Marcelo Alves, 25 anos, filho da zeladora Vanda Alves, moradora na Vila Verde, Cidade Industrial. Legistas devem confirmar a identificação, para dar continuação ao inquérito que apura a possível venda de cadáveres no Instituto Médico-Legal (IML).

Dentro de dez dias deve sair o resultado do confronto de exames de DNA do cadáver e de Vanda Alves. O corpo deu entrada no IML em 3 de julho de 2007 e foi enterrado 23 dias depois, com o nome de Mércio.

Segundo o delegado Sirino, é fundamental identificar o corpo para que o Nurce defina uma linha de investigação. ?Já sabemos que não é o Mércio que estava enterrado, mas precisamos identificar se realmente é o Marcelo Alves e a forma como ele foi morto. O laudo diz que foi edema pulmonar, mas não descartamos a hipótese de que ele tenha sido vítima de uma morte violenta?. O laudo, realizado no IML, também passará por uma perícia, para verificar se não foi fraudado.

Esquema montado no exterior

Com a intenção de ganhar 1,6 milhão de dólares simulando a própria morte, Mércio Barbosa fez um seguro milionário em Nova York há três anos e, quando voltou para o Brasil, tratou de encontrar um cadáver para ser sepultado com a sua identidade. Para o plano, teria feito contato através do site de relacionamento orkut, com o papiloscopista João Alcione Cavalli, que receberia R$ 30 mil para cuidar dos trâmites internos no IML. A irmã de Mércio, Diana Barbosa, 20, reconheceu o morto como sendo seu irmão e fez liberação do corpo.

A seguradora acionou a polícia brasileira, que iniciou as investigações e também através do orkut, conseguiu descobrir o golpe. Cristian Andrade, que sabia da fraude, tirou um carro em seu nome para Mércio. ?Assim que a seguradora efetuasse o pagamento, ele seria ressarcido. Vamos continuar as investigações para entender todas as artimanhas desse golpe, também para prender outros responsáveis dentro do IML?, completou o delegado Sirino.

Mãe enganada e desorientada

Giselle Ulbrich

Foto: Átila Alberti

Vanda reconheceu o filho.

Com a voz embargada, a zeladora Vanda Alves, 55 anos, contou o Paraná-Online a triste história de seu filho, Marcelo Alves, que desde os 10 anos vivia fora de casa. Também descreveu a peregrinação pela qual passou tentando sepultá-lo. Enquanto aguardava autorização do juiz, para retirar o corpo do Instituto Médico-Legal (IML), soube que outras pessoas, que nem conhecia, o haviam liberado. Vanda ainda tentou saber o que estava acontecendo, mas não conseguiu e foi convencida a deixar as coisas quietas. ?Entreguei na mão de Deus?, relata a mãe, que só três meses depois foi descobrir onde Marcelo estava enterrado.

Quando o rapaz, prestes a completar 26 anos, morreu, em 3 de julho do ano passado, Vanda soube da notícia no mesmo dia por vizinhos, que escutaram o apelido dele, ?Treme-Treme?, numa rádio. Marcelo teria morrido de frio, já que preferia morar pelas ruas. A mãe foi ao IML e reconheceu o corpo. No entanto, como o rapaz não possuía carteira de identidade, apenas certidão de nascimento, Vanda precisou de autorização do juiz para liberar o cadáver. No fórum, a informaram que o processo duraria cerca de 30 dias. Antes desse prazo, em 26 de julho, soube que o filho havia sido liberado por um casal, que o reconheceu com outro nome.

Enganada

A zeladora não fazia idéia de quem era o casal, já que a liberação é autorizada apenas a parentes de primeiro grau e ela era a única que poderia fazer isso. Tentou pedir aos atendentes do IML o telefone ou endereço das pessoas que retiraram o corpo, para esclarecimentos, mas os funcionários alegaram que a informação era sigilosa.

Sem saber o que fazer, Vanda foi convencida pela irmã a esquecer aquilo. Passados três meses, recebeu a visita de representantes de uma seguradora, que depois de fazer algumas perguntas, lhe contaram que o corpo do filho dela poderia ter sido usado num golpe. A própria seguradora constatou a fraude e acionou a polícia.

A zeladora foi ouvida ontem à tarde, no Nurce. Suas declarações levaram a polícia a descobrir novos fatos, que podem nortear mais investigações e levar outros envolvidos à cadeia.

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